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Com menos UTIs que a Grande SP, interior já teme sobrecarga hospitalar

11 de Maio de 2020 às 12:44

O Estado é o epicentro de casos de contaminação pelo coronavírus no Brasil. Crédito da foto: Chaideer Mahyuddin / AFP

Com mais de 12 internações e 4 mortes por hora no Estado, a interiorização acelerada de casos da covid-19 em São Paulo colocou em alerta autoridades e profissionais de saúde, que não descartam colapso geral da rede de atendimento hospitalar, com a possibilidade de um pico da doença e a aproximação do inverno. Das 645 cidades paulistas, 412 já têm pelo menos um caso confirmado, e há um ou mais óbitos em 177 municípios.

Entre os dias 3 de abril e 1.º de maio, o Estado registrou crescimento de 2.532% nos contaminados no interior, enquanto na região metropolitana o avanço foi de 625%. Ao menos 90 cidades paulistas com até 10 mil habitantes tinham casos positivos de coronavírus até sábado. Dessas, 26 têm menos do que 5 mil habitantes. Em 11 pequenas cidades já houve ao menos uma morte pela covid-19. Nenhuma dispõe de leitos de UTI. De acordo com o pesquisador Raul Borges Guimarães, especialista em geografia da saúde da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a covid-19 pode intensificar o fluxo das pequenas cidades para os centros maiores, causando excesso de demanda.

O Estado é o epicentro de casos de contaminação pelo coronavírus no Brasil, com 3.709 mortes (101 relatadas no último balanço diário) e 45.444 infectados. Levantamento que integra o Plano de Contingenciamento do Estado de São Paulo, feito há duas semanas, sobre hospitais e quantidade de leitos (clínicos e de UTI), existentes e previstos para ampliação para receber os pacientes com covid-19, mostra que havia 5.676 vagas de UTI (adulto e pediatria) para as 645 cidades paulistas. Desse total, 3.144 eram na capital e nas cidades da Grande São Paulo e 2.532 leitos nas cidades do interior e do litoral.

Hoje, são mais de 9,8 mil pacientes internados em SP, sendo 3.909 em UTI e 5.938 em enfermaria. A taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para atendimento da covid-19 é de 67,9% no Estado de São Paulo e 83,3% na Grande São Paulo.

Com 52% da população do Estado, o interior e o litoral paulista tiveram até aqui um cenário distinto do vivido na região metropolitana, onde estavam concentrados até a semana passada 85% dos casos de covid-19. Possível reflexo das medidas de isolamento social iniciadas em março. Mas esse cenário, de aparente tranquilidade, tem mudado e rápido. A taxa de concentração de novos casos da covid-19 no Estado em cidades fora da Grande São Paulo subiu de 15% para 32% na semana passada.

No dia 17 de março - fim da primeira semana da pandemia -, São Paulo tinha 164 casos no Estado e 1 morte, com casos concentrados na Grande São Paulo. Dia 30 de abril, esse número já era de 28.698 casos e 2.735 mortes, com registros espalhados para todas as regiões. Se antes os relatos eram de 7 cidades com registro do primeiro caso a cada três dias, agora são 38 municípios registrando a chegada da doença a cada três dias.

O Secretário de Desenvolvimento Regional do Estado, Marco Vinholi, alertou sobre os riscos dessa interiorização da doença. Se a curva de crescimento for mantida, até o fim de maio todas as 645 cidades paulistas terão registros. "Não existe nenhuma região protegida. Nesse momento, a onda epidêmica está se distribuindo", afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã.

Isolamento

O crescimento de novos casos da covid-19 tem sido mais acelerado nos últimos dias no interior e no litoral do que na Grande São Paulo. A taxa de isolamento social no Estado foi de 47% nos últimos dias, bem abaixo do esperado 70%. Isso levou o governador João Dória (PSDB) a prorrogar a quarentena até o fim do mês, apesar da pressão de diversas cidades por flexibilização.

Para o especialista em geografia da saúde e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Raul Guimarães, o avanço acelerado da doença no interior e no litoral está diretamente relacionado ao relaxamento da quarentena. "O risco de faltar capacidade de atendimento hospitalar para os casos mais graves é grande." O médico pneumologista e professor da Unicamp, Luiz Cláudio Martins, concorda e afirma que a flexibilização da quarentena neste momento seria "algo temerário, que precisa ser tratado com muito cuidado". "Não podemos menosprezar uma doença que, em um dia, matou mais de 700 pessoas. O distanciamento é vital neste momento." (Ricardo Brandt e José Maria Tomazela - Estadão Conteúdo)