Felipe Shikama - [email protected]

Uma emocionante mistura de arte e habilidade, onde atriz e fantoche se revezam no palco, é atração no teatro do Sesc Sorocaba nesta quarta-feira (18), às 20h. O espetáculo "Duet for one", de Reeta Honkakoski Company, da Finlândia, ainda tem ingressos disponíveis (custam R$ 17) e podem ser adquiridos na central de atendimento da unidade (rua Barão de Piratininga, 555). Recomendado para maiores de 14 anos, "Duet for one" ("Dueto para um", em português) é definido como um espetáculo de teatro físico com manipulação de um boneco, no caso, um coelho de tamanho humano.

A montagem leva em cena uma intensa troca entre atriz e boneco, ao retratar a codependência e o jogo de poder nas relações amorosas, onde as duas personagens vivem uma relação simbiótica, na qual os sentimentos vão do ódio terno ao amor agressivo. Reeta conta ao Mais Cruzeiro que a pesquisa que resultou na criação deste jogo cênico nasceu da observação de uma mulher isolada com um coelho inanimado, em busca de um "porto seguro", de maneira tão complexa e estranha que, segundo ela, "não pode ser explicada completamente".

Interessada em coelhos e no que eles simbolizam, Reeta pediu para que a criadora de bonecos finlandesa Laura Hallantie confeccionasse um coelho com dimensões humanas. "Uma vez que eu tinha o coelho no espaço de ensaio comigo, comecei a explorar a relação entre essa mulher e o coelho de uma maneira física e visual", conta, destacando que na relação entre o manipulador e boneco há sempre uma relação de poder. "Um manipula o outro e um dá vida ao outro. Um boneco e um manipulador de bonecos também são dependentes uns dos outros. Eu queria ver se é possível jogar com esse equilíbrio de poder e reverter isso", afirma.

A partir da exploração física, inspirada na observação de desalento daquela mulher, nasceu o tema do espetáculo, detalha a artista, que fez especialização na arte da Mímica Corporal e treinou em Londres, na Escola Internacional de Teatro Corporal do Teatro de L"Ange Fou, e atualmente mora em Helsinque, na Finlândia.

Com o "Duet for one", a atriz afirma que procurou trabalhar de forma muito intuitiva, deixando as coisas aparecerem em seu subconsciente, confiando que não é necessário racionalizar tudo. "Às vezes entendemos as coisas profundas melhor com os nossos corações", afirma, citando que deixou a narrativa aberta de propósito, a fim de permitir a interpretação e o significado de cada espectador.

Não seria, então, errado afirmar que se trata de uma metáfora das relações abusivas, marcadas por manipulação, tanto no aspecto físico e emocional. "Esta é uma maneira de ver o espetáculo e, sim, esse tema está presente em "Duet for one"", admite Reeta, ponderando que o espetáculo é mais amplo do que isso, e há muitas maneiras possíveis de interpretá-lo. "Eu queria propor mais perguntas do que dar respostas. E para isso eu criei uma atmosfera irreal e onírica, onde é difícil saber o que é real e o que não é, e onde cada espectador é convidado a encontrar o significado de dentro de si", destaca.

O idioma não chega a ser uma barreira para o público já que o espetáculo não possui falas. Com base na experiência da apresentação que foi realizada na semana passada no Festival Internacional de Teatro (FIT), em Rio Preto, Reeta diz que a diferença entre o público brasileiro e europeu não foi tão grande quanto pensava que poderia ser. "Talvez haja algo universal neste tema, ou na exploração metafórica dele. Parece-me, no entanto, que o público brasileiro é rápido em me seguir para o mundo da poesia física e emocional, e eles o fazem com facilidade. Isso é muito gratificante para mim", finaliza.