“Meu depoimento é como paciente”, diz Davi Uip
David Uip é médico infectologista. Crédito da foto: Divulgação Governo do Estado de São Paulo
David Uip, que chefia o Centro de Contingência contra a Covid-19 criado pelo Estado de São Paulo, voltou ao trabalho recentemente. Uip foi infectado pelo novo coronavírus e deu um depoimento emocionado sobre como sofreu com a doença.
“Gostaria de agradecer a Deus por estar aqui vivo, à minha família pela solidariedade e ao senhor, governador João Doria, que não deixou de me ligar um dia, não para perguntar algo sobre o trabalho, mas para saber como eu estava”, disse Uip.
“Vou dar meu depoimento para mostrar do que se trata essa doença. Há dois domingos, eu me senti muito mal. Estava extenuado, sentado em uma cadeira e, pela primeira vez na vida, me neguei a falar com uma emissora de televisão. Não conseguia. De domingo para segunda, passei muito mal. Na segunda de manhã, fiz o exame e o teste deu positivo para coronavírus, mas a tomografia deu normal. A semana que se seguiu foi de extremo sofrimento”, contou.
Uip explicou que depois de uma semana do diagnóstico positivo para coronavírus, em uma tomografia, foi detectada uma pneumonia. “Esse sentimento de você se ver como médico, infectologista, com uma pneumonia, sabendo que muito provavelmente entre o sétimo e o décimo dia haveria complicações, foi muito angustiante. Indo dormir não sabendo como ia acordar. Mas Deus me ajudou e venci a quarentena. Não é fácil ficar isolado. É de extremo sofrimento, mas é absolutamente fundamental”, contou o infectologista.
E continuou: “Eu tive de me reinventar nesse período. Virei um David Uip mais humilde, sabendo os limites da vida”.
Quarentena
Sobre a ampliação da quarentena, Uip falou que ela vai possibilitar um achatamento da curva da doença. “Meu depoimento é como paciente, não como médico. Quem vai sair vivo é quem estiver sendo atendido em estruturas hospitalares bem equipadas e com equipes médicas bem estruturadas. Isso é claríssimo. Isso (a quarentena) vai permitir que os hospitais públicos e privados se reorganizem. Isso está possibilitando que indivíduos como eu, que ficaram adoecidos, voltem para a frente de trabalho.”
Uip disse que vai voltar a atender pacientes. “Meu testemunho é de quem ficou do outro lado. Não é brincadeira. A quem está subestimando, achando que não é nada, desejo ardentemente que não adoeça. É um sofrimento muito grande. Eu passo a ser um ativo, eu já passei pela doença e eu, teoricamente, não me contamino de novo”, disse, sob aplausos das pessoas presentes no Palácio dos Bandeirantes. (Estadão Conteúdo)