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Meio Ambiente

O deserto do Atacama, no Chile, abriga lixão tóxico da moda

O lixão têxtil a céu aberto é a nova paisagem assustadora do deserto do Atacama, e nele pode-se ver montanhas de roupas. Problema causado pelo consumo excessivo e descarte inapropriado.

19 de Novembro de 2021 às 10:58
Julia Rolim [email protected]
Milhares de peças de roupas descartadas no deserto do Atacama, no Chile
Milhares de peças de roupas descartadas no deserto do Atacama, no Chile (Crédito: Martin Bernetti/AFP)

Um assunto que entrou em evidência há alguns dias e que não pode ser ignorado. O Chile é o maior importador de roupas usadas da América Latina e, também, é lá que encontra-se um lixão a céu aberto de roupas, bolsas e sapatos descartados de diversos países - localizado no deserto do Atacama. 

Se você ainda não viu, as imagens são assustadoras e preocupantes. As montanhas que crescem cerca de 59 mil toneladas por ano entram na zona franca do porto de Iquique, a 1.800 quilômetros de Santiago.

Vista aérea de lixão de roupas em Alto Hospicio, no Chile - Foto: Martin Bernetti/AFP
Vista aérea de lixão de roupas em Alto Hospicio, no Chile (crédito: Foto: Martin Bernetti/AFP)

E este problema imenso se deve ao consumo excessivo e fugaz de roupas, com marcas capazes de lançar mais de 50 coleções de novos produtos por ano. Isso tem feito com que o desperdício têxtil cresça exponencialmente no mundo todo. Resultado do sistema consumista chamado de fast fashion: a "moda rápida", em tradução literal.

Com o fast fashion, vem outros problemas como trabalhadores mal pagos, denúncias de mão-de-obra infantil e condições deploráveis para a produção em massa das vestimentas. A isso se somam hoje valores devastadores sobre o impacto ambiental, tal qual ao da indústria do petróleo.

De acordo com um estudo da ONU de 2019, a produção de roupas no mundo dobrou entre 2000 e 2014, o que também mostra que se trata de uma indústria "responsável por 20% do total de desperdício de água globalmente". O mesmo relatório indica que somente a produção de um par de jeans consome 7.500 litros de água e ainda destaca que a fabricação de roupas e calçados gera 8% dos gases de efeito estufa. E também que "a cada segundo é enterrada ou queimada uma quantidade de tecidos equivalente a um caminhão de lixo".

Mulheres procuram roupas em meio a descarte em Alto Hospicio, no deserto do Atacama - Foto: Martin Bernetti/AFP
Mulheres procuram roupas em meio a descarte em Alto Hospicio, no deserto do Atacama (crédito: Foto: Martin Bernetti/AFP)

"O problema é que a roupa não é biodegradável e contém produtos químicos, por isso não é aceita nos aterros municipais", afirmou Franklin Zepeda, fundador da EcoFibra - empresa de economia circular que produz painéis isolantes com base nessas roupas descartáveis.

Além das milhares de roupas que podemos ver na superfície, no subsolo há mais peças cobertas com a ajuda de caminhões, na tentativa de evitar incêndios causados pelos produtos químicos e tecidos sintéticos que as compõem. E as roupas enterradas ou expostas também liberam poluentes no ar e nos corpos d'água subterrâneos típicos do ecossistema do deserto. A moda, como pode-se notar, é tão tóxica quanto pneus ou plásticos.

Mulheres procuram roupas em meio a descarte em Alto Hospicio, no deserto do Atacama - Foto: Martin Bernetti/AFP
Mulheres procuram roupas em meio a descarte em Alto Hospicio, no deserto do Atacama (crédito: Foto: Martin Bernetti/AFP)

Olha só como essa bola de neve veio crescendo e agora desmoronou nesse gigante e irreversível problema ambiental.

A moda a qualquer custo; o consumo não consciente. Este lixão tóxico é o preço pago escondido através dos preços baixos das roupas de baixa qualidade que consumimos e em pouco tempo descartamos. Será que vale mesmo a pena consumir por impulso? Vale a pena pagar barato por uma peça? Deixo aqui esta reflexão.

Mulheres procuram roupas em meio a descarte em Alto Hospicio, no deserto do Atacama - Foto: Martin Bernetti/AFP
Mulheres procuram roupas em meio a descarte em Alto Hospicio, no deserto do Atacama (crédito: Foto: Martin Bernetti/AFP)

AGORA ME DIZ: Você acha que se mudarmos o nosso consumo, vai melhorar esse problema ou continuará igual?

Me conte por email ([email protected]), vou adorar saber a sua opinião. E me acompanhe também no Instagram (@julia.rolim), posto várias coisinhas por lá. Até a próxima!

Apresentação e contatos - Julia Rolim
Apresentação e contatos (crédito: Julia Rolim )

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