Editorial
As derrapadas da diplomacia brasileira
O governo atual defende, com unhas e dentes, ditadores que não merecem o menor respeito
O atual governo brasileiro tem colecionado diversas críticas, ao redor do mundo, pelas posturas que têm adotado, desde janeiro, em sua política internacional. Em alguns casos, o país virou motivo de troça, em outros foi acusado de pactuar com ditaduras totalitárias que desrespeitam os mais básicos princípios dos direitos humanos.
Em pouco mais de sessenta dias no governo, Lula já mostrou que apesar da pose de democrata continua a defender amizades, no mínimo, suspeitas. De cara, o atual presidente brasileiro apresentou um estapafúrdio plano de paz para o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Pela proposta de Lula, vários países não envolvidos na guerra entrariam como mediadores, até se chegar a um consenso. Os líderes dos principais países do Ocidente sequer prestaram atenção à proposta.
O presidente russo disse, com todas as letras, que não há necessidade de mediadores. Já a Ucrânia criticou a posição de Lula dizendo que essa guerra só tem um lado certo e querer ignorar isso não merece qualquer consideração.
Em sua postura dúbia, Lula ainda causou prejuízo ao Brasil. Por não atender a um pedido alemão de envio de munições para a Ucrânia, o país foi penalizado na venda de tanques de guerra para as Filipinas. Sem autorização do governo de Berlim, parceiro no projeto, o negócio foi temporariamente suspenso.
Depois disso, o governo brasileiro decidiu autorizar a entrada de navios iranianos no Rio de Janeiro. O governo dos Estados Unidos havia solicitado que essa permissão não fosse dada. O Irã está na lista do Departamento de Estado americano de países que patrocinam o terrorismo e essa missão marítima iraniana é cheia de mistérios.
Países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai, já tinham negado o pedido iraniano para que os navios atracassem em seus portos. A decisão brasileira acabou causando ruídos nas relações com os EUA.
Integrantes do governo dos Estados Unidos classificaram o deslocamento de navios iranianos como uma forma de provocação. O senador republicano Ted Cruz, chegou a propor sanções contra instituições brasileiras por conta desse episódio.
O ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitou o caso para criticar o governo Lula durante palestra em Washington. Israel também mostrou insatisfação diante da decisão brasileira.
Em nota, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores disse que o país vê a atracagem de navios de guerra iranianos no Brasil como “um desenvolvimento perigoso e lamentável”.
Só que as confusões do governo Lula não pararam por aí. O representante do Brasil permaneceu em silêncio durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU na sexta-feira, 3, sobre a situação dos direitos humanos na Nicarágua e ações autoritárias e violentas do presidente Daniel Ortega.
Segundo um grupo de especialistas da ONU, o governo nicaraguense cometeu violações sistemáticas dos direitos humanos, as quais constituem “crimes contra a humanidade”. Como o presidente Lula e Ortega são amigos há muito tempo, o Brasil preferiu não condenar as atitudes do aliado.
Durante a campanha eleitoral, Lula, por várias vezes, preferiu minimizar os problemas da ditadura instaurada na Nicarágua por Ortega. Durante a reunião da ONU, manifestaram-se contra Ortega representantes de mais de 100 países incluindo a União Europeia, o Canadá, os Estados Unidos e até ditaduras como a China, Cuba e Irã.
Mesmo diante desse cenário, o Brasil optou por omitir qualquer opinião. A postura do governo Lula foi amplamente criticada pelas outras nações. O Ministério das Relações Exteriores preferiu não se pronunciar sobre o ocorrido.
O governo atual defende, com unhas e dentes, ditadores que não merecem o menor respeito. O Irã tem executado em praça pública dezenas de cidadãos que ousaram contrariar regras anacrônicas e lutar por um pouco de liberdade.
O governo de Daniel Ortega prendeu opositores e religiosos. Mantém-se no poder graças ao uso da violência e da censura à imprensa. E, mesmo assim, Lula prefere mantê-los como aliados. Se o Brasil pretende voltar com força ao cenário internacional, vai ser preciso deixar de lado ideologias ultrapassadas e aderir ao grupo de países que realmente luta pela garantia plena dos direitos humanos e da liberdade de expressão.