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Bem-estar

Atividade física ajuda no tratamento contra o câncer

A fadiga é uma das manifestações mais frequentes durante o tratamento oncológico

16 de Novembro de 2023 às 23:01
Beatriz Falcão [email protected]
Aos 74 anos, Vera Lúcia (centro) segue as orientações da Maple Tree e faz da atividade física uma aliada
Aos 74 anos, Vera Lúcia (centro) segue as orientações da Maple Tree e faz da atividade física uma aliada (Crédito: ARQUIVO PESSOAL)

Quando colocamos o nosso corpo em movimento, seja em uma atividade física leve ou moderada, reduzimos os excessos de estrogênio e de testosterona, a taxa de açúcar no sangue e de tecidos adiposos - principal local de estocagem de gordura. Todos esses fatores contribuem para a proteção contra o câncer.

É dentro desse cenário que a organização mundial sem fins lucrativos Maple Tree Cancer Alliance ganhou destaque. A iniciativa nasceu entre os profissionais da área da saúde em Ohio, nos EUA, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas submetidas as tratamentos oncológicos. Atualmente, a instituição atua em 50 países e, no Brasil, em duas cidades, Juiz de Fora-MG e Sorocaba-SP.

“A atividade física é indicada durante e até mesmo após o tratamento oncológico, pois pode contribuir para a redução de efeitos colaterais decorrentes da quimioterapia, para a redução do risco de recorrência da doença, e para melhorar a efetividade do tratamento”, explica a mastologista e diretora da Maple Tree Brasil, Alice Francisco.

Foi graças à médica que a organização chegou em terras sorocabanas e, hoje, é responsável pela melhora de, aproximadamente, 100 pacientes. “É muito interessante o retorno das pessoas que estão em atendimento, a resposta é muito boa, a melhora da qualidade de vida é bastante significativa”, conta orgulhosa.

Vidas Transformadas

Vera Lúcia de Barros Louzada, de 74 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama em 2020, após encontrar um nódulo no seio esquerdo durante o autoexame. “Eu tinha 70 anos na época e realizava os exames de rotina, como mamografia e ultrassom, mas acreditava que, com essa idade, já tinha tido tudo o que precisava ter”, relata.

Já aposentada, Vera descreve o momento com as palavras “dor” e “sofrimento”. O seu tratamento durou um ano com catorze sessões de quimioterapia, sendo dez brancas e quatro vermelhas - uma classe com medicamentos mais agressivos -, e quinze sessões de radioterapia. No entanto, reencontrou amor, afeto e conforto na Maple Tree.

“O meu radiologista recomendou a prática de exercícios físicos e, assim, aconteceu o meu primeiro contato com a Maple Tree”, conta Vera Lúcia. “Fui tratada com muito amor, as pessoas foram muito carinhosas e consegui superar a doença!”

Em quatro meses de exercícios com personal, entre caminhadas e musculação, Vera já notou melhora. “Eu não tinha o costume de praticar atividade física, no máximo andava da cama para a cadeira e da cadeira para a cama. Hoje, eu consigo caminhar três mil metros. É uma vitória para mim, estou curada, e não vou parar com os exercícios”.

Além de recomendar a prática de atividades físicas, Vera Lúcia ressalta a importância do autoexame. “É extremamente necessário! Às vezes o nódulo não aparece na mamografia ou no ultrassom, como foi o meu caso. O autoexame garante o diagnóstico precoce”.

Exercício físico

A fadiga é uma das manifestações mais frequentes durante o tratamento oncológico. De acordo com estudos da Universidade Federal Fluminense (UFF), o esgotamento é prevalente em 80 a 90% dos pacientes tratados com quimioterapia e radioterapia, que a descrevem como intenso e, por muitas vezes, limitam suas atividades.

“A atividade física ajuda a reduzir não só a fadiga, mas todos os impactos do tratamento, como dor, náuseas, indisposição, neuropatia periférica, aspectos psicológicos e aderência ao tratamento, entre tantos outros”, cita Jader Brito, personal trainer há 15 anos e pós-graduado em Reabilitação Cardíaca.

Atualmente, Jader está à frente da coordenação de exercícios da Maple Tree e atende, com os demais profissionais capacitados, em quatro pontos de Sorocaba: Studio Run Up, no Campolim; Associação Cristã de Moços, em Votorantim; Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços (Fefiso); e no Hospital do Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), ambos em Sorocaba.

“Os treinos são montados seguindo as recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Sociedade Americana de Oncologia (Asco)”, explica o profissional. “Ou seja, são 75 minutos intensos a 300 minutos de treinamento aeróbico moderado e musculação duas vezes na semana”.

A atividade física pode começar junto com o do tratamento, levando sempre em consideração as características de cada paciente. Portanto, cada intervenção do exercício é individualizada de acordo com o status e as metas de saúde.

“A nossa missão é melhorar a qualidade de vida de pessoas que estão lutando contra o câncer, por meio do exercício físico”, finaliza Jader.

Como Participar?

No momento, todas as vagas estão preenchidas. Os pacientes interessados podem responder o formulário disponível no site da organização, https://mapletreebrasil.org/formulario/, para entrar na lista de espera.

Por se tratar de uma organização sem fins lucrativos, Alice Francisco explica que os trabalhos dependem de doações. “Ao mesmo tempo em que é gratificante, pelo lado dos pacientes, nós temos um desafio muito grande que é a manutenção do atendimento. As doações ainda não nos permitem atender todos os que estão na fila de espera”.

As doações podem ser realizadas também no site da Maple Tree, em https://mapletreebrasil.org/como-doar/. (Beatriz Falcão - programa de estágio)