A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), responsável pelo tratamento e abastecimento de água em São Roque, suspendeu, no sábado (4), a captação de água do rio Aracaí, após o aparecimento de manchas escuras e densas na água.

Essa captação atende a 10% da vazão de água produzida no município. Mesmo assim, muitos moradores têm relatado, nas redes sociais, que a água distribuída está chegando às casas com “um odor muito forte de combustível”. A Sabesp informou que a mancha provém de um lançamento clandestino de óleo no rio.

O aposentado, José Felix de Santana, de 60 anos, morador do bairro Vila Nova, disse ao Cruzeiro do Sul que a água parece estar como gosto de óleo diesel. “Estava estranha no domingo (5)”, relatou. Ele conta que viu na rede social que muitas pessoas reclamavam do mesmo problema. A família dele, agora, precisa comprar água mineral para beber. “Eu percebi que a água estava contaminada e, quando eu estava tomando banho, a água caiu no meu olho e começou a arder. Eu pensei que fosse sabão, mas não era”, revelou.

O forte cheiro saindo das torneiras, em São Roque, foi detectado depois do temporal de sexta-feira (3), que atingiu e provocou destruição em várias cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS). Porém, ainda não há informações se o problema da mancha tem relação direta com os estragos causados pela tempestade.

O prefeito de São Roque, Guto Issa (PSD), publicou um vídeo em suas redes sociais, na segunda-feira (6), orientando as pessoas para que esvaziem a caixa d’água, caso sintam o forte odor, e evitem ingerir. O prefeito diz que a recomendação é da Sabesp e afirma que “a nova água que está sendo distribuída na cidade não tem cheiro nenhum e está 100% sem nenhum tipo de cheiro estranho”.

A moradora do bairro Paisagem Colonial, Regiane Maria Ramos, de 42 anos, disse que seguiu a recomendação e esvaziou sua caixa d’água, mas isso não adiantou nada. “O prefeito disse para gente esvaziar e depois encher que estaria normal, mas, na hora que eu liguei o registro, já senti aquele cheiro de novo, que parece querosene. Essa água que está na minha caixa não tem condições, vou ter que esvaziá-la de novo”.

Morador do Jardim Maria Trindade, o instrutor de autoescola, Gustavo Aparecido Mariano, de 26 anos, disse que está preocupado com sua esposa que está grávida. Ele teme que a água suja faça mal a ela e ao bebê. Gustavo já esvaziou sua caixa d’água (de 500 litros) duas vezes e ainda sente o cheiro forte sempre que abre o registro. Ele informou que a água não apresenta cor, apenas gosto e cheiro que, assim como Regiane, comparou com querosene. “É muita água, muito desperdício”, disse. “Você imagina quantas pessoas da cidade estão fazendo isso, esvaziando e enchendo. E no final do mês, a conta é a gente que paga”, reclamou.

No momento, estão sendo utilizadas para o abastecimento de água as captações Sorocamirim, Canguera e Junqueira. Em nota, a Sabesp falou que, desde a manhã de sábado, quando foi identificado as manchas na água bruta do rio Aracaí, tomou medidas para readequação do tratamento. A companhia disse, ainda, que, no sábado, coletou amostras de água nos reservatórios e não identificou qualquer irregularidade que pudesse apresentar risco à saúde dos moradores. Ontem (7), a Sabesp afirmou ao Cruzeiro do Sul que há a suspeita de “um lançamento clandestino de óleo” no rio e agora aguarda o laudo da equipe técnica, que vai revelar qual é a substância presente na água.

A partir do resultado, a empresa saberá o que precisa ser feito para recuperar o manancial e voltar a usá-lo como fonte de abastecimento. A orientação para os que identificaram a água imprópria em casa é que entrem em contato com a ouvidoria da Sabesp por meio do telefone 0800 055 0195 ou pelo WhatsApp (11) 3388-8000. O atendimento é feito de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.

Escolas e hospital

Das 49 escolas municipais de São Roque, 13 relataram cheiro diferente na água ao Departamento de Educação do município. A Prefeitura informou que segue enviando água mineral a essas unidades para o preparo da merenda escolar. Caminhões-pipa também foram encaminhados a essas escolas para realizar a troca da água dos reservatórios. Com exceção de duas unidades -- que estão em reforma após o vendaval que atingiu a cidade --, todas as escolas seguem com suas atividades regulares.

Não há registro de pessoas que tiveram alguma indisposição devido a ingestão de água. A Santa Casa de São Roque emitiu um comunicado, afirmando que a unidade está dentro da normalidade e que não houve qualquer caso comprovadamente relacionado à água.

Manutenção

Além de trabalhar para solucionar o mau odor na água, a Sabesp realizou, ontem a (7), serviços de reparo para conter um vazamento na adutora de água bruta de captação do bairro Junqueira. Em função disso, alguns bairros -- principalmente os que ficam nas partes mais altas de São Roque -- poderiam sofrer com a falta de água. A previsão era de que os serviços fossem concluídos ainda ontem. A empresa informou que os imóveis que possuem caixa-d’água com reserva mínima para 24 horas, como prevê a norma da ABNT, não sentiriam interrupção temporária no abastecimento. (Luís Pio - programa de estágio)