Endividamento pode afetar a saúde mental
Estresse está ligado a uma série de transtornos, que incluem alterações de humor e dificuldades para dormir

O brasileiro está endividado. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o número de consumidores com dívidas chegou a 77,5% em março, a maior proporção já registrada nos 12 anos do levantamento. A porcentagem é10,3 pontos acima de 2021 (67,3%).
Esse endividamento, no entanto, não é intencional. Basta observar a alta da inflação e o encarecimento de diversos produtos e serviços. Possibilidades como ter educação financeira e pagar menos taxas podem ajudar o consumidor a se organizar melhor para pagar suas dívidas e sofrer menos com esses aumentos. Contudo, antes que isso ocorra, ele acaba sofrendo com estresse e ansiedade.
Alterações de humor
De acordo com uma pesquisa do birô de crédito Acordo Certo, realizada em agosto de 2021, 80% dos brasileiros endividados relataram sentir alterações de humor causadas pelas dívidas. Outros sintomas recorrentes apontados pelo mesmo estudo são:
- 75% sentem dificuldades para dormir ou têm insônia;
- 74% sofrem com crises de ansiedade;
- 66% relataram impacto na vida afetiva e na produtividade de tarefas.
Insônia
E por falar em insônia, uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, em parceria com o serviço de cobrança digital Negocia Fácil, mostrou que 54,8 milhões de brasileiros endividados têm o sono prejudicado. Outros dados apontados pelo levantamento foram:
- 54,1 milhões têm a sua autoestima afetada pelas dívidas;
- 53,5 milhões perceberam impacto no rendimento profissional;
- 45,3 milhões sofrem com alterações de apetite.
Estresse
Todos esses sintomas são consequência do estresse causado pelas dívidas. Sintoma natural do corpo humano, o estresse foi essencial para a sobrevivência da espécie: acredita-se que a humanidade não chegaria aos dias de hoje se não fosse pelo estado de alerta causado pelos hormônios adrenalina, norepinefrina e cortisol.
O estresse é uma reação do organismo a uma situação de tensão. Quando precisa lidar com ela, o corpo age como se estivesse em “ataque” e se prepara para lutar ou fugir. Com isso, libera uma série de hormônios, para prepará-lo para a ação física. Com o passar do tempo, os hormônios regulam-se ao estado normal, mas quando a situação estressante não acaba — quando o indivíduo não sabe como pagar suas dívidas, por exemplo —, os níveis de cortisol continuam altos, o que pode proporcionar uma série de problemas físicos e mentais.
E quanto menor a renda, maior o estresse. Ainda na pesquisa do Instituto Locomotiva, 98% das classes D e E, 94% da classe C e 84% das classes A e B se preocupam muito com as dívidas.
Depressão
A falta de perspectiva em sair da situação de dívidas pode desencadear a depressão, principalmente em pessoas que já têm predisposição genética. Além disso, a falta de dinheiro acaba causando privações ao indivíduo, que vão desde itens básicos do dia a dia até momentos de lazer. Com isso, ele acaba adquirindo sentimentos de inutilidade (de não conseguir pagar o que deve) e descrença (de que o problema possa se resolver), o que só piora o quadro.
Baixa autoestima
Como visto, mais de 50 milhões de brasileiros tiveram sua autoestima afetada por conta das dívidas. O sentimento de inutilidade é um desses reflexos, já que o indivíduo começa a se enxergar incapaz de sair de uma situação financeira ruim. A sensação piora caso ele não tenha um emprego, já que isso pode também se refletir como a ilusão de achar que não consegue conseguir um trabalho.
Por fim, há também a vergonha em dizer para familiares e amigos sobre suas dívidas. Essa carga é ainda mais pesada nas pessoas responsáveis em prover o sustento do núcleo familiar.