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Alta-Costura

Tudo sobre a Alta-Costura e porque o termo é usado de maneira errada

Aprenda tudo sobre a tão aclamada "Alta-Costura" e entenda porque o termo é usado de maneira muito errada no Brasil

08 de Outubro de 2021 às 12:00
Julia Rolim [email protected]
Christian Dior, couturier du rêve 2017
Christian Dior, couturier du rêve 2017 (Crédito: Reprodução/Pinterest)

Com certeza você já viu ou conhece algum ateliê que usa o nome "alta-costura" para se referir a roupas mais formais ou moda festa sob medida. Porém, já te digo de início que isso é errado - muito errado. Não existe no Brasil, e o único lugar do mundo onde a alta-costura existe de fato é em Paris. 

Fique neste texto e entenda de uma vez tudo sobre a Alta-Costura

Giambattista Valli Haute Couture 2020 - Reprodução/Pinterest
Giambattista Valli Haute Couture 2020 (crédito: Reprodução/Pinterest)

Como tudo começou...

Começou em Paris, por volta de 1858, com o costureiro Charles Frederick Worth (também conhecido como "o pai da alta-costura"). Suas roupas, feitas com materiais da mais alta qualidade e sofisticação, vestiam a elite e a realeza européia na época. Suas criações tornaram-se símbolos de mulheres de poder e dinheiro. Charles também foi pioneiro em organizar desfiles utilizando modelos. Além de também ter sido o primeiro a colocar etiqueta nas peças de seu ateliê. Um visionário, né?

Mas afinal, o que é a Alta-Costura?

O que se caracteriza a alta-costura (haute couture) é a moda exclusiva, feita à mão, com materiais de altíssima qualidade. O órgão que define qual grife se enquadra nesse título ou não é a Federação da Alta Costura e da Moda (antiga Chambre Syndicale de la Haute Couture), que revê o grupo de marcas anualmente. O termo é legalmente protegido e controlado e só pode ser usado pelas casas que receberam essa designação pelo Ministro da Indústria na França.

regras rígidas para fazer parte deste título, como ter um ateliê em Paris, empregar ao menos uma equipe em tempo integral de 15 pessoas, fazer as peças sob encomenda com ao menos uma prova de roupa e apresentar suas coleções publicamente duas vezes por ano, com ao menos 35 looks para dia e noite. A seguir a lista das principais regras e exigências: 

  • Matéria prima de alta qualidade;
  • Feitos 100% á mão. Todo o processo é feito de forma artesanal sem o uso de máquinas;
  • Modelos ÚNICOS;
  • Necessário apresentar 2 coleções anuais com no mínimo obrigatório de 35 modelos;
  • Ter sede em Paris, num prédio com no mínimo 5 andares, entre as avenidas Champs-Élysées, Marceau e Montaigne (sendo que um desses andares deve ser específico para desfiles e outro um salão preparado para o atendimento das suas clientes);
  • Ter uma equipe fixa de profissionais altamente qualificados;
  • Ter pelo menos 1 rótulo de perfume e linha de acessórios e sapatos no prét-á-porter (linha de produtos prontos).

Vestido inspirado em Dior Couture - Reprodução/Pinterest
Vestido inspirado em Dior Couture (crédito: Reprodução/Pinterest)

Ao contrário do que parece, a alta-costura tem mais a ver com técnica e não com alto preço. É um segmento com pouquíssimos clientes e que não rende lucros para as empresas. Mas qual é o ponto então? Assim como as marcas de carro mostram sua expertise por meio da criação de supermáquinas, os estilistas usam a alta-costura como um posicionamento, uma forma de mostrar suas maiores habilidades técnicas e criativas. Todos os limites são mais elásticos, já que os custos saem como se fosse uma estratégia de marketing mesmo - maior visibilidade e reconhecimento profissional.

Algumas peças podem chegar a até 1000 horas de trabalho. Lady Amanda Harlech, colaboradora antiga de Galliano e veterana da Couture (trabalhou 18 anos na Chanel), conta que um terno da marca é feito por duas pessoas trabalhando o dia inteiro por duas semanas. Horas, dias e até semanas são gastos na confecção de uma peça de alta-costura. É uma obra de arte, porém usada em um corpo. 

As redes sociais ajudaram a Alta-Costura a se tornar um mundo de inspiração e desejo mesmo para quem não tem o poder de comprar. E ainda detona tendências, como aconteceu com os tênis vistos nas passarelas de alta-costura da Chanel e Dior.

Dior Inverno 2021 Haute Couture - Reprodução/Pinterest
Dior Inverno 2021 Haute Couture (crédito: Reprodução/Pinterest)

Quais marcas fazem parte da Alta-Costura? 

Fazem parte da Federação Francesa de Alta Costura as casas: Chanel, Dior, Schiaparelli, Maison Margiela, Valentino, Givenchy, Atelier Versace, Zuhair Murad, Elie Saab, Bouchra Jarrar, Stéphane Rolland, Jean Paul Gaultier, Viktor & Rolf, Adeline Andre, Ulyana Sergeenko, Fendi, Giorgio Armani Privé, Alexis Mabille, Maurizio Galante, Alexandre Vauthier, Giambattista Valli, Ralph & Russo, Franck Sorbier e Iris Van Herpen.

Quanto custa uma peça de Alta-Costura?

Bom, preço não é uma preocupação para as consumidoras globais de alta-costura. Uma peça sem muitos ornamentos pode começar em US$ 10 mil, de acordo com um artigo publicado no "The Telegraph". Já para os modelos de noite, não há limites, e o preço pode bater na casa dos milhões quando pedras preciosas são usadas.

Ziad Nakad Couture 2021 - Reprodução/Pinterest
Ziad Nakad Couture 2021 (crédito: Reprodução/Pinterest)

Quem compra ou consome a Alta-Costura?

Estima-se que há cerca de quatro mil clientes de alta-costura no mundo. Jean Paul Gaultier afirma que de todas as suas clientes, cerca de 60 consomem couture. Aliás, cliente é um termo chulo para defini-las. Na Alta-Costura, elas são reconhecidas como "colecionadoras".

Há também, entre as marcas, uma percepção de que a idade da consumidora está diminuindo. A Dior afirma que a faixa etária baixou de 40 para 30 anos. Abaixo algumas razões:

  • as roupas são mais usáveis hoje do que antigamente;
  • jovens consumidoras milionárias fazem vestidos de noivas e outras celebrações importantes com estilistas de Alta-Costura, sendo sua “passagem” para esse universo de luxo sem fim;
  • elas logo passam a ser paparicadas pelas marcas e recebem convites de fila A para ver os desfiles e, sem seguida, fazer suas encomendas;
  • é um sinal de status dentro de seu grupo e nada mais original do que uma peça de alta-costura, feita sob medida, ao seu gosto.

Esse grande patrimônio geralmente vem de família ou de casamentos, que resultam em verdadeiras histórias de Cinderela. Além das jovens herdeiras, estima-se que outra fatia de público que está aquecendo o segmento são as empresárias da área de tecnologia, maduras profissionalmente, porém ainda jovens, e que ganham uma fortuna por mês.

Nós, brasileiros, não somos tão adeptos a alta-costura devido a nossa cultura mesmo. Porém, um porta-voz da Atelier Versace já disse que algumas brasileiras encomendam pela internet e depois vão à Itália fazer as provas de roupa. Que luxo, hein? 

Schiaparelli Inverno 2021 Couture Fashion - Reprodução/Pinterest
Schiaparelli Inverno 2021 Couture Fashion (crédito: Reprodução/Pinterest)

CONCLUINDO: Por conta da exclusividade de Paris e todas essas regras, não existe nenhuma marca ou grife brasileira que se enquadre ou possa receber o título de alta-costura. Agora que você aprendeu tudo sobre a alta-costura, entende que esse termo - usado por muitos ateliês de moda festa ou roupas sob medida- é usado de maneira muito equivocada aqui no Brasil. 

Inside Christian Dior: Designer Of Dreams Exhibition - Reprodução/Pinterest
Inside Christian Dior: Designer Of Dreams Exhibition (crédito: Reprodução/Pinterest)

AGORA ME DIZ: Você já sabia de todas essas regras? Gosta desse conceito da Alta-Cultura?

Me conte por email ([email protected]), vou adorar saber a sua opinião. E me acompanhe também no Instagram (@julia.rolim), posto várias coisinhas por lá. Até a próxima!

Apresentação e contatos - Julia Rolim
Apresentação e contatos (crédito: Julia Rolim )

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