Buscar no Cruzeiro

Buscar

Carlos Calado ministra oficina sobre jazz no Sesc Sorocaba

22 de Outubro de 2019 às 21:40

‘Jazz é música para todos’ Nelson Ayres Big Band é uma das atrações, em Sorocaba, da vasta programação do 2º Festival Sesc Jazz. Crédito da foto: Paulo Ropoport / Divulgação

Um dos mais respeitados críticos musicais do País, o jornalista paulistano Carlos Calado era fã de rock aos 18 anos, quando foi arrebatado pelo ritmo suingado e as melodias inventivas do jazz. Aos 63 anos de idade e com dois livros que o credenciam como referência no assunto no Brasil, estará no Sesc Sorocaba, nesta quarta-feira (23), das 19h às 21h, para ministrar a oficina “Como ouvir jazz sem medo”. A atividade formativa é gratuita e integra o 2º Festival Sesc Jazz, que prossegue até domingo na unidade da cidade.

[irp posts="134632" ]

 

Calado já apreciava jazz desde os 16 (inclusive, havia programas de rádio voltados ao gênero) quando um novo horizonte musical se abriu para ele. Na noite de 28 de maio de 1974 -- quatro anos antes do Brasil receber o primeiro grande festival do gênero --, o jovem testemunhou um show do lendário trompetista Miles Davis, no auge de sua fase groove psicodélica, no palco do Theatro Municipal de São Paulo. “Foi paixão à primeira ouvida”, conta.

De lá para cá, o crítico dos jornais “Folha de S. Paulo” e “Valor” se tornou um apreciador incondicional de jazz, acompanhou grandes festivais mundo afora, conheceu, entrevistou e fotografou várias lendas do gênero.

Realizou projetos especiais, como os livretos encartados nos CDs da coleção “Lendas do Jazz” (Folha), assinou curadorias de festivais e lançou dois livros sobre o assunto: “Jazz ao vivo” (1989) e “O jazz como espetáculo”. Isso sem falar em outros títulos acerca da MPB, como “A divina comédia dos Mutantes” e “Tropicália: a história de uma revolução musical”.

A oficina é dirigida a todos os interessados em se familiarizar com o universo do jazz e não é necessário possuir formação musical, nem saber tocar algum instrumento. Para participar, basta se inscrever com uma hora de antecedência.

O objetivo, segundo ele, é desmitificar a suposta dificuldade que algumas pessoas teriam para apreciar o jazz -- partindo do princípio de que esse gênero musical tem essência e origem popular e é acessível a qualquer um.

Além de expor seus conhecimentos sobre o tema, Carlos Calado ilustrará a oficina com músicas e vídeos contendo trechos de shows, filmes e festivais. “Não tem maneira melhor de falar sobre música que usando música”, afirma. Alguns tópicos abordados na atividade, antecipa ele, são as raízes do jazz, os estilos tradicionais, as vanguardas e as fusões com outros gêneros.

Para curtir a arte da apreciação do jazz, a primeira regra é estar aberto ao novo. “Jazz é música para todos. Basta começar a ouvir para se apaixonar”, recomenda, implodindo o rótulo elitista das últimas décadas que, segundo ele, foi atribuído ou reforçado pela própria indústria da música comercial, em um movimento semelhante pelo qual já passou a música erudita.

E se o jazz é para todos, ele nunca foi tão acessível quanto agora. Atualmente, com praticamente toda a discografia da história disponível nas plataformas de música digital, a apreciação de álbuns icônicos do jazz como “A kind of blue”, de Miles Davis e “Time out”, de Dave Brubeck estão literalmente na palma da mão. Basta querer.’’

Experiência de verdade é com o ao vivo

O crítico musical Carlos Calado assinala que, além da enorme diversidade de estilos e andamentos do jazz (de baladas melancólicas aos frenéticos do hard-bop), uma das características determinantes deste gênero de origem norte-americana é a improvisação: “um método de composição espontânea, que é único e só acontece no instante em que os músicos estão tocando”.

Por essa razão, ele sugere ao leitor do Mais Cruzeiro que, mais do que ouvir fonogramas e assistir a vídeos de grupos tocando, a experiência completa de escuta ativa do jazz se dá justamente em shows, como os programados na 2ª edição do Sesc Jazz. “Não tem forma melhor de ouvir jazz do que ao vivo. Cada vez me convenço mais disso”, assinala.

As performances começam na quinta-feira (24), às 20h, no teatro da unidade, com shows do trio do pianista suíço Marc Perrenoud e do lendário gaitista carioca Maurício Einhorn. Perrenoud se apresentará ao lado do baixista alemão Marco Müller e o baterista suíço Cyril Regamey e promete mostrar, em primeira mão, composições de seu quinto álbum, ainda sem título.

Já Einhorn, aos 87 anos, que já tocou sua gaita com Toots Thielemans, Sarah Vaughan e Nina Simone e fez parte da criação da bossa nova, estará acompanhado de Luís Alves (baixo), Natan Gomes (piano) e João Cortez (bateria).

Representante brasileiro do afrofuturismo -- movimento que mescla tradições africanas com ficção científica e fantasia para rever o passado negro e criar novas narrativas --, o pianista Jonathan Ferr tocará com o seu grupo na sexta-feira, às 20h, abrindo para o cantor e tecladista norte-americano Lonnie Holley.

Experiência de verdade é com o ao vivo O trio do pianista suíço Marc Perrenoud se apresenta amanhã. Crédito da foto: Divulgação

No sábado, às 19h, o público sorocabano terá a chance de prestigiar o som da Nelson Ayres Big Band, comandada pelo maestro e pianista Nelson Ayres, um dos mais influentes nomes do jazz brasileiro de todos os tempos. Na sequência, será a vez da baterista cubana Yissy García & Bandancha.

Filha de Bernardo García, cofundador da Irakere, uma das mais importantes bandas cubanas, Yissy García teve os primeiros contatos com o jazz a partir das fitas cassete trazidas pelo pai de viagens aos Estados Unidos, onde conheceu o pianista Herbie Hancock e iniciou a formação musical que define o seu trabalho.

Já no domingo, fechando a programação, o Sesc Jazz recebe o Women’s Improvising Group, um combo liderado pela saxofonista canadense Maggie Nicols e formado exclusivamente para esta apresentação, que procura recriar o conjunto feminino formado na década de 1970 para enfrentar um line up só com homens em festival londrino dos anos 1970.

Fenômeno global

A presença de nomes femininos tem sido a ênfase do Festival Sesc Jazz (antigo Sesc Jazz & Blues) que já trouxe a Sorocaba renomadas instrumentistas (as cantoras sempre tiveram espaço), como a pianista japonesa de técnica sobre-humana Hiromi Uehara e a saxofonista sensação de Nova York, a chilena Melissa Aldana. “Percebo que o festival tem tido essa preocupação de mostrar a produção [das mulheres no jazz contemporâneo]”, analisa Calado.

Além desse recorte de gênero, chama a atenção a diversidade de nacionalidades dos artistas escalados para o festival. “O jazz teve a sua origem nos Estados Unidos, mas hoje, ele não tem um único território. É global”, complementa o crítico musical, citando que esse fenômeno já foi analisado pelo pesquisador britânico Stuart Nicholson no polêmico livro “O Jazz está morto? Ou mudou para um novo endereço”.

Os ingressos para os concertos do festival estão à venda no site www.sescsp.org.br ou na Central de Atendimento da unidade. O Sesc Sorocaba fica na rua Barão de Piratininga, 555, no Jardim Faculdade. (Felipe Shikama)