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Fabio Gouvea apresenta o seu sexto álbum da carreira solo: 'Decênio'

28 de Junho de 2019 às 22:33

Fabio Gouvea apresenta o seu ‘Decênio’ “Foi uma experiência nova e desafiadora fazer uma peça grande, assim, em formato de suíte”, diz Fabio Gouvea sobre “Decênio”. Crédito da foto: Rodrigo Fonseca / Divulgação

Diferentes sensações despertadas por lembranças de experiências vividas nos últimos dez anos são transformadas em belas e ricas melodias, harmonias e ritmos no álbum “Decênio”, o sexto da carreira solo do compositor e guitarrista sorocabano Fabio Gouvea, que acaba de ser lançado pelo selo Blextram.

O disco de música instrumental, que até meados de julho deve ser disponibilizado nas principais plataformas digitais, traz uma suíte com uma hora de duração, dividida em quatro movimentos, e se traduz possivelmente na obra mais densa e profunda de Gouvea até o momento -- ao lado de “Coletivo encarnado”, projeto liderado por ele que envolve dez músicos, incluindo um quarteto de cordas, e tem um CD de 2017 com apoio da Lei de Incentivo à Cultura de Sorocaba (Linc). “Não sei dizer se [‘Decênio’] é mais denso, mas gosto de me jogar e me aventurar em caminhos que ainda não tinha percorrido. Foi uma experiência nova e desafiadora fazer uma peça grande, assim, em formato de suíte”, comenta o músico ao Mais Cruzeiro.

As composições foram escritas e arranjadas por Gouvea para uma formação de sexteto ao longo de 2017, para celebrar os dez anos de parcerias com a sua esposa, a jornalista, escritora, artista visual e ceramista Juliana Simonetti. “Nesse decênio muita coisa aconteceu e muito da minha história se cruza com a da Jú”, declara o músico.

Além de figura inspiradora para as composições do marido, Juliana Simonetti foi testemunha de todo o processo de criação de “Decênio”, das composições aos ensaios. Na reta final do projeto, ela foi convidada por Fabio para contribuir com a concepção da capa do disco -- escolheu reproduzir uma peça de cerâmica feita em parceria com a mãe, Vera Simonetti -- e a escrever um texto, que é interpretado em uma das faixas pela atriz e bailarina sorocabana Andréia Nhur. Vale destacar que o texto já havia sido escrito por Juliana há alguns anos, mas serviu como uma luva para expressar a síntese de “Decênio”: “É só o tempo passando o tempo. Transformando paixão em tantas outras coisas. Alicerçando saudades. Maquiando cicatrizes. Zombando do coração dos que esperam”, diz.

Segundo Gouvea, em texto no encarte do disco, a peça apresenta uma narrativa musical inspirada em memórias afetivas de seus últimos dez anos. “Uma revisita a momentos vividos: chegadas e partidas, ilusões e desilusões, acertos e erros, ‘sins’ e ‘nãos’”. O processo de relembrá-los e reordená-los nessa linha de um tempo, afirma, foi o gatilho para a criação deste novo trabalho. “E um decênio deixa muitas boas lembranças e também cicatrizes que, mesmo sinalizando tempos difíceis, são inerentes a simplesmente -- e ao mesmo tempo complicadamente -- estar vivo”, pontua.

Parcerias

Além de Fabio Gouvea (guitarra e violão e flauta), participam do disco dois parceiros de longa data do músico: o contrabaixista Felipe Brisola, que esteve também em todos os álbuns do guitarrista; e o baterista votorantinense Cleber Almeida, que ao lado de Gouvea e o do pianista André Marques faz parte do Trio Curupira. O flautista e saxofonista Dô de Carvalho, que já havia trabalhado com o guitarrista no disco “Método do acaso”, lançado em 2017 pelo selo Blextream, também participa do projeto, que tem ainda dois novos parceiros musicais: a cantora uruguaia Amanda Mara e o pianista paulistano Gustavo Bugni.

Como já é característica das composições de Fabio Gouvea, as músicas do novo disco fazem referências aos ritmos brasileiros como o samba, baião e maracatu, porém dentro de um contexto jazzístico, com espaços para a improvisação e para a criação coletiva. No entanto, diferentemente dos temas estanques apresentados nos álbuns anteriores, “Decênio” tece uma narrativa musical linear, com motivos melódicos fortes, que remetem ao folclore brasileiro -- talvez por essa razão elas habitam no inconsciente coletivo do ouvinte, sugestionado a cantar junto logo na primeira audição -- e vão se desenvolvendo e se sofisticando harmonicamente com o passar do tempo. “Um movimento se conecta com o outro, volta lá frente, mas de outra maneira. Tudo vai se interligando e se transformando. É como na vida”, afirma.

O show de lançamento de “Decênio” ocorre no dia 20 de julho no Sesc Ribeirão Preto. Por aqui, o novo álbum ainda não tem data definida, mas o público do guitarrista e compositor poderá assisti-lo ao vivo no dia 6 de julho, no Sesi Sorocaba, em um show baseado no repertório do disco “Método do acaso”.

Professor do Conservatório de Tatuí e também integrante do Trio Curupira e da Hermeto Pascoal & Big Band, Fabio Gouvea se prepara para passar uma temporada de um ano em Basiléia, na Suíça. O músico foi selecionado para integrar a Focus Year Band, uma banda mantida pela Musik Akademie Basel, formada por notáveis músicos de várias partes do mundo que, além de ensaiar diariamente, fará concertos tendo como convidados consagrados do jazz mundial. “Vai ser uma experiência muito legal”, aposta o músico, que embarca em setembro. Juliana o acompanhará, para que o tempo, ao contrário de seu texto, não zombe do coração de quem espera. (Felipe Shikama)