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Autor do atentado diz que agiu por motivos pessoais e a mando de Deus

06 de Setembro de 2018 às 21:59

 

Suspeito (sem camisa) de ter esfaqueado o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, é detido por seguranças e policiais. Bolsonaro foi atingido. Crédito da foto: Guilherme Leite/Folhapress

 

Responsável por ter esfaqueado o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), Adelio Bispo de Oliveira, 40, afirmou que a ação foi feita por motivos pessoais e, em certos momentos, declarou que agrediu o deputado a mando de Deus, segundo informações da Polícia Militar. Em depoimento na delegacia, Oliveira afirmou que saiu de casa com uma faca de uso pessoal escondida para acompanhar a comitiva, já com a ideia de utilizá-la contra o deputado.

Oliveira foi filiado ao PSOL de Uberaba (MG) de 2007 a 2014 e em julho visitou escola de tiro de Santa Catarina frequentada por dois filhos do candidato, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ). A assessora da ".38 Clube e Escola de Tiro" Julia Zanata, que é mulher de um dos donos da empresa, disse que há registro da ida de Bispo em 5 de julho deste ano. Ele chegou a compartilhar no Facebook sua visita ao local.

"Ele [Adélio Bispo de Oliveira] foi uma vez. Toda vez que tu vai, tem um cadastro. Ele só foi uma vez lá, dia 5 de julho. O Eduardo Bolsonaro e Carlos Bolsonaro são associados do clube e frequentadores assíduos. Está todo mundo do clube abalado", disse Zanata, afirmando que os filhos de Bolsonaro não estavam nesse dia. "Não sei te dizer quem foi o instrutor do dia. Ele foi provavelmente para praticar tiro, né?"

A ".38 Clube e Escola de Tiro" –o nome é uma referência ao calibre do revólver 38, conhecida como "treisoitão"– afirma, em seu site, ser "referência no país em treinamento de tiro policial e comba- te urbano". Uma sobrinha de Bispo de Oliveira afirmou à reportagem que o tio mudou seu comportamento nos últimos três anos.

Jussara Ramos disse que ele já havia tido um episódio de surto, falava palavras desconexas e ficava dias preso no quarto. "Foi um susto pra gente. A gente não entendeu o que aconteceu com ele. Ele mudou muito nos últimos anos, não falava coisa com coisa", disse, por telefone. De acordo com a sobrinha, o suspeito de esfaquear o presidenciável era missionário da igreja evangélica.

"Estamos sofrendo represálias nas redes sociais. A gente quer que vocês deem oportunidade para ele falar, pra gente poder entender o que aconteceu com ele", completou.

Segundo Jussara, o tio não falava muito de política e a família não sabia da filiação ao PSOL. "Ele sempre foi muito discreto na questão política, nunca relatou nada em relação a isso. Ele só falava que ele queria um mundo melhor, é o que todo mundo quer, né?". A sobrinha ainda afirmou que Adélio Bispo de Oliveira fala dois idiomas fluentemente, inglês e espanhol.

A relação de filiados políticos do Tribunal Superior Eleitoral informa que Bispo de Oliveira integrou os quadros do PSOL –legenda de esquerda criada em 2004 a partir de uma dissidência do PT– de 2007 a 2014, ano em que pediu desfiliação, de acordo com esses registros. Em sua página no Facebook, Oliveira tem várias postagens críticas a Bolsonaro, tendo chegado a compará-lo a um asno. Há também fotos contrárias ao presidente Michel Temer, pedindo a sua saída do cargo.

"A aprovação de Bolsonaro é maior entre os menos estudados, ou seja, só analfabetos e semianalfabetos votam em Bolsonaro", escreveu na rede social em 18 de julho. Dez dias depois, compartilhou um meme do raio-x de um crânio com fezes dentro, acompanhado da seguinte frase: "RX da cabeça de um fã de Bolsonaro".

Em uma antiga postagem ele divulgou uma notícia falsa sobre suposta disparada nas pesquisas de Lula e queda de Bolsonaro. Bispo de Oliveira também compartilhava vários temas críticos à maçonaria. Sua lista de amigos incluem várias pessoas de países de língua árabe. Na área de identificação do Facebook, aparece a seguinte frase: "Não importa em que partido tu militas, nem a ideologia que acreditas ou a fé que tu praticas. Se você tem prazer no triunfo da Justiça, então somos irmãos".

No mês passado, Bispo de Oliveira compartilhou vídeo do ator Alexandre Frota, aliado de Bolsonaro, sendo hostilizado na Câmara municipal de Sorocaba (SP). No vídeo, Frota é chamado de "coxinha". Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, afirmou que o partido não deve responder pelo ex-filiado que atacou Jair Bolsonaro. Disse ainda não ter informações sobre quem era o ex-filiado. "Queremos que ele seja julgado no rigor da lei. Parece que é uma pessoa bem confusa. Se fosse ligado ao PSOL, seria minha responsabilidade. Como não é filiado, não acho que seja da nossa alçada", disse o dirigente partidário.

Depois, o PSOL divulgou uma nota afirmando ter repudiar a "escalada de violência que tem marcado o cenário político nos últimos anos." "O fato de Adelio Bispo de Oliveira ter sido filiado ao PSOL, entre 2007 e 2014, não altera em nada o posicionamento do partido em relação ao inaceitável atentado sofrido por Jair Bolsonaro." (Folhapress)