O espetáculo “Cálculo ilógico” rendeu a Jéssika Menkel cinco indicações a grandes prêmios do teatro. Crédito da Foto: Alberto Maurício/Divulgação

A atriz e dramaturga sorocabana Jéssika Menkel, atualmente radicada no Rio de Janeiro, estará em Votorantim no domingo (2) para realizar o lançamento de seu primeiro livro, “Cálculo ilógico”, às 18h, no Aquário Cultura Calixto Mainardi.

Com carreira premiada nacionalmente, Jéssika estreia como escritora graças ao sucesso do espetáculo de mesmo nome, que lhe rendeu cinco indicações nos maiores prêmios do teatro: Cesgranrio 2019 nas categorias Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Texto e Melhor Atriz, além da inclusão de seu nome na lista da Associação dos Produtores de Teatro (APRT) como Melhor Espetáculo.

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Jéssika é a atriz e dramaturga mais jovem da história do Cesgranrio, um dos prêmios de maior valor no teatro brasileiro e apontada por críticos como atriz revelação da nova geração.

A artista conta que para escrever o espetáculo, um monólogo que classifica como sendo de autoficção, usou como base alguns acontecimentos da sua vida, entre eles a morte do irmão.

Com o intuito de poder literalmente “contar” essa história, Jéssika misturou números com fatos reais. Durante o espetáculo,

dirigido por Daniel Herz, a atriz atribui a um erro das expressões numéricas a fatalidade que levou o seu irmão. No texto, a personagem Ella apresenta seu universo numérico buscando uma nova perspectiva para ver o mundo. Relembra, revive e calcula acontecimentos. Busca razões nos números e nas fórmulas para explicar um cálculo chamado vida.

O irmão faleceu aos 21 anos, em um acidente de motocicleta. Jéssika tinha 10 anos na época da fatalidade. “Resolvi escrever esse monólogo através de uma provocação de uma professora, fui desafiada e automaticamente retornei às minhas relações familiares e à morte do meu irmão. A ideia foi escrever uma carta para ele, o que eu diria para ele”, conta.

Revisitar essa dor, que impactou muito a família, trouxe várias lembranças. “Houve uma desestrutura familiar porque também morreu uma parte da minha mãe e do meu pai. Eu fiquei ali, naquela situação muito delicada, de vivenciar tudo aquilo. Quando comecei a escrever para ele, contei sobre mim, minha opção pelo teatro, e foi impactante ver como essa carta chegou nas pessoas. Percebi que tinha um potencial artístico ‘transforma-dor’. Literalmente.”

A artista comenta que escreveu de forma despretensiosa e não imaginava o que estava por vir. “Foi muito louco pra mim hoje estar concorrendo a prêmios grandiosos ao lado de artistas que cresci vendo na televisão. ‘Cálculo ilógico’ é um pedaço de mim, que fiz com todo amor. É uma história minha que transformei em nossa, porque em algum momento as pessoas se identificam com ela. É um divisor de águas na minha carreira profissional, porque é por meio desse trabalho que artistas consagrados começam a me reconhecer como atriz.”

Tocante, o espetáculo recebeu muitos elogios, entre eles de Marieta Severo, Paulo Betti, Maitê Proença, Hans Donner. O espetáculo teve apresentações em Portugal e agora surgiu a oportunidade de apresentar na Espanha. Um dos desejos da artista é também trazê-lo a Sorocaba.

A atriz conta que eventualmente retorna à cidade para visitar seus pais e comenta que gostaria de ter estreado o monólogo na cidade, mas não conseguiu. “Estou ansiosa para levar onde nasci, levar para a minha cidade”, afirma. Ela disse que está tentando contato com o Sesc e na expectativa. “Pelo Sesc Rio irei excursionar por 11 cidades”, comenta.

Na opinião de Jéssika, Sorocaba deveria valorizar e incentivar mais os seus artistas, os que ainda continuam na cidade e os que têm levado o nome do município para outros lugares. “Sorocaba tem muitos talentos, mas parece que as pessoas só ganham importância com mais de 40 anos, quando na verdade tem muita gente jovem talentosa.”

Ainda sobre a dificuldade que se tem de trabalhar com arte, no Brasil como um todo, ela diz que encontrou um caminho que tem dado certo, que é produzir seu próprio espetáculo. “Eu sempre produzi minhas ideias, meus trabalhos. Nunca esperei alguém achar um papel interessante e me chamar para fazer, eu sempre achava personagem pra mim e convidava alguém para dirigir, fazer junto. Os personagens que eu tenho vontade de fazer, eu vou e faço, não fico esperando alguém me chamar.”

Outro caminho é participar de festivais de teatro. “Foi onde mais consegui fazer dinheiro. Apresentava 15 minutos e ganhava R$ 3 mil, porque vencia o festival, e guardava o valor para montar meus espetáculos.”

Jéssika falará um pouco do processo de escrita do monólogo, irá ler algumas partes da peça e falar um pouco sobre sua trajetória como atriz. O projeto conta com o apoio da Prefeitura de Votorantim. O Aquário Cultura fica na avenida Moacir Oséias Guiti, 41, ao lado da Praça de Eventos Lecy de Campos. O livro “Cálculo ilógico” será vendido a R$ 35.

Carreira

Jéssika Menkel, 28 anos, é natural de Sorocaba e graduada em teatro pela Casa de Artes de Laranjeiras (CAL) no Rio de Janeiro. Recebeu 13 premiações de Melhor Atriz em festivais de teatro pelo Brasil com os espetáculos “Meu nome é Ernesto!” e “A pastora do lixão”. Há cinco anos, ela realiza pesquisas sobre o teatro documentário, o que originou o texto “Cálculo ilógico”.

Ela começou a fazer teatro em 2008, aos 17 anos, a convite de seu então professor de Física Tom Barros, que também era proprietário da extinta Escola Técnica de Arte e Comunicação de Sorocaba (Etac). No primeiro espetáculo, “Quem casa quer casa”, com direção de Carlos Doles, foi a protagonista.

Ao final do ensino médio, desistiu de prestar vestibular para Medicina e, com o apoio dos pais, mudou sozinha para o Rio de Janeiro para estudar teatro. (Daniela Jacinto)