Encontro de Cinema do Interior reúne profissionais de diversas cidades
O evento contou com rodas de conversa sobre estética e linguagem interiorana, circulação das produções locais, fomento e políticas públicas. Crédito da foto: Divulgação
Criar uma plataforma conjunta de desenvolvimento audiovisual capaz de possibilitar a atração de investimentos nacionais e internacionais no interior de São Paulo foram algumas das ações discutidas no 1º Encontro de Cinema do Interior Paulista, realizado na semana passada em Rio Claro.
Representando Sorocaba no evento, o cineasta Bruno Lottelli, realizador dos filmes “A noite do beijo” (2016) e do recém-lançado “O dragão que me queima é o mesmo que me salva”, este último em parceria com Renata Grazzini, classifica o evento como “um marco histórico de refundação” do setor audiovisual paulista. “Foi um encontro muito produtivo, que contou com a presença de produtores de cinema de 11 cidades do interior paulista que já estão juntos na produção de informações e políticas públicas para ampliar massivamente o interior paulista em relação ao imaginário coletivo brasileiro”, destaca.
Além de discutir uma coordenação de ações que fortaleçam as produções locais e criem um entendimento de unidade entre as cidades do interior do Estado, os participantes puderam compartilhar as iniciativas já existentes em suas regiões e exibiram trailers e filmes produzidos em seus municípios. O evento ainda contou com rodas de conversa sobre estética e linguagem interiorana, circulação das produções locais, fomento e políticas públicas. “A necessidade de criar esse espaço de encontro surgiu após algumas viagens que fizemos no Estado para trocas de experiências artísticas e articulação entre produtores culturais”, conta Rogério Borges, do coletivo Kino Olho, que sediou o evento.
O Kino Olho é um dos grandes expoentes da nova safra do cinema interiorano. Nos últimos quatro anos, o coletivo emplacou dois curtas-metragens no Festival de Cannes. Sua organização é composta por 20 cineastas associados e uma comunidade de mais de 100 pessoas entre alunos e agregados.
O encontro também discutiu a necessidade de emancipação do setor em relação à capital, tanto do ponto de vista da estética, quanto do mercado. “O desejo de trabalhar nas capitais está ultrapassado. Nós estamos aqui no interior e produzimos aqui. Agora, queremos que a nossa produção seja vista, que circule, que atraia novos profissionais e artistas, que contribua ainda mais para a economia local”, afirmou Mariana Vita, do ProAV, de Bauru.
Entre as deliberações do encontro, destacam-se a articulação das redes exibidoras e cineclubes -- que passam a integrar um circuito de exibição dos filmes produzidos em todo o interior --, a concentração das obras numa plataforma on-demand e a realização de mais dois encontros em 2020. O grupo definiu ainda as diretrizes para o lançamento de um manifesto do cinema interiorano como marco de sua refundação e apontou para a criação de uma distribuidora, entre outras fórmulas de criar um circuito comercial interiorano, para que a circulação das obras não dependa exclusivamente do aval das grandes distribuidoras do eixo Rio-São Paulo.
O encontro também contou com apresentação de entidades nacionais e estaduais como a Associação de Produtoras Independentes (API), a Associação Paulista de Cineastas (Apaci), o Fórum do Litoral, Interior e Grande São Paulo (Fligsp), além de projetos regionais como a Mostra de Cinema Amilar Alves, de Campinas; e o Polo Audiovisual do Velho Oeste, da região do Vale do Paranapanema.
Novo território audiovisual
Desde a digitalização da produção audiovisual, e principalmente após a implementação de políticas públicas que destinam recursos do Estado aos projetos culturais de fora da capital, o número de filmes produzidos no interior paulista vem aumentando consideravelmente.
Segundo o grupo, somente em 2019, por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC), o setor movimentou aproximadamente R$ 5 milhões em recursos públicos.
Outro ponto de destaque da interiorização é o baixo custo de produção e a consequente possibilidade de otimização de recursos dos editais. Facilidade logística, operacional, o baixo custo de vida, a ausência dos custos de produção especulativos de um mercado inflado como o da capital, além da possibilidade de ineditismo estético num território pouco saturado, tornam a produção de filmes no interior cada vez mais viável e atraente. “Penso que entramos em uma nova era para o cinema do interior paulista. Estamos ansiosos pelos próximos encontros, em Campinas e Assis, para analisar os avanços e darmos continuidade para aperfeiçoar os planos e metas que criamos coletivamente. 2020 será um grande ano de criação e resistência”, conclui Rogério Borges. Para Mariana Vita, o evento “foi o ponto de ebulição das iniciativas que corriam paralelamente nos municípios. Depois do encontro, não estamos mais isolados, formamos uma aliança potente e que já deve trazer alguns frutos para o próximo ano”, conclui. (Felipe Shikama)