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Editorial

Água, o ‘sangue’ vital da humanidade

Ao menos 2 bilhões de pessoas bebem água contaminada por excrementos, o que as expõe à cólera, à disenteria, ao tifo e à poliomielite

24 de Março de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Rio Sorocaba.
Rio Sorocaba possui 227 quilômetros, considerando seu leito no trajeto natural (Crédito: Fábio Rogério (4/8/2021))

Quase despercebido, o Dia Mundial da Água foi comemorado na quarta-feira, 22 de março. Por aqui, a data também foi escolhida para celebrar o Dia do Rio Sorocaba, veia hídrica principal da cidade. Apesar do pouco destaque, é essencial fazer a reflexão proposta pela data, que foi criada em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU). E é a entidade que agora chama atenção para o perigo de uma crise hídrica global.

Talvez, as chuvas atípicas registradas em muitas partes do país, provocando mortes e perdas materiais, tenham ofuscado o debate sobre o tema no Brasil. Mas, em Nova York, foi realizada a conferência das Nações Unidas sobre a água, a primeira em quase meio século. Na abertura do encontro, que começou quarta-feira (22) e terminou nessa sexta-feira (24), o secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou a destruição de ecossistemas e a contaminação das águas subterrâneas em vários pontos do planeta. Lembrando os efeitos do aquecimento global e mudanças climáticas, ele ainda classificou como “consumo excessivo vampírico e insustentável” a forma atual do uso da água, que chamou de “sangue vital da humanidade”.

A fala de Guterres pode parecer dramática, mas é baseada em estudos e levantamentos que revelam um cenário catastrófico para todos, homens e outros animais, caso muita coisa não seja repensada. Durante a conferência, que teve como tema “Acelerando ação para o futuro sustentável”, um comunicado conjunto da ONU-Água e da Unesco foi publicado. O texto alerta que atualmente, metade da população mundial sofre com grave escassez de água ao menos durante um período do ano. E, se nada for feito, nos próximos anos, entre 40% e 50% da população continuarão sem acesso a serviços de saneamento e cerca de 20% a 25%, à água potável.

A importância do tema agiganta-se quando pensamos que nos últimos 40 anos o consumo mundial de água doce aumentou em torno de 1% e ao menos 2 bilhões de pessoas bebem água contaminada por excrementos, o que as expõe à cólera, à disenteria, ao tifo e à poliomielite. Sem esquecer da contaminação por produtos farmacêuticos, químicos, pesticidas, microplásticos e nanomateriais. Em nota, relatores de direitos humanos da entidade destacam que a água é “um bem comum e não uma commodity”, e assim deve ser gerenciado.

Sem estabelecer compromissos concretos, o encontro teve como objetivo engajar os países na elaboração de soluções. Cerca de 6,5 mil pessoas entre chefes de Estado e de governo, funcionários e representantes da sociedade civil participaram dessa conferência organizada pela Holanda e pelo Tadjiquistão, a primeira desde Mar del Plata (Argentina), em 1977. O objetivo foi alcançar iniciativas concretas para garantir que, em 2030, todo o mundo tenha acesso à água potável e a serviços sanitários, objetivos definidos em 2015 pela ONU.

Com relação a engajamento, nossa cidade oferece um exemplo a ser seguido. Como já foi dito, em Sorocaba, o Dia Mundial da Água coincide com o Dia do Rio Sorocaba. Um dos mais importantes do Estado de São Paulo, o Sorocaba é o principal afluente da margem esquerda do rio Tietê. Possui 227 quilômetros, considerando seu leito no trajeto natural. Além disso, é o mais importante manancial da região, onde 1,2 milhão de pessoas, além das indústrias e agricultura, utilizam suas águas.

Para marcar a data em Sorocaba, como tradicionalmente acontece, uma série de atividades educativas e de conscientização foram realizadas pelo município. Com adesão satisfatória da população, as ações englobaram o plantio de mudas, palestras, visitas de alunos e professores à Estação de Tratamento de Água (ETA) do Cerrado, entre outras. Na “Caminhada Ecológica”, que percorreu da Praça da Biodiversidade até o Parque das Águas, no Jardim Abaeté, os cerca de 30 voluntários participantes recolheram mais de 40 sacos de lixo de 100 litros cheios. No material retirado, estavam pneus, garrafas de vidro, garrafas pet, espuma de colchão, extintor, sapato, roupas, guarda-chuva e peças automotivas. Um retrato triste da realidade do quanto ainda temos de avançar com relação ao cuidado e preservação da água, acertadamente chamada de sangue vital da humanidade.