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Cineasta francês Éric Rohmer é lembrado em seu centenário

11 de Julho de 2020 às 00:01

Cineasta francês Éric Rohmer é lembrado em seu centenário Boa parte da obra de Rohmer encontra-se disponível em DVD. Crédito da foto: Divulgação

Éric Rohmer é um dos nomes centrais da nouvelle vague francesa e, embora identificado ao grupo que renovou o cinema francês, criou uma obra totalmente pessoal. Nascido em 1920 e morto em 2010, precisa ser lembrado, em seu centenário, como artista excepcional que foi. Fez um cinema muito falado, de base filosófica forte, construído na maior parte das vezes com poucos recursos, tendo como núcleo temático aparente as questões de relacionamento amoroso.

Na verdade, a partir dessas “intermitências do amor” (expressão de Proust), Rohmer acena para questões profundas, em particular as do domínio da ética. Basta ver com olhos livres (e ouvidos também) seus filmes para se livrar da impressão inicial de superficialidade e mergulhar nas contradições profundas da alma humana. Que, claro, afloram de maneira particular por ocasião dos jogos amorosos, dos processos do enamoramento e desejo.

Nascido em Tulle com o nome de Jean-Marie Maurice Schérer, Rohmer vem da tradição cultural francesa, sólida, filosófica e literária. Como seus colegas François Truffaut, Claude Chabrol, Jean-Luc Godard e Jacques Rivette, começou como crítico de cinema e depois se tornou cineasta. Escreveu na revista Cahiers du Cinéma e a dirigiu entre 1957 e 1963. Em parceria com Chabrol, escreveu um livro, hoje um clássico, sobre Hitchcock.

Séries

Rohmer gostava de fazer seus filmes em séries, que se tornaram bem conhecidas. Depois da estreia com O Signo de Leão (1959), dá início aos Seis Contos Morais: o curta A Padeira do Bairro (1962), o média A Carreira de Suzanne (1963), e os longas A Colecionadora (1967), Minha Noite com Ela (1969), O Joelho de Claire (1970) e Amor à Tarde (1972). Na opinião do crítico Jean Douchet, esse conjunto é um afresco da sociedade francesa do seu tempo.

A série Comédias e Provérbios inclui A Mulher do Aviador (1980), O Casamento Perfeito (1982), Pauline na Praia (1983), As Noites de Lua Cheia (1984), O Raio Verde (1985) e O Amigo de Minha Amiga (1986). Por fim, há os Contos das Quatro Estações: Primavera (1990), Inverno (1991), Verão (1996) e Outono (1998).

Esses filmes, organizados em ciclos, constituem dois terços de sua obra. Há também os títulos históricos como Marquesa d’O (1976), Perceval, o Gaulês (1978) e A Inglesa e o Duque (2001). E os “avulsos”: Quatro Aventuras de Reinette e Mirabelle (1987), A Árvore, o Prefeito e a Mediateca (1993), além de um singular thriller de espionagem, Agente Triplo (2003). Terminou a carreira com Os Amores de Astrée e Céladon (2007), um clássico pastoril.

Total: 23 longas. A maior parte feita com parcimônia, equipes reduzidas, atores e atrizes amigos. Os diálogos, escritos com muita precisão, dão pouca margem a improvisos dos atores. Com uma exceção: O Raio Verde, que conta com colaboração entre diretor e o elenco (em especial com a protagonista, Marie Rivière) na construção dos diálogos. De fato, este é um caso à parte na filmografia. Destaca-se pela espontaneidade com que é mostrada a história da secretária em crise (Rivière) por não ter ninguém com quem passar as férias.

Boa parte da obra de Rohmer encontra-se disponível em DVD. O site Belas Artes à la Carte (http://belasartesalacarte.com.br/) disponibiliza dez dos longas do diretor. (Luiz Zanin Oricchio - Estadão Conteúdo)