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Média de mortes por Covid mais que duplica em 14 estados e no DF

22 de Março de 2021 às 15:06

Em apenas 30 dias, o número de óbitos pro Covid-19 no Brasil aumentou 98,4%. Crédito da foto: Alex Pazuello/ Semcom (15/05/2020)

A média diária de mortes por Covid-19 mais do que duplicou em 14 estados e no Distrito Federal, ao longo dos últimos 30 dias; em sete deles, essa média triplicou. Neste domingo (21), o País registrou recorde na média móvel de casos (2.255) pelo 23.º dia consecutivo. Especialistas veem cenário crítico, influenciado pela variante brasileira, e pedem a adoção de medidas mais rígidas.

O drama é traduzido nos números do consórcio de veículos de imprensa. A média móvel diária de óbitos no País estava em 1.056, no dia 16 de fevereiro, e pulou para 2.095, um mês depois, alta de 98,4%. No geral, só Amazonas, Roraima (estados com picos em janeiro e fevereiro) e o Rio não assistiram a uma alta nos registros ao longo do mês.

A curva mais vertiginosa está sendo vista no Rio Grande do Sul. Há 30 dias, o Estado relatava média de 41 mortes por dia. Hoje, são mais de 250 vítimas diárias, alta de 500%. No Sul, a alta é acentuada: no Paraná, o aumento é de 322% e em Santa Catarina, de 391%. E há locais com fila de espera por respirador, como no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Pedro Hallal diz que a situação no Estado se deve a um "monte de erros" da política de contenção da pandemia, que representou uma guinada nas medidas, que, de março a setembro, se mostraram efetivas para barrar a doença. "Depois de setembro, a coisa começa a degringolar e o vírus vai infectando muito porque havia mais gente suscetível."

Além do Sul, a situação chama a atenção no Nordeste, onde sete dos nove estados duplicaram o registro de óbitos em 30 dias. No Rio Grande do Norte, as mortes passaram de 7 por dia para 27, aumento de 282%. No Ceará, os óbitos foram de 28 para 84 por dia no período, alta de 196%. Alagoas (103%), Maranhão (160%), Paraíba (188%), Piauí (167%) e Sergipe (213%) também viram a situação piorar de forma acentuada. Na Bahia, a alta ficou em 89% e em Pernambuco, 78%, completando a alta em toda a região.

No Centro-Oeste e no Sudeste, a situação não traz nenhum alívio. O aumento na média de mortes no último mês em São Paulo foi de 96%, saltando de 230 óbitos diários para 452, a maior marca da pandemia.

O estado adotou medidas mais restritivas e algumas regiões optaram pelo lockdown. Prefeitos do ABC pedem que o estado implemente lockdown na região metropolitana, o que até agora não ocorreu. Goiás (155%) e Mato Grosso (181%) também assistiram ao mesmo movimento na curva recente.

Recordes

Março tem se mostrado o mês de recordes da pandemia, com os maiores registros diários e semanais até aqui. Em 13 estados, o mês trouxe a maior média de mortes, na comparação com todo o período da pandemia. Em outros dois estados, a maior marca foi em fevereiro, e, nas outras 12 unidades da federação, apesar da piora recente, as maiores médias ainda pertencem ao pico do ano passado, mas que tem tudo para ser batido nas próximas semanas. A atual média nacional vem tendo o recorde quebrado dia após dia, nas últimas três semanas.

O epidemiologista da Fiocruz Amazônia Jesem Orellana explica que as marcas atuais observadas no Brasil não se devem a um recrudescimento da pandemia na última semana, mas sim a uma alta de casos e internações que se observa desde fevereiro. "A média de agora não é resultado de um agravamento dos últimos 14 dias da pandemia. O número de mortes é um indicador tardio da circulação viral. Na prática, há 30 dias a situação já estava agravada", explica. A Fiocruz mostrou que UTIs de 25 estados e Distrito Federal operam atualmente acima da ocupação de 80%.

Orellana vê um efeito preponderante da propagação da variante brasileira, a P.1, para o cenário trágico atual, além da transgressão a medidas já conhecidas, como o isolamento social. "Infelizmente, houve uma falha estrutural da vigilância laboratorial em não identificarmos as variantes de preocupação sanitária, como a da África do Sul, do Reino Unido e especificamente a P1., a pior de todas. Descobrimos tarde e isso deveria ter levado o governo federal a fazer um bloqueio sanitário rigoroso, fechar aeroportos e não deixar o vírus se espalhar. Mas não foi o que aconteceu."

Agora, nas palavras dele, "o Brasil se transformou em uma grande Manaus", em referência à crise enfrentada em janeiro pela capital amazonense. Problemas como abastecimento de oxigênio e medicamentos necessários para intubação começam a despontar, aos moldes do que enfrentou a cidade no início do ano, mobilizando o País para reequilibrar a oferta de insumos essenciais para a vida dos pacientes com a doença. Para ele, o chamado "evento sentinela", acontecimento de maior gravidade a partir do qual outros estados poderiam tirar lições, não foi aproveitado. Já Pedro Hallal reforça que o momento continua a pedir uma medida rígida, como um lockdown.

Em reação à situação de agravamento da pandemia, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde destacou, no início de março, em carta aberta, que a "ausência de uma condução nacional unificada e coerente dificultou a adoção e implementação de medidas qualificadas para reduzir as interações sociais que se intensificaram no período eleitoral, nos encontros e festividades de fim de ano, do veraneio e do carnaval". O conselho defendeu "restrições em nível máximo" nas regiões com ocupação de leitos acima de 85%.

Na semana passada, o governo federal anunciou uma troca no comando do Ministério da Saúde, com a entrada do médico Marcelo Queiroga no lugar do general Eduardo Pazuello. O tom dos primeiros dias após a mudança foi de "continuidade das ações". O presidente Jair Bolsonaro já se posicionou publicamente de forma contrária ao lockdown e acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar o toque de recolher na Bahia, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul. (Estadão Conteúdo)