Jejum Intermitente Prejudica O Metabolismo?
https://www.youtube.com/watch?v=cET6l_Kj0oU
Um mito muito comum diz que o jejum ativaria algum tipo de “modo de sobrevivência”.
(Em inglês, geralmente isso é chamado de “starvation mode”. Algo como “modo de passar fome” em tradução livre.)
Isto é: o corpo perceberia que está com a vida em risco…
E, para preservá-la, diminuiria seu metabolismo.
Tudo isso é muito bacana, e faz muito sentido.
O único problema é que essa explicação está errada.
Isso porque o nosso metabolismo até se comporta desta maneira — mas só em jejuns realmente longos, da ordem de muitos e muitos dias.
Em intervalos menores de jejum intermitente, o que acontece é justamente o contrário: o nosso metabolismo se acelera.
No caso, esse aumento é mediado por hormônios como adrenalina e noradrenalina — o que nos impele para a ação.
Se pensarmos em termos do nosso passado evolutivo, isso faz todo o sentido.
Pois, se estamos há 16h sem alimento, por exemplo, o nosso corpo identifica que precisamos comer.
E o que ele faz: abaixa nosso metabolismo e nos deixa letárgicos e preguiçosos?
Não.
Ele aumenta nosso metabolismo, e nos deixa prontos para ir à caça (ou coleta) de alimentos.
Esta explicação ajuda a entender de forma fácil o aumento do metabolismo que de fato ocorre — e que é corroborado por estudos.
No entanto, a partir de um certo ponto, essa relação não se verifica mais.
Isto é: após um período suficientemente longo de ingestão calórica baixa, nosso metabolismo passa a diminuir.
Isso acontece tanto em jejuns muito prolongados.
Quanto em dietas de restrição calórica que duram muitos meses.
Mas certamente não acontece em jejuns curtos.
Resumindo: Em jejuns curtos, o nosso metabolismo aumenta, e não diminui.
Já jejuns prolongados (vários e vários dias seguidos sem comer) podem causar uma diminuição do metabolismo.
O que também acontece naturalmente em dietas de restrição calórica, se seguidas por muito tempo (termogênese adaptativa).
Referências:
Zauner, C., Schneeweiss, B., Kranz, A., Madl, C., Ratheiser, K., Kramer, L., et al. (2000). Resting energy expenditure in short-term starvation is increased as a result of an increase in serum norepinephrine. The American Journal of Clinical Nutrition, 71(6), 1511–1515. http://doi.org/10.1093/ajcn/71.6.1511
Mansell, P. I., Fellows, I. W., & Macdonald, I. A. (1990). Enhanced thermogenic response to epinephrine after 48-h starvation in humans. American Journal of Physiology-Regulatory, Integrative and Comparative Physiology, 258(1), R87–R93. http://doi.org/10.1152