Editorial
Argentinos provam que eleição é uma caixinha de surpresa
A vitória de Massa no 1º turno causou surpresa; afinal, ele é o responsável direto pelo desastre econômico argentino
Benjamin Wright (1919-2000), radialista que fez história na crônica esportiva carioca, principalmente pelos seus geniais comentários, disse certa vez que “o futebol é uma caixinha de surpresas”.
Parafraseando Wright, eleições também! Neste final de semana, os argentinos provaram isso. Usando cédulas de papel, 77,65% dos mais de 35 milhões de argentinos aptos a votar nas eleições nacionais compareceram às urnas no domingo (22), superando os 69% das primárias em agosto, que tiveram um alto índice de absenteísmo, informou a Câmara Nacional Eleitoral (CNE).
E o que as urnas mostraram: que os argentinos querem mais tempo para “pensar” e que ainda tendem a dar crédito à forma como a Argentina vem sendo conduzida.
A decisão de quem será o novo presidente da Argentina foi para o segundo turno, a ser disputado no dia 19 de novembro entre o governista ministro da Economia de Alberto Fernández -- Sergio Massa -- e o candidato de direita, Javier Milei.
A candidata conservadora Patricia Bullrich ficou na terceira colocação, confirmando as projeções.
A vitória de Sergio Massa no primeiro turno causou surpresa. Afinal, ele é o responsável direto pelo desastre econômico argentino, país que tem uma inflação anual de 138%, um dos piores índices do mundo.
Milagrosamente, o ministro conseguiu superar Milei -- aos “45 minutos do segundo tempo” --, para consolidar sua vitória no primeiro turno e levar para o segundo turno a vantagem de ter sido o mais votado.
Ele teve mais de 36%, contra os 30% de Milei, graças, segundo analistas, ao apoio do kirchnerismo, força com a qual, em 2015, ele mesmo bateu de frente e ajudou a tirar do poder.
Não se pode negar que foi habilidoso o suficiente para buscar a unificação dos votos fiéis ao peronismo, em movimentações típicas do processo eleitoral sul-americano.
A verdade é que o argentino não aguenta mais viver num país de incertezas nem a própria Argentina quer isso.
Porém, mudança de rumo de governo não é uma ciência exata. Há muita coisa em jogo e um futuro cada vez mais incerto.
Massa, enquanto governo, representa o desgaste administrativo fruto de quatro anos de desagrados por todos os lados e o caos econômico, com reflexos na falta de empregos e um crescente na violência, de forma generalizada.
Milei, por sua vez, um populista de direita, surge com um plano que promete transformar a Argentina em três etapas, mas que demandam 35 anos, a partir de sua eleição e eventual posse, em 10 de dezembro.
O plano inclui um corte significativo nas despesas públicas e uma reforma para reduzir os impostos, ministérios, com flexibilidade nos locais de trabalho, além da dolarização da economia argentina.
No primeiro turno, enquanto Massa conseguiu unificar correntes do poder, Milei dividiu os votos da direita com Patrícia Bullrich.
Para o segundo turno, a missão de Massa é sustentar o que já construiu e a de Milei buscar os votos que foram dados a Bullrich.
Mas, ninguém garante nada. É outra eleição! A certeza é que o futuro da Argentina continua incerto.
Outro país que foi às urnas no domingo foi a Suíça, uma das nações mais competitivas do mundo, onde tudo funciona e vai bem no setor público, a dívida é relativamente baixa -- principalmente em razão da redução de despesas administrativas e graças a um sistema tributário competitivo e a um regime fiscal federal competente e funcional --, o que o torna atraente para as empresas.
No mesmo domingo em que os argentinos adiavam a decisão sobre o futuro de seu país, os suíços deram mais voz e poder de decisão à direita.
O Partido Popular Suíço foi o vencedor e ainda garantiu mais oito assentos no Parlamento Helvético, que passa a ter 61 dos 200 deputados.
A escolha dos suíços referenda a tendência da política suíça na próxima legislatura, com ajustes da tradicional imagem de um país que enfrenta seus problemas como deve ser: discretamente e com resoluções que beneficiam plenamente a sua gente.
A Suíça é um país regido nos níveis de federação, cantões e comunidades. A democracia direta permite que a população participe ativamente de todas as decisões.
Essa característica é decisiva para um território que desfruta de grande diversidade geográfica, cultural e idiomática.
A gestão é feita por um colegiado de sete membros que toma as decisões por meio de consenso.
Conselheiras e conselheiros federais são eleitos pela assembleia federal, escolhida democraticamente, formada por uma câmara baixa e uma câmara alta.
Assim como na Argentina e na Suíça, aqui, no Brasil, são os nacionais que decidem quem governa seu país.
Ano que vem, em 2024, tem eleições municipais na nação tupiniquim.
Esse pleito é onde tudo começa.
Dois anos depois, em 2026, os brasileiros terão outra oportunidade de escolher o que é melhor para o país em termos de governança institucional, representatividade no exterior e, principalmente, como tudo isso se refletirá no dia a dia de cada cidadão.