Superação
Cantora que vivia nas ruas de Sorocaba recebe tratamento
A história de Sizzi, dependente química e moradora em situação de rua, viraliza nas redes sociais

A trajetória da vida de Sizzi, uma sorocabana de 45 anos, que é filha, mãe e avó, mostra um pouco do drama vivido por muitas vítimas da dependência química. Uma história no meio de tantas outras, mas que chamou a atenção, graças ao seu dom de cantar. Vivendo em situação de rua e sem ter contato com a família há sete meses, Sizzi foi encontrada por sua mãe e filha em um ponto de venda de drogas, quando estava negociando uma pedra de crack. O momento do reencontro também foi o de desistir da compra.
Aos 13 anos, ainda menina, costumava ouvir seu pai cantando e tocando violão pela casa onde moravam. Essa rotina despertou nela o desejo de cantar. Autodidata, Sizzi começou a dedilhar as primeiras notas em um velho violão da família. Com o violão como companheiro, ela começou a mostrar seu dom e o primeiro público foram os fiéis da igreja que frequentava. Mas, o caminho tortuoso das drogas acabou chegando em sua vida, uma opção que aparece em momentos de fragilidade, depressão e tristeza na vida de muitos.
E, mesmo em meio à tanta turbulência, Sizzi conseguiu estudar e obter vários certificados de cursos profissionalizantes. Além disso, ganhou bolsa de estudos de 100% em uma faculdade, para o curso de Logística. Acabou desistindo e, tempos depois, ganhou outra bolsa de 100%, em outra instituição de ensino superior, para o curso de Administração, mas abandou em função das drogas. Quando Sizzi perdeu o controle para as drogas, resolveu também abandonar a família e morar nas ruas. Assim, as calçadas da cidade tornaram-se a morada para Sizzi.
No último sábado (12), em frente a um bar no Parque São Bento, uma inesperada oportunidade apareceu em sua vida, uma chance de resgatar sua identidade. Enquanto ouvia a música do estabelecimento, a vontade de cantar renasceu e ela pediu ao proprietário a permissão para cantar. O pedido foi aceito e também registrado pelo dono do estabelecimento, através da câmera do celular. Naquele momento, não eram as drogas que tomavam conta das mãos de Sizzi, mas, sim, um microfone que fez ecoar sua voz, surpreendendo a todos com seu talento. Wagner Brasil divulgou o vídeo nas redes sociais e, em pouco tempo, o conteúdo recebeu mais de 47 mil curtidas. O número de visualizações foi ainda maior.
Depois da apresentação, a cantora voltou para a realidade das ruas, mas sua voz não saiu da cabeça das pessoas que tiveram acesso ao seu vídeo, prova disso, foram os inúmeros telefonemas que o Centro de Atenção dos Dependentes Químicos, o Cadq, recebeu na manhã de terça-feira (15), e o pedido era sempre o mesmo: que o Centro localizasse a moradora e que desse a ela o apoio necessário. No mesmo dia, a equipe de resgate da instituição localizou a cantora em frente a um posto de combustíveis, no bairro Barcelona, na Zona Leste de Sorocaba.
Sizzi, então, aceitou o encaminhamento ao Centro de Triagem do Cadq, que fica na Avenida Afonso Vergueiro. O Cadq, diante da urgência e da necessidade de uma internação, foi contatado pelo Grasa, parceiro da Prefeitura. O Grupo de Apoio, então, assumiu o caso e deu prosseguimento ao processo de internação e tratamento da cantora.
Os primeiros procedimentos foram a administração de suplementos que auxiliam a passar pelo período mais crítico da “fissura”, que é a necessidade urgente que o dependente químico tem do uso das drogas às quais seu organismo já está acostumado. A segunda providência foi possibilitar sua imunização contra a Covid-19.
Agora, espera-se que, nos próximos dias, Sizzi possa se manter firme no propósito de continuar com o tratamento oferecido. Para isso, além da enorme torcida que conquistou, de forma quase instantânea, nas redes sociais, é preciso que ela demonstre ter a força de vontade necessária para persistir no desejo de mudança, algo que realmente pode fazer a diferença entre permanecer no abandono e readquirir o domínio sobre a própria vida.
O prefeito Rodrigo Manga também se sensibilizou e foi pessoalmente conhecer e conversar com Sizzi, que aproveitou a oportunidade para pedir ajuda ao chefe do Executivo. O registro desse encontro desencadeou uma grande rede de apoio, com a participação de vários empresários da cidade e região. Foram oferecidos, desde tratamento dentário, procedimentos de beleza, como corte de cabelo e manicure, vestuário e o tratamento para dependência química no Grasa (Grupo de Apoio e Combate a Drogas e Álcool Santo Antônio), instituição parceria da Prefeitura de Sorocaba no programa de atendimento às pessoas em situação de rua “HumanizAção”.
Uma clínica de reabilitação, localizada na cidade de Alambari, também já ofereceu tratamento a ela, incluindo recursos, como: sessões de fisioterapia, acompanhamento psicológico em grupo, atendimento psiquiátrico, reeducação alimentar e todo o empenho para sua reintegração à sociedade. Ela poderá ter acesso a tudo isso, após um período de 30 dias, passado o tempo da fase de desintoxicação do organismo.