Buscar no Cruzeiro

Buscar

‘A paixão do circo’ vira longa-metragem

27 de Novembro de 2020 às 00:01

‘A paixão do circo’ vira longa-metragem Adaptação do espetáculo marca nova fase na história da trupe sorocabana. Crédito da foto: Divulgação

Um dos maiores sucessos do repertório do Circo-Teatro Guaraciaba, o espetáculo “A paixão do circo” ganhará adaptação cinematográfica com estreia prevista para o início de 2021. Em fase final das filmagens, o filme realizado em parceria com o Coletivo Cê, de Votorantim, referência do teatro experimental na região, marca uma nova fase na história de 74 anos da trupe sorocabana, considerada uma das mais tradicionais companhias circenses do Brasil.

A decisão de trocar os palcos pelo set de filmagem foi imposta pela pandemia do novo coronavírus. É que um projeto de circulação da peça por várias cidades do interior paulista foi contemplado com R$ 100 mil no edital de Produção e Circulação de Espetáculos Circenses do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, mas a turnê precisou ser suspensa em função das medidas de isolamento social para conter a proliferação da Covid-19.

O governo estadual sugeriu, então, aos proponentes contemplados no edital que registrassem os espetáculos em vídeo para disponibilizar na internet. Toda a equipe de “A paixão do circo”, no entanto, assumiu um desafio ainda maior e decidiu adaptar a peça para as lentes de cinema. Fundador do Coletivo Cê, o ator Júlio Melo, que também assinará a direção de fotografia, comenta que o grupo já vinha flertando com produções audiovisuais, mas a vontade de mergulhar na linguagem cinematográfica era postergada pelas dificuldades técnicas. “Calhou que durante a pandemia eu comecei a criar vídeos para a internet e me familiarizar mais com filmagem, edição de vídeo, luz, técnicas que até então não tinha tido experiência e com isso me senti mais confiante de arriscar nessa linguagem”, assinala.

“A paixão do circo” tem como mote um conflito geracional e conta a história de um grupo de atores da velha guarda do circo-teatro que resistem bravamente a qualquer sopro de inovação que possa abalar as tradições da companhia. Já os herdeiros da trupe, jovens atores, com grande bagagem acadêmica, tentam introduzir mudanças para modernizar a habitual encenação da Paixão de Cristo.

Concebido para os palcos, o espetáculo é uma meta-linguagem que mostra as tensões entre duas gerações de artistas, com visões divergentes para a montagem do melodrama “O mártir do calvário”, escrito pelo teatrólogo português Eduardo Garrido, em 1902. O enredo gira em torno das irmãs Bartira e Bebel, donas de um circo, que decidem encenar o clássico da Semana Santa, mas acabam entrando em conflito com os próprios filhos, Junior, Greta e Garbo e Ben e Hur, respectivamente, porque, contrariando as mães, eles querem que a história seja contada de maneira mais moderna.

‘A paixão do circo’ vira longa-metragem Decisão de trocar os palcos pelo set foi imposta pela pandemia. Crédito da foto: Divulgação

A ideia de revisitar o espetáculo, que por muitas décadas foi encenado pelo Circo-teatro Guaraciaba na Semana Santa, partiu do ator e palhaço Alexandre Malhone, representante da terceira geração da companhia. No entanto, ao longo do processo criativo, impulsionados pelas provocações e experiências pessoais do diretor convidado Fernando Neves -- nascido em uma família de circo-teatro e reconhecido como um dos principais teóricos do melodrama do Brasil --, a dramaturgia de Rogério Guarapiran conduziu a montagem por caminhos mais inusitados permeados pelo humor.

Adaptação

Bruna Moscatelli, uma das atrizes do espetáculo e que assina a adaptação roteiro para cinema, afirma que o texto não perdeu a essência construída no teatro ao longo desses anos, mas que sofrerá ajustes. “O teatro vai virar um longa-metragem, e aí, com certeza, demos uma adaptada, encontrando locações para dar dinâmica na narrativa para tornar o espetáculo mais realista; mas esse longa tem potencial para ficar muito lindo, poderoso e bonito. Essa galera é maravilhosa”, diz, sorrindo.

Mello assinala que a imersão neste novo universo cinematográfico tem sido um de profundo aprendizado a todos os envolvidos. “Além de orçamento, que é baixo, temos uma equipe super reduzida, se for comprada com de qualquer outro longa-metragem, mas que é muito comprometida e dedicada. Nós nunca tivemos experiência de fazer um filme, mas estamos nos arriscando e pulando nesse precipício”, assinala.

As filmagens terminam nesta semana e contará, inclusive, com locações externas filmadas na cidade. “Para nós é algo muito legal, mas que não é a nossa praia. Por isso, dá um certo medo, mas a gente fará toda a força do mundo, usando da experiência como profissional de circo há tantos anos, para fazer uma coisa que dê certo e que agrade ao público”, comenta a atriz da velha guarda do circo-teatro, Guaraciaba Malhone. Todos integrantes do projeto realizaram o teste do Covid-19, para que pudessem começar os ensaios e filmagens.

O espetáculo em versão cinematográfica terá sua estreia gratuita, prevista para o início de 2021, no canal do grupo no Youtube. Antes disso, no entanto, integrantes do Circo-teatro Guaraciaba e do Coletivo Cê, realizarão oficinas formativas e lives gratuitas para o público. (Felipe Shikama)

Galeria

Confira a galeria de fotos