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Folia do Divino toma conta do centro de Itu neste domingo

01 de Junho de 2019 às 02:54

Marinaldo Cruz Filho

Comitiva do Divino, formada por músicos e fiéis católicos representando a Corte Portuguesa, vai a sete pousos para anunciar a visita do Espírito Santo Comitiva de músicos e fiéis representando a Corte, vai a sete pousos para anunciar a visita do Espírito Santo (DIVULGAÇÃO)

Quem aprecia manifestações folclóricas ou simplesmente gosta de passeios diferentes não pode deixar de visitar Itu neste domingo (2). A partir das 9h30, as ruas centrais da cidade abrirão espaço para a passagem do tradicional Cortejo Solene da Bandeira do Divino Espírito Santo. Também conhecida como Folias do Divino, a celebração é realizada no município há cerca de 250 anos.

Durante o evento cultural-religioso de mais de seis séculos de existência, o cortejo formado por músicos, cantores e fiéis católicos, usando camisa branca e lenço vermelho sobre os ombros, visita as residências e demais prédios do trajeto para comunicar a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo e sobre Maria, sua mãe. A celebração faz parte do Pentecostes, que acontece 50 dias após a Páscoa.

Quase extinta na maioria das grandes cidades, as Folias do Divino já foi um dos rituais mais populares em Portugal e nos países de colonização lusitana. Em Itu, a prática sobrevive graças à parceria do poder público com iniciativas comunitárias. Atualmente, o Cortejo Solene é uma iniciativa do Museu da Música. A organização fica a cargo do Núcleo Cultural da Folia do Divino de Itu, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura, Museu da Energia, Espaço Fábrica São Luiz, Associação Cultural Vozes de Itu e Instituto Cultural de Itu.

Religião e cultura

De acordo com a tradição, a comitiva das Folias do Divino é presidida pelo alferes, uma antiga patente militar portuguesa que equivalia a um posto logo abaixo de tenente. A este personagem compete carregar a Bandeira do Divino e anteceder os companheiros em cada visita realizada durante o trajeto, os chamados pousos.

Até o início do século passado, o encargo de alferes era disputado como se fosse uma eleição política, com direito a campanha de porta em porta. Nos dias atuais, a escolha é feita por meio de consenso entre os organizados. Neste ano, a tarefa coube ao empresário Gilberto Romanatto.

Em cada pouso, ao som de violas caipiras, tambores, rabecas e do Coral Vozes de Itu, o alferes entroniza a Bandeira em local de destaque e previamente ornamentado pelos moradores da casa. Em seguida, a família visitada e seus vizinhos se reúnem para receber as Bênçãos do Divino. Além da cantoria dos violeiros, o coral entoa as Jaculatórias do Divino Espírito Santo.

Outra cerimônia importante durante a Folia é a recitação dos sete dons do Divino Espírito Santo. Estes são lembrados nas orações conduzidas pelo curador da comitiva.

Comitiva visita sete pousos, orando, cantando e tocando Comitiva visita sete pousos, orando, cantando e tocando (REPRODUÇÃO)

Percurso da Comitiva

O percurso da Folia do Divino de Itu em 2019 é o seguinte:

- 1º Pouso, às 9h30 - Museu da Música (Rua Floriano Peixoto, 480);

- 2º Pouso, às 10h00 - Espaço Fábrica São Luiz (Rua Paula Souza, 492);

- 3º Pouso, às 10h15 - Lar Escola Santo Inácio (Rua Paula Souza, 564);

- 4º Pouso, 10h30 - Antiquário Lila (Rua Paula Souza, 607);

- 5º Pouso, 10h45 - Museu da Energia (Rua Paula Souza, 669);

- 6º Pouso, 11h00 - Antiquário Casa Amarela (Rua Paula Souza, 740);

- 7º Pouso, 11h15 – Espaço Cultural Almeida Júnior (Rua Paula Souza, 664, no Centro).

No Espaço Cultural Almeida Júnior, a Folia do Divino de 2019 chega ao fim com a solene colocação e canto de despedida da Bandeira do Divino Espírito Santo. Todos os pousos permanecem abertos no domingo pela manhã, para visitação pública.

Aquarela de Miguel Dutra retrata as Folias do Divino em Itu, por volta de 1840, quando carros de boi faziam parte do cortejo Aquarela de Miguel Dutra retrata as Folias do Divino em Itu em 1840, quando carros de boi faziam parte do cortejo (REPRODUÇÃO)

Sete séculos de tradição

Segundo a tradição, as Folias do Divino tiveram origem em Portugal, nas primeiras décadas do século XIV. A iniciativa teria sido da rainha Isabel (1271-1336), esposa do rei D. Diniz (1261-1325), com a construção da Igreja do Divino Espírito Santo, na Vila de Alenquer, localizada nos subúrbios de Lisboa.

Da capital do império, a comemoração se espalhou para as colônias, chegando ao Brasil no século XVI. Em pouco tempo, a festa fazia parte do calendário da maioria das cidades e vilas, especialmente nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A comitiva completa da Folia inclui todos os personagens que compunham a Corte Portuguesa, dos pajens ao próprio imperador.

Conforme o historiador Luiz da Câmara Cascudo, a festa popularizou-se a ponto de ter motivado José Bonifácio, "astutamente", a escolher para Pedro I o título de Imperador, e não de Rei, "porque o povo estava mais habituado com o nome", por causa do Divino.

Apesar de sobreviver em poucas cidades, algumas características do evento se mantêm, como a Bandeira do Divino. O principal símbolo do evento é enfeitado com fitas coloridas, que são substituídas ano a ano. À medida que o cortejo segue, as fitas recebem nós, feitos pelos visitados, muitos deles fazendo pedidos ao Espírito Santo.

Carros de boi

Registrada em aquarela por Miguel Dutra e citada nas crônicas de Francisco Nardy Filho, as Folias do Divino foram tradição significativa em Itu, entre o século 18 e meados dos anos 1900. Durante muito tempo, a festividade incluía carros de bois enfeitados e adaptados para que as rodas fizessem o maior barulho possível. "Da Igreja do Carmo era possível ouvir o som assustador do desfile que começava na Estação do Trem e subia a Paula Souza até a Rua Barão do Itaim", relata Raul Machado de Carvalho, lembrando que os carros mais bonitos e barulhentos ganhavam prêmios.

O interesse da população pela Folia, no entanto, diminuiu a partir de 1970, chegando a desaparecer por algumas décadas. A retomada da tradição aconteceu em 2014, por iniciativa do Museu da Música.

Serviço

Mais informações sobre a Folia do Divino de Itu podem ser obtidas no site da Prefeitura de Itu.

O Município de Itu está localizado no nordeste da Região Metropolitana de Sorocaba. Fica a 40 quilômetros de Sorocaba, a 120 quilômetros de São Miguel Arcanjo e a 80 quilômetros de Tatuí.

* Com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Itu.

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