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PF pede confisco do celular de Serra em Sorocaba, mas juiz eleitoral nega

21 de Julho de 2020 às 19:20

Toffoli suspende busca no gabinete de José Serra no Senado José Serra é investigado por suspeita de caixa 2 em campanha eleitoral. Crédito da foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado (15/7/2015)

 

A Polícia Federal pediu à Justiça que autorizasse buscas contra o senador José Serra (PSDB-SP) para recolher o aparelho celular usado pelo parlamentar. A solicitação, contudo, foi negada pelo juiz eleitoral Marco Antonio Martin Vargas, que apontou a diligência como medida 'extremamente gravosa' após o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, barrar diligências no gabinete do tucano em Brasília. Serra está internado desde o final de junho em um spa em Sorocaba. Segundo sua assessoria, a Promotoria e a Polícia Federal têm conhecimento da situação atual do tucano.

A coleta do celular de Serra faria parte da Operação Paralelo 23, deflagrada nesta terça-feira (21), para apurar suposto esquema de caixa dois na campanha eleitoral do tucano em 2014. O ex-diretor da Qualicorp, José Seripieri Junior, foi preso.

Segundo o juiz Marco Antonio Vargas, a diligência seria uma medida 'extremamente gravosa' por implicar na 'violação do domicílio e da intimidade' de Serra. O juiz Marco Antonio Vargas também destacou a decisão de Toffoli, que barrou a entrada da PF no Senado por considerar que as buscas poderiam atingir documentos ligados ao desempenho da atividade parlamentar do tucano e, com isso, protegidos por foro privilegiado.

Vargas apontou que, apesar de a decisão do Supremo se limitar somente ao gabinete de Serra no Senado, 'mostra-se mais prudente' interpretar que o tucano poderia fazer uso do celular para tratar de assuntos relacionados ao seu cargo. Para evitar discrepâncias com a Corte, o magistrado afirmou que é recomendado esperar uma resolução de mérito na ação apresentada pela Mesa Diretora ao STF. O caso está sob relatoria do ministro Gilmar Mendes.

"Não obstante a busca e apreensão seja uma medida adequada para a apreensão do celular do investigado, vislumbro que não resta presente a necessidade para o deferimento da medida, uma vez que há meio menos invasivo para obtenção do elemento de prova, consistente na intimação da defesa do representado para a entrega do aparelho, causando menor constrangimento ao investigado que aparentemente está com problemas de saúde", afirmou.

O juiz deu 24 horas para a defesa do tucano apresentar o aparelho caso entenda 'não haver qualquer tipo de ingerência ao desempenho de sua atividade como congressista'.

Lava Jato Eleitoral

O senador é alvo da Paralelo 23, fase eleitoral da Operação Lava Jato. Os investigadores miram suposto caixa dois de R$ 5 milhões na campanha de José Serra ao Senado Federal, em 2014, por meio de uma 'estrutura financeira e societária' encabeçada pelo empresário José Seripieri Junior, da Qualicorp.

"Houve por parte do controlador desse conglomerado empresarial da área de Saúde uma solicitação para uma pessoa que era sócia dele em uma empresa para que criasse toda essa estrutura que tinha por objetivo a transferência de recursos para o candidato investigado", afirmou o delegado Milton Fornazari Júnior, responsável pela Paralelo 23.

Segundo ele, os recursos foram repassados a um grupo que se encarregou da simulação de negócios jurídicos e contratos de compra e prestação de serviços para 'justificar os repasses' que teriam como destinatário final o tucano. De acordo com a PF, Serra teria recebido R$ 5 milhões em três parcelas - duas de R$ 1 milhão e outra de R$ 3 milhões.

"Foi criada assim uma estrutura financeira autônoma e profissional ali para que os recursos fossem repassados de maneira dissimulada visando impedir que as autoridades estatais tivessem o conhecimento daquela fraude", explicou Fornazari.

Com a palavra, José Serra

O senador José Serra foi surpreendido esta manhã com nova e abusiva operação de busca e apreensão em seus endereços, dois dos quais já haviam sido vasculhados há menos de 20 dias pela Polícia Federal. A decisão da Justiça Eleitoral é baseada em fatos antigos e em investigação até então desconhecida do senador e de sua defesa, na qual, ressalte-se, José Serra jamais foi ouvido.

José Serra lamenta a espetacularização que tem permeado ações deste tipo no país, reforça que jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos. Importante reforçar que todas as contas de sua campanha, sempre a cargo do partido, foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Serra mantém sua confiança no Poder Judiciário e espera que esse caso seja esclarecido da melhor forma possível, para evitar que prosperem acusações falsas que atinjam sua honra.

A reportagem fez contato com a criminalista Flávia Rahal, que defende o senador José Serra. O espaço está aberto para manifestação.

Com a palavra, Qualicorp

"A nova administração da Companhia informa que adotará as medidas necessárias para apuração completa dos fatos narrados nas notícias divulgadas nesta manhã na imprensa, bem como colaborará com as autoridades públicas competentes".

O advogado Celso Vilardi, que defende o empresário José Seripieri, afirmou que irá se manifestar assim que tiver acesso aos autos. (Estadão Conteúdo)