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Educação

Cerca de 900 adultos estão matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Sorocaba

Perfil de alunos muda: se antes havia muitos idosos, agora há jovens de 20 a 30 anos

18 de Outubro de 2025 às 19:00
Vernihu Oswaldo [email protected]
Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a modalidade presencial oferecida por escolas públicas, voltada a quem não concluiu o ensino fundamental ou médio na idade regular
Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a modalidade presencial oferecida por escolas públicas, voltada a quem não concluiu o ensino fundamental ou médio na idade regular (Crédito: Vernihu Oswaldo)

Terminar os estudos pode até parecer uma sequência natural na vida de crianças e adolescentes, porém, nem sempre esse plano se realiza. Mas nas salas do Educação de Jovens e Adultos (EJA), o som dos cadernos se abrindo e das canetas riscando carregam histórias que ficaram em pausa por anos e agora voltam a ser escritas. Só em Sorocaba eles são 900 alunos.

Segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 8,7 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não haviam completado os estudos até 2024. Mas na EJA, as pessoas que querem voltar a estudar e concluir a escolaridade podem finalizar os estudos.

Nas escolas estaduais do estado de São Paulo, são 59 mil estudantes matriculados na modalidade EJA. Em Sorocaba, alguns dos 900 alunos estão na Escola Estadual Humberto de Campos, no Jardim Zulmira, uma das unidades que oferece a modalidade. Segundo o diretor Dorival Pinheiro, a escola tem cerca de 950 alunos no total e aproximadamente 60 na modalidade EJA. Dorival afirmou que o perfil dos alunos da EJA vem mudando com o passar do tempo. Se antigamente era comum encontrar idosos nas salas de aula, hoje a maior parte dos estudantes tem entre 20 e 30 anos.

Quase sempre, são pessoas que abandonaram a escola para trabalhar e, ao perceber que precisavam de um nível de escolaridade mais alto para progredir na carreira, decidiram voltar aos estudos.

Esse é o caso, por exemplo, de Larissa Santos, de 32 anos, que abandonou a escola aos 14 para trabalhar e resolveu voltar a estudar para fazer um curso de enfermagem, estimulada pela irmã. Atualmente, ela trabalha como cabeleireira e concilia os estudos com a rotina profissional. Mesmo quando o cansaço bate, a sede de conhecimento é maior, ela afirma que gosta muito dos professores e da escola, o que motiva a ir todos os dias.

Atualmente, o estudante adulto possui três formas de concluir seus estudos: o EJA, o Ceeja e o Enceja. O EJA é a modalidade presencial oferecida por escolas públicas, voltada a quem não concluiu o ensino fundamental ou médio na idade regular. Cada ano é feito em seis meses; assim, uma pessoa que tenha estudado apenas até o 1º ano do ensino médio pode cumprir o 2º e o 3º anos em apenas um. Já o Ceeja (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos) funciona de forma semipresencial, permitindo que o aluno estude em casa com apoio de professores e compareça ao centro apenas para avaliações ou orientações.

Por fim, o Enceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) é uma prova aplicada pelo Inep/MEC que possibilita a certificação do ensino fundamental ou médio a quem demonstrar domínio dos conteúdos exigidos.

Sala de aula

O professor de língua portuguesa Ariovaldo André Godinho afirma que dar aula para a EJA é diferente do ensino regular, uma vez que as salas tendem a ser mais calmas e os alunos mais interessados, já que entendem a importância dos conteúdos. Ariovaldo também destacou a troca de experiências entre professores e alunos, em que os estudantes trazem muita vivência prática e conseguem transmitir isso para os colegas e até para os professores.

O educador explicou que, especificamente em português, são trabalhados muitos gêneros textuais desde os clássicos, como resenha, redação e artigo, até textos do contexto digital, como memes, por exemplo. Isso gera algumas dificuldades, principalmente entre os mais velhos, que às vezes não têm familiaridade com aparelhos eletrônicos ou redes sociais. Por outro lado, também cria momentos interessantes, quando os próprios colegas ajudam esses alunos.

Histórias

Ubiratan Kobori, de 40 anos, é mais um aluno da EJA, mas sua trajetória é um pouco diferente. Ele largou os estudos para migrar para o Japão, terra de sua família, onde trabalhou por mais de 20 anos com tecnologia da informação, antes de voltar ao Brasil para cuidar da mãe.

No país, apesar de não ter o ensino médio completo, conseguiu emprego na sua área, mas decidiu retomar os estudos para poder cursar uma faculdade ou um curso técnico relacionado à profissão.