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‘Enchente’ transforma a literatura em dança

16 de Março de 2019 às 04:01

‘Enchente’ transforma a literatura em dança “A maioria das palavras desse conto enunciava ações”, explica a diretora Flávia Pinheiro. Crédito da foto: Divulgação

Destacado ao lado de Ariano Suassuna como um dos grandes pesquisadores da cultura popular nordestina, o escritor e dramaturgo Hermilo Borba Filho (1917-1976) tem um de seus contos traduzido em movimentos corporais e transformado no espetáculo de dança “Enchente”, que será apresentado neste sábado (16) no Sesc Sorocaba.

Com concepção, direção e dramaturgia de Flávia Pinheiro, o espetáculo, baseado no texto homônimo de Hermilo, traz jogos de improviso, atravessados por imagens em movimento e cruzadas com outras de arquivo pessoal, do Recife. A composição do espetáculo aborda catástrofes humanas atuais, como a crise migratória e econômica, a globalização da indiferença e do fracasso do mundo capitalista.

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Segundo Flávia, a montagem é fruto de um processo criativo iniciado em 2015, por meio de um edital do Centro de Formação das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, e baseado em três textos do autor. “A gente escolheu ‘Enchente’ porque tinha muitas imagens com texturas, dramaticidade, cor e movimento. Uma das imagens que chamou a atenção é a narrativa poética de uma onda suave, translúcida, sempre uma mulher desnuda por entre esses dejetos que surgem da enchente”, conta, destacando que lhe pareceu fácil traduzi-lo em movimento. “A maioria das palavras desse conto enunciava ações, então a gente escolheu como disparador do trabalho”, afirma.

A diretora destaca que diante deste desafio de traduzir a literatura para a dança contemporânea, procurou explorar tarefas do chamado “corpo do cotidiano”. “É coisa da dança pós-moderna, tentava aproximar a dança de um corpo cotidiano, tarefas ou ações, jogar madeira, arrastar, caminhar, rolar, enfim, ações que qualquer corpo pode fazer”, detalha. O espetáculo faz parte do especial ‘Mulheria’, do Sesc Sorocaba, que coloca mulheres no centro da programação do mês de março, trazendo-as como personagens e protagonistas. Além de Flávia Pinheiro, o elenco é composto por Gardênia Coleto e Rebeca Godin.

Embora faça referências claras a uma grande enchente que atingiu a Recife da década de 1970, a criação sobre a obra de Hermilo Borba Filho contemporaniza a ideia de uma “catástrofe natural”, em virtude das chuvas, já que seus efeitos são consequências das ações humanas -- e não, somente, de fenômenos da natureza, como o adensamento nas cidades, a criação dos bolsões de pobreza, do entupimento de galerias, do desassoreamento dos rios, entre outras interferências.

“No nordeste, mas acho que também no Rio de Janeiro e São Paulo [onde apenas neste ano dezenas de pessoas morreram em consequência das enchentes], a cheia é um movimento fluído da natureza, e período de fertilidade. Mas se torna catástrofe quando a ação humana faz com que o rio não consiga desaguar”, comenta. (Felipe Shikama)

Serviço

“Enchente”

Sábado (16), 20h

Sesc Sorocaba (rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade)

Ingressos (disponíveis até o fechamento desta edição) custam R$ 17 (inteira), R$8,50 (meia-entrada) e R$ 5 (credenciados do Sesc)

Classificação 16 anos