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Incêndios na Amazônia brasileira disparam em julho

01 de Agosto de 2020 às 20:59

Imagém aérea divulgada pelo Greenpeace mostra queimada em floresta do estado brasileiro de Rondônia. Crédito da foto: Victor Moriyama / Greenpeace / AFP (24/08/2019)

A ocorrência de incêndios florestais na Amazônia brasileira no mês passado aumentou 28% em relação a julho de 2019, mostraram dados de satélite neste sábado (1), aumentando os temores de que a maior floresta tropical do mundo seja novamente devastada por incêndios este ano.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou 6.803 incêndios na região amazônica em julho de 2020, em comparação com 5.318 no ano anterior.

O número é ainda mais preocupante, já que 2019 já foi um ano devastador em relação aos incêndios na Amazônia, provocando protestos internacionais.

Isso pressionou o Brasil, que abriga cerca de 60% da Amazônia, a fazer mais para proteger a floresta, considerada vital para conter o impacto das mudanças climáticas.

Com frequência, queimadas são usadas ilegalmente para limpar terras para agricultura, pecuária e mineração.

Ativistas acusam o presidente Jair Bolsonaro, um cético das mudanças climáticas, de incentivar o desmatamento com pedidos para abrir a floresta tropical à agricultura e à indústria.

Sob pressão internacional, Bolsonaro enviou o Exército para combater as queimadas e declarou uma moratória para a prática. Mas ativistas afirmam que isto não foi o suficiente para resolver o problema.

Os incêndios aumentaram 77% em terras indígenas e 50% em reservas protegidas desde julho de 2019, informou o grupo ambientalista Greenpeace, demonstrando como as atividades ilegais estão invadindo estas áreas.

Somente em 30 de julho, os satélites detectaram 1.007 incêndios na Amazônia, informou o Inpe.

Esse é o número mais alto registrado em um mês de julho desde 2005, segundo o grupo ambientalista Greenpeace.

"O fato de ter mais de mil focos de calor em um único dia, recorde dos últimos 15 anos para o mês de julho, mostra que a estratégia do governo de fazer operações midiáticas não é eficaz no chão da floresta", disse o porta-voz do Greenpeace, Romulo Batista, em nota.

"A moratória, que proíbe no papel as queimadas, não funciona se não houver também uma resposta no campo, com mais fiscalizações. Afinal, criminoso não é conhecido por seguir leis", acrescentou.

Mas, o governo Bolsonaro tem cortado o orçamento, pessoal e programas desenvolvidos pelo Ibama. "Tudo o que estava funcionando foi jogado pela janela", disse à AFP Erika Berenguer, ecologista especialista em Amazônia das Universidades de Oxford e Lancaster.

"Desmatar é um investimento"

A temporada de incêndios na Amazônia costuma ocorrer entre junho e outubro.

Mas as chamas são apenas parte do problema do desmatamento.

No resto do ano, fazendeiros, garimpeiros e grileiros derrubam a vegetação e se preparam para queimá-la.

Os seis primeiros meses de 2020 foram os piores nos registros de desmatamento na Amazônia brasileira, com 3.069 km2 - uma área maior do que o território de Luxemburgo - segundo dados do INPE.

Se uma parte significativa desta vegetação queimar em 2020, o resultado poderá ser catastrófico, alertam especialistas.

"Eu acho que agosto será o mês do tudo ou nada", disse Berenguer.

Em agosto do ano passado, os incêndios dispararam quase 200% com relação a agosto do ano anterior, a 30.900, provocando uma espessa nuvem negra que chegou a São Paulo, a milhares de quilômetros de distância, e provocando um alarme global.

O número de incêndios caiu desde então, sob escrutínio e pressão crescentes - inclusive de empresas e investidores preocupados com o impacto sobre a imagem do Brasil.

Mas Berenguer afirma que é só questão de tempo para que a terra recém-desmatada queime em nome da agropecuária.

"Desmatar é um investimento econômico. É caro. Você precisa de maquinário: escavadeiras, tratores, pessoas, diesel", explicou.

"Não se desmata para deixar todas aquelas árvores no chão. É preciso queimá-las para recuperar o investimento".

Além disso, a agência espacial americana, Nasa, alertou no mês passado que temperaturas mais quentes na superfície do oceano no Atlântico Norte farão com que a Amazônia enfrente uma grande seca este ano.

"Incêndios provocados pelo homem com fins agrícolas e para limpeza da terra são mais propensos a sair do controle e se espalhar", destacou.

"As condições estão dadas", emendou.

Para piorar a situação deste ano, especialistas afirmam que a fumaça resultante dos incêndios produzirá um pico de emergências respiratórias em uma região já duramente castigada pela pandemia do novo coronavírus.

O Brasil é o segundo país do mundo mais afetado pela Covid-19 (atrás apenas dos Estados Unidos), com mais de 2,6 milhões de contágios e 92 mil mortes. (AFP)