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STF autoriza oitivas dos ministros Ramos, Heleno e Braga Netto

06 de Maio de 2020 às 00:04

Decisões têm como base denúncias feitas por Sergio Moro. Crédito da Foto: Evaristo Sá/AFP (19/6/2019)

O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a tomada de depoimentos dos ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). A decisão, que atende a pedido apresentado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, foi tomada no inquérito que apura as acusações do ex-ministro Sérgio Moro de tentativa de “interferência política” do presidente Jair Bolsonaro no comando da Polícia Federal. O decano deu 20 dias para o cumprimento das diligências.

Celso de Mello também autorizou a entrega da gravação de reunião em que os ministros testemunharam ameaça de Bolsonaro contra Moro, além de oitivas com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e seis delegados da PF envolvidos na crise da troca de comando da corporação no Rio de Janeiro, em agosto passado.

Moro prestou depoimento de oito horas na sede da superintendência da corporação em Curitiba no último sábado. O ex-juiz citou Heleno, Braga Netto e Ramos como eventuais testemunhas de ameaças feitas por Bolsonaro caso ele não aceitasse a mudança na PF.

O depoimento

No depoimento o ex-ministro da Justiça disse que sofreu pressão do presidente Jair Bolsonaro para mudar o comando da Polícia Federal e que cabe ao chefe do Executivo responder por que queria a troca. Como prova, ele disse ter recebido uma mensagem de texto de Bolsonaro na qual estaria escrito: “Moro, você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.

No depoimento, Moro relatou preocupação de Bolsonaro com inquérito no STF que mira aliados e afirmou que o mandatário desejava obter acesso a relatórios de inteligência sigilosos. “( ..) o presidente lhe relatou que precisava de pessoas de sua confiança, para que pudesse interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência”, acusou

Questionado se Bolsonaro tinha interesse específico sobre alguma investigação em curso no STF, Moro respondeu que o presidente já o havia abordado sobre uma apuração que mirava deputados bolsonaristas. O caso, de relatoria do ministro Alexandre de Moraes, diz respeito a ameaças, ofensas e fake news contra integrantes da Corte e seus familiares. Na mensagem, Bolsonaro comentou que o avanço do inquérito seria “mais um motivo” para a troca na PF.

“Mentira deslavada”

Pouco depois de o depoimento de Sérgio Moro vir à tona, Bolsonaro fez um pronunciamento em frente ao Palácio da Alvorada, chamando de “mentira deslavada” as acusações feitas pelo ex-auxiliar. Com um celular nas mãos, o presidente mostrou troca de mensagem com Moro dois dias antes da demissão para dizer que o ex-ministro tinha acesso a investigações sigilosas. Também insinuou que Moro vazava informações do governo à imprensa.

Um dia após nomear o novo diretor geral da Polícia Federal, Rolando Souza, o presidente Jair Bolsonaro negou interferência no órgão e se exaltou com jornalistas quando questionado se havia determinado a troca do superintendente do Rio de Janeiro. “Cala a boca”, gritou o presidente nas três vezes que foi indagado sobre o assunto em frente ao Palácio da Alvorada. Ele deixou o local sem responder a perguntas. (Estadão Conteúdo)