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História da moda

Conheça a história de Vivienne Westwood, ícone do estilo punk

A estilista britânica faleceu ontem (29/12), deixando um enorme legado na moda. Do punk ao ativismo, conheça a história de Vivienne Westwood.

30 de Dezembro de 2022 às 15:21
Julia Rolim [email protected]
Do punk ao ativismo: conheça a história de Vivienne Westwood
Do punk ao ativismo: conheça a história de Vivienne Westwood (Crédito: David M. Benett/Getty Images)

Uma das maiores figuras e mais importantes do mundo da moda nos deixou nesta quinta-feira (29/12), aos 81 anos. Nascida no Reino Unido, Vivienne Westwood ficou conhecida como a maior percursora do estilo punk na moda e defensora de causas essenciais para um mercado fashion mais justo, incluindo ações sustentáveis. A estilista faleceu pacificamente em Clapham, no sul de Londres, cercada pela família, segundo comunicado oficial.

Vivienne foi um marco na história da moda, mais especificamente do estilo punk, que foi onde começou sua carreira. E depois disso não parou mais... Conheça um pouco da história dessa grande artista que inspirou e continua inspirando diversos estilistas, e como ela usou da sua imagem para promover boas causas. 

Vivienne Westwood - Benoit Tessier/Reueters
Vivienne Westwood (crédito: Benoit Tessier/Reueters)

 

Vivienne teve uma infância simples, no interior da Inglaterra. Nascida em 8 de abril de 1941, em Glossop, cidade a 298 km de Londres, seu pai era sapateiro e sua mãe trabalhava em uma fábrica de algodão. Aos 17, se mudou com a família para a capital.

Em 1962, a ainda Vivienne Isabel Swire se casou com Derek Westwood, de quem herdou o sobrenome que viria a tornar icônico. O casal teve um filho, Ben, e se divorciou em 1965. No mesmo ano, ela conheceu Malcolm McLaren, estudante de arte e futuro empresário da banda Sex Pistols, com quem teve seu segundo filho, Joseph, e iniciou a sua carreira na moda.

Durante os anos 1970, Vivienne Westwood e Malcolm McLaren comandaram a boutique Kings Road, que teve vários nomes ao longo dos anos, como: Let It Rock; Too Fast to Live, Too Young to Die; Sex; e, durante a era punk, Seditionaries.

Malcolm McLaren e Vivienne Westwood em 1977 - Mirrorpix/Getty Images
Malcolm McLaren e Vivienne Westwood em 1977 (crédito: Mirrorpix/Getty Images)

 

Na mesma época, Mc Laren era produtor da banda Sex Pistols e os caminhos da banda e do estilo de Vivienne ficaram ainda mais entrelaçados, transformando-a em "mãe da moda punk". É a partir daqui que o estilo punk, com suas mensagens anti-establishment e estética DIY, parte para as ruas de Londres. Vestidos emblemáticos, padronagens tartan, peças presas por alfinetes, jaquetas de couro e camisetas rasgadas são alguns elementos da época que estão presentes ate hoje no DNA das criações da estilista.

Os integrantes do Sex Pistols: Johnny Rotten, Paul Cook, Sid Vicious, Steve Jones - Mirrorpix/Getty Images
Os integrantes do Sex Pistols: Johnny Rotten, Paul Cook, Sid Vicious, Steve Jones (crédito: Mirrorpix/Getty Images)

 

Com o fim da banda Sex Pistols, em 1978, e o punk rock sendo absorvido pela cultura mainstream, Vivienne Westwood parte para novos desafios. Em 1981, ela e Malcolm McLaren fazem seu primeiro desfile em Londres. Silhuetas largas e muitos babados dão o tom da coleção, apelidada de Pirate – hoje, considerada a vanguarda do movimento neo-romântico dos anos 1980. O nome oficial da apresentação era World’s End e assim passa a se chamar também a loja no número 430 da King’s Road – como permanece até os dias de hoje.

A dupla desfez seu relacionamento pessoal no mesmo ano, mas seguiu a parceria comercial por mais quatro anos, apresentando outras coleções temáticas. O primeiro desfile em Paris aconteceu em 1982, fortalecendo assim a presença de Westwood na moda internacional – ela foi a segunda inglesa a realizar esse feito.

Pirates, o primeiro desfile de Vivienne Westwood, em 1981 - David Corio/Getty Images
Pirates, o primeiro desfile de Vivienne Westwood, em 1981 (crédito: David Corio/Getty Images)

 

Em 1985, sem a influência do antigo parceiro, suas criações passaram a ser mais estruturadas e femininas. Ao longo de toda a década de 80 e início dos anos 90, ela seguiu se inspirando em referências históricas, principalmente ligadas ao romantismo da era vitoriana e ao agito aristocrata do século XIX. Não por acaso, a Vivianne é considerada a responsável pela volta do espartilho, que acabou se tornando uma de suas assinaturas.

Saias de tule, crinolinas do século XIX em versão míni e tecidos tradicionais britânicos, como o tartan e o tweed, também se tornam seus marcos, sempre ressignificados. 

Os desfiles de Vivienne, na época, pareciam uma viagem no tempo, porém sempre com uma dose característica de irreverência e modernidade avant garde. É quando ela entra para a lista dos maiores estilistas do mundo, ganha prêmios de design, amplia a sua clientela e abre lojas ao redor do mundo.

Vivienne Westwood recebeu honraria da rainha Elizabeth II sem roupas íntimas por baixo do tailleur - Martin Keene - PA Images/Getty Images
Vivienne Westwood recebeu honraria da rainha Elizabeth II sem roupas íntimas por baixo do tailleur (crédito: Martin Keene - PA Images/Getty Images)

 

Conhecida desde a moda punk por suas estampas de "God Save The Queen", seu impacto na cultura inglesa foi tão profundo que, em 1990, aos seus 64 anos, ganhou o título de Lady da Rainha Elizabeth II – ocasião que criou uma imagem icônica a ousadia do seu estilo pessoal: ao se virar para os paparazzi para fotos da cerimônia, revelou que por baixo da saia não usava nenhum tipo de lingerie. Em 2006, ela retorna ao palácio de Buckingham – de novo, e sem calcinha – para receber o título de Dama das mãos do príncipe Charles.

As camisetas God Save The Queen vendidas na Seditionaries em 1977 - Mirrorpix/Getty Images
As camisetas God Save The Queen vendidas na Seditionaries em 1977 (crédito: Mirrorpix/Getty Images)

 

Em 1993, a estilista se casa com Andreas Kronthaler, estudante de design austríaco que conheceu quando lecionava na Escola de Arte Aplicada de Viena. Apesar da diferença de idade – ele é 25 anos mais novo do que ela –, Vivienne se apaixona por seu talento "completamente fora de escala" e o convida para trabalhar com ela em Londres. Os dois formam uma parceria de sucesso nas passarelas e no amor, e seguiram juntos até o fim.

Kate Moss no desfile de Vivienne Westwood da coleção de verão 1994 em Paris - Pool ARNAL/GARCIA/Getty Images
Kate Moss no desfile de Vivienne Westwood da coleção de verão 1994 em Paris (crédito: Pool ARNAL/GARCIA/Getty Images)

 

Seus desfiles sempre foram icônicos, únicos e memoráveis por toda a sua carreira - de aproximadamente 50 anos. Mesmo com todo glamour da moda em que se envolveu ao longo desses anos, Vivienne Westwood nunca abandonou seu viés político.

Desde meados dos anos 2000, ela usa as passarelas de maneira explícita como plataforma de luta. Ela foi uma das grandes ativistas contra as mudanças climáticas, além de protestar contra armas nucleares, prisão ilegal, Brexit e a favor da liberdade de expressão. Frases como "revolução climática", "não somos descartáveis" e "eu não sou terrorista" passaram a estampar as suas camisetas com o mesmo furor que as palavras "fuck" e "caos" eram utilizadas nos tempos de punk rock.

Em 2014, ela disse ao The Guardian: "A mudança climática, não a moda, é agora a minha prioridade". Para o verão 2020, a estilista apresentou uma coleção com metade do tamanho das anteriores, toda feita com roupas sustentáveis. Entre os cartazes, se destacava "o que é bom para o planeta, é bom para a economia".

Vivienne Westwood - David M. Benett/Getty Images
Vivienne Westwood (crédito: David M. Benett/Getty Images)

 

Quase como uma cereja no topo disso tudo, em celebração aos seus 80 anos, a designer e ativista lançou o curta metragem Do not buy a bomb (em tradução livre, não compre uma bomba). A produção foi exibida no telão da praça Piccadilly Circus, em Londres, em abril deste ano. Ambientado na recém-reformada loja da grife no bairro Mayfair, o filme é apresentado como um alerta à indiferença social às catástrofes ambientais que se aproximam e um grito contra o comércio de armas e sua ligação com as mudanças climáticas. Em uma das mensagens, Vivienne Weswood declara: "um dia, em breve, você dirá a coisa certa à pessoa certa na hora certa. Faça a diferença. Sempre combinei moda com ativismo: um ajuda o outro. Talvez a moda possa parar a guerra".

Desfile de Vivienne Westwood na Semana de Moda de Londres verão 2017 - Mike Marsland/Getty Images
Desfile de Vivienne Westwood na Semana de Moda de Londres verão 2017 (crédito: Mike Marsland/Getty Images)

 

Vivienne Westwood sem dúvidas foi um ícone e uma referência na história da moda (você consegue imaginar o mundo sem a cultura punk?). Inspirou e continuará inspirando designers. E é claro, deixará um legado de peso na moda e no ativismo. Precisamos pensar mais nisso. 

Foto oficial anunciando a sua morte  - Reprodução/Instagram
Foto oficial anunciando a sua morte (crédito: Reprodução/Instagram)

 

AGORA ME DIZ: Já conhecia Vivianne Westwood? O que mais chamou a sua atenção?

Me conte por email ([email protected]), vou adorar saber a sua opinião. E me acompanhe também no Instagram (@julia.rolim), posto várias coisinhas por lá. Até a próxima!

Apresentação e contatos - Julia Rolim
Apresentação e contatos (crédito: Julia Rolim)

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