‘A invenção do nordeste’ é atração no Sesc
A montagem traz no elenco os atores Henrique Fontes, Mateus Cardoso e Robson Medeiros e tem direção de Quitéria Kelly. Crédito da foto: Divulgação
Vencedora do Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia e do Cesgranrio de Melhor Espetáculo, “A invenção do nordeste”, do Grupo Carmin de Teatro, do Rio Grande do Norte, será encenada no sábado (14), às 20h, no teatro do Sesc Sorocaba. Na montagem do grupo potiguar, dois atores se preparam para um teste, disputando um papel nordestino numa série de televisão.
Com esta narrativa ficcional, a peça corrobora a crítica historiográfica do professor Durval Muniz de Albuquerque Jr., registrada no livro “A invenção do nordeste e outras artes”, que questiona diversas imagens estereotipadas dessa região do País.
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A peça conta a história de um diretor que é contratado por uma grande produtora com a missão de selecionar um ator nordestino que possa interpretar com maestria um personagem. Depois de vários testes e entrevistas, dois atores vão para a final e o diretor tem sete semanas para deixá-los prontos para o último deles.
Durante as sete semanas de preparação, os atores refletem sobre sua identidade, cultura, história pessoal e descobrem que ser e viver um personagem nordestino não é tarefa simples.
O espetáculo é dirigido pela atriz Quitéria Kelly, que motivada por reações xenófobas durante as eleições de 2014, encontrou na obra de Albuquerque Júnior um ponto de partida para refletir as divisões sociais brasileiras.
O livro remonta o surgimento de um recorte especial, para gerar um lugar real tanto quanto imaginário, e assim as motivações políticas para este fim. “As questões que estamos levantando em ‘A invenção do nordeste’ são urgentes e precisam ecoar”, diz a diretora da peça.
Quitéria então compartilhou com os demais integrantes do grupo seu desejo de criar uma peça que contribuísse para a desconstrução da imagem estereotipada do nordeste e do nordestino, marcando, então, sua estreia como diretora.
Durante dois anos de pesquisa, o Grupo Carmin mergulhou nos questionamentos dos mecanismos estéticos, históricos e culturais que contribuíram para a formação de uma visão do nordeste brasileiro como um espaço idealizado, deslocado do processo histórico e imune ao impacto das grandes transformações sociais.
A partir daí, os dramaturgos Pablo Capistrano e Henrique Fontes escreveram uma autoficção onde um diretor é contratado por uma grande produtora para preparar dois atores norte-riograndenses, que disputam o papel de um personagem nordestino. Durante o tempo da preparação, a identidade nordestina entra em xeque. Afinal, existiria apenas uma identidade nordestina?
A peça, segundo o grupo, propõe desenhar a trajetória hilária -- e por vezes conflitante -- da história recente do estabelecimento da região nordeste. Uma unidade sociopolítica e cultural com todas as suas individualidades e também todos os estereótipos alimentados por décadas pela literatura, cinema, música e artes visuais brasileiras.
“A invenção do Nordeste” conta com a dramaturgia de Henrique Fontes e Pablo Capistrano e traz no elenco Henrique Fontes, Mateus Cardoso e Robson Medeiros. A cenografia é de Mathieu Duvignaud, dramaturgia audiovisual e iluminação de Pedro Fiuza, trilha original de Gabriel Souto e Toni Gregório, além de Mariana Hardi e Quitéria Kelly assinando a produção.
Desde sua estreia, em 2017, o espetáculo vem sendo bem recebido por público e crítica e conquistado prêmios inéditos para o Rio Grande do Norte e para o Nordeste. O Carmin foi o primeiro grupo do nordeste do Brasil a ganhar o prêmio Cesgranrio de melhor espetáculo.
O coletivo também conquistou o prêmio Shell e Botequim Cultural de melhor dramaturgia. O grupo foi criado em Natal com o desejo de pesquisar temas urbanos que pudessem ser retratados de forma cômica, proporcionando abertura para reflexão.
Os ingressos, disponíveis até o fechamento desta edição, custam R$ 5 para credenciados no Sesc e dependentes (credencial plena), R$ 8,50 (meia-entrada) e R$ 17 (inteira). A classificação etária é 14 anos. O Sesc fica na rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade. (Felipe Shikama)