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Editorial

Briga de cachorro grande

Representantes de 47 sindicatos patronais que fazem parte da Fiesp votaram pela destituição de Josué Gomes do cargo

18 de Janeiro de 2023 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Desde as eleições do ano passado, houve um racha entre seus vários grupos
Desde as eleições do ano passado, houve um racha entre seus vários grupos (Crédito: Site Fiesp)

Uma das principais entidades empresarias do país, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) está em crise. Desde as eleições do ano passado, houve um racha entre seus vários grupos e quem acabou pagando a conta de todo esse ‘imbróglio‘ foi o presidente Josué Gomes.

Em assembleia realizada na noite de segunda-feira (16), o empresário foi destituído do comando da Fiesp, numa decisão até então inédita. A votação, com a queda do presidente, foi o desfecho, mais que anunciado, de uma disputa política que se arrasta desde outubro do ano passado.

Representantes de 47 sindicatos patronais que fazem parte da Fiesp votaram pela destituição de Josué Gomes do cargo. O resultado registrou ainda duas abstenções e um único voto contra a destituição do presidente da organização. Josué Gomes não estava presente quando os delegados tomaram a decisão. A expectativa agora é de que ele recorra à Justiça tentando voltar ao cargo. O problema é que quanto maior for a briga, maior será o período de instabilidade vivido pela gigante Federação com sede na avenida Paulista, no coração da capital.

Nessa fase de transição, o vice-presidente mais velho deve assumir o comando da Fiesp até que seja marcada uma nova eleição. Os nomes mais cotados para participar dessa disputa pelo comando da entidade são Rafael Cervone Netto, Dan Ioschpe e Marcelo Campos Ometto.

O encontro de segunda-feira foi agendado pelo próprio Josué, em dezembro, como uma resposta a um grupo de sindicatos patronais que criticava sua gestão e que havia marcado uma assembleia com o claro objetivo de tirá-lo do cargo. Na primeira parte da reunião, o empresário teve de responder a perguntas sobre temas como suas viagens e reuniões em Brasília, além do manifesto em favor da democracia assinado pela entidade às vésperas da eleição sem o consentimento de todos os filiados.

Numa primeira votação, dos 90 delegado presentes 60 rejeitaram as explicações. Depois disso, Josué deixou a assembleia, que foi retomada e terminou com sua destituição.

Nos últimos meses, a Fiesp passa por uma intensa disputa política. Josué é acusado de ser distante da entidade e dos pleitos de interesse do setor, o que deu munição para que os sindicatos considerados menores passassem a pressionar pela saída do executivo.

Parte dos integrantes da Federação enxergou na assinatura do manifesto a favor da democracia como uma afronta da entidade ao então candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) - que contava com o apoio do empresário Paulo Skaf, apontado como articulador do movimento contra Josué. Skaf desempenhou, ainda, papel importante na eleição do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que derrotou o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Herdeiro da Coteminas, Josué é filho de José Alencar, que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto. Na presidência da Fiesp desde o início do ano passado, o empresário encerrou um período de quase 18 anos de Skaf no comando da entidade.

Em dezembro, Josué chegou a ser chamado pelo presidente Lula para ser ministro da pasta atualmente ocupada por Alckmin, mas recusou o convite sob o argumento de que não poderia assumir o cargo e sair da Fiesp dando a impressão de ter sido derrotado por seus detratores. O empresário alegou que, se fizesse isso, pareceria um ‘refugiado‘ dentro do governo Lula.

O gesto não foi suficiente para abafar a crise interna. A pressão aumentou e Josué acabou destituído. Paulo Skaf, mesmo sem pretender voltar diretamente ao comando da entidade, mostrou ter força suficiente para, dos bastidores, determinar os rumos da Fiesp. Resta conhecer agora os próximos passos dessa disputa. E quem será o escolhido para apaziguar os ânimos dentro da mais rica das federações sindicais do país.