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Entidades divergem sobre adoção do lockdown

02 de Março de 2021 às 00:01

Entidades divergem sobre adoção do lockdown Pacientes recebem tratamento no Hospital Florianópolis (SC), onde todos os leitos de UTI Covid estavam ocupados ontem. Crédito da foto: Eduardo Valente / Estadão Conteúdo

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defende a adoção imediata de lockdown (fechamento) nos Estados em que a ocupação dos leitos de Covid-19 tenha alcançado mais de 85%. Por outro lado, no Distrito Federal, onde o governador Ibaneis Rocha (MDB) decretou o lockdown para conter o avanço do coronavírus, o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF), enviou nota contrária às medidas sanitárias implementadas pelo governo.

Em comunicado divulgado no início da tarde de ontem (1º), o Conass também defendeu a adoção de um toque de recolher nacional, das 20h às 6h, em todo o País, inclusive nos finais de semana, bem como a suspensão do funcionamento das escolas. Na carta, os gestores dizem que o Brasil enfrenta o pior momento da epidemia e criticam a falta “de uma condução nacional unificada e coerente” para a crise.

Os secretários de saúde pedem o recrudescimento das medidas de distanciamento social em todo o País, levando-se em conta “a situação epidemiológica e a capacidade de atendimento de cada região, avaliadas semanalmente a partir de critérios técnicos.” No caso dos estados onde a ocupação dos leitos de Covid-19 ultrapasse 85%, os secretários pedem a adoção do nível máximo de restrição.

“O recrudescimento da epidemia em diversos estados leva ao colapso de suas redes assistenciais públicas e privadas e ao risco iminente de se propagar a todas as regiões do Brasil”, escreveram os secretários. “Infelizmente, a baixa cobertura vacinal e a lentidão na oferta de vacinas ainda não permitem que esse quadro possa ser revertido em curto prazo. O atual cenário de crise sanitária vivida pelo País agrava o estado de emergência nacional e exige medidas adequadas para a sua superação.”

No comunicado, os gestores citam a proibição de eventos presenciais, como shows, cerimônias religiosas e eventos esportivos, a suspensão das atividades presenciais de educação no País, a adoção de trabalho remoto sempre que possível, a instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais (considerando até o fechamento de aeroportos e a suspensão do transporte interestadual), a adoção de medidas para a redução da superlotação dos transportes, além do toque de recolher nacional.

Contraponto

Por outro lado, na nota divulgada ontem, o CRM do distrito Federal diz que o lockdown “já se mostrou ineficaz, condenada até mesmo pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) nas palavras do Dr. David Nabarro: ‘O lockdown não salva vidas e faz os pobres muito mais pobres’”. Mas, como o Estadão mostrou em outubro do ano passado, por meio do projeto Comprova, a frase do enviado da OMS foi retirada de contexto em publicações na internet para sugerir que a entidade condena o lockdown.

Na ocasião, David Nabarro de fato destacou os impactos econômicos e sociais negativos dos lockdowns. Isso não significa, no entanto, que a OMS seja contrária à medida ou que a considere ineficaz. Na mesma entrevista, Nabarro afirmou que os lockdowns são justificados em momentos de crise, para reorganizar os sistemas de saúde e proteger os profissionais que estão na linha de frente do combate à doença. A ideia desta prática é “achatar a curva” de contágio, evitar a superlotação de hospitais e, depois, permitir a reabertura das economias.

Para o CRM-DF, ações preventivas eficazes estão relacionadas a campanhas de educação sobre medidas individuais de higiene, uso de máscaras, distanciamento social, vacinação populacional e ostensiva fiscalização por parte do governo, mas “nunca pela decretação de lockdown”. A reportagem apurou ainda que o conselho também enviará o mesmo posicionamento às assessorias dos deputados federais. (Estadão Conteúdo)