Editorial
A vez dos veículos elétricos
A chegada de mais modelos elétricos e híbridos ao mercado sinaliza uma tendência sem volta
Os veículos elétricos começam a ser vistos com mais frequência circulando pelas ruas, inclusive em Sorocaba. A tecnologia menos poluente e mais eficiente que os motores a combustão parece que vem para ficar. Até para aqueles que torciam o nariz para o carro elétrico, quando eram novidade, agora pensam quando vão aderir a essa opção.
A pesquisa em alimentação elétrica para carros não é recente. Na década de 1970, o aumento dos preços do petróleo aliado à instabilidade geopolítica do Oriente Médio provocou a chamada “crise do petróleo”. O alto valor e a possibilidade da falta de combustível, além do reconhecimento do problema da poluição causada pelos motores a combustão, fizeram os Estados Unidos, Japão e alguns países europeus retomarem pesquisas e desenvolvimento de veículos elétricos, cujo conceito existe desde o fim do século 19.
Foi na época da crise do petróleo que os “carrões” norte-americanos passaram a diminuir de tamanho. Mais peso significa também mais combustível a ser queimado para levar o veículo de um lugar a outro. Excedente que poderia ser utilizado para uma distância maior em um veículo menor e mais leve.
A General Motors (GM) lançou em 1996 o EV1, o primeiro automóvel totalmente elétrico fabricado em linha de montagem. Em 1996, a Toyota lançou o Prius, modelo de tecnologia híbrida que usa uma combinação de motor à combustão e baterias recarregáveis. E em 2006, a Tesla Motors -- de Elon Musk -- lançou o Tesla Roadster, primeiro veículo elétrico considerado de alto desempenho.
No Brasil, a fabricante nacional Gurgel lançou na década de 1970 o primeiro veículo elétrico da América Latina, o Itaipu, referência à usina hidrelétrica. Foram colocados pontos de reabastecimento para um primeiro lote dos carros em Rio Claro, cidade onde ficava a fábrica da Gurgel. O projeto porém não vingou, devido à baixa autonomia das baterias e ao tempo de cerca de 10 horas para recarregá-las, entre outras coisas.
Em uma tentativa de estímulo à produção nacional, o governo federal pretende elevar a tarifa de importação sobre veículos elétricos ou híbridos e também definir cotas para que um volume menor de carros com a nova tecnologia continue entrando no Brasil com a alíquota zero. De acordo com o noticiário político-econômico, a medida poderá ser tomada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) dentro de alguns dias. Desta maneira, seria revertida uma política de tarifa zero criada para os veículos elétricos importados desde 2015.
Se confirmada, a nova regra deve valorizar a produção nacional em detrimento dos veículos importados, principalmente os das montadoras chineses. Contudo, montadoras como a BYD e a GWM pretendem fabricar modelos elétricos no Brasil em breve.
O que se vê atualmente é um rápido avanço dos chineses no segmento, na fabricação dos veículos e também dos componentes, que fornecem a montadoras de outros países. Essa aceleração chinesa e o sucesso da Tesla fizeram as montadoras tradicionais correrem contra o tempo nos últimos anos para colocar no mercado seus veículos elétricos. Há exceções como a Toyota e a Nissan. A Toyota foi pioneira nos veículos híbridos. Inclusive fabrica em Sorocaba o Corolla Cross nessa versão. E a Nissan tem o elétrico Leaf, produzido desde 2010.
Reportagem publicada pelo Cruzeiro do Sul no final de setembro mostra que Sorocaba tem 428 veículos elétricos ou híbridos circulando, conforme dados do Detran-SP. No ano passado, no mesmo período eram 289. O número de 428 ainda é relativamente baixo em relação à frota total na cidade, em torno de 530 mil unidades (incluindo aí caminhões, ônibus e motocicletas). Mas a taxa de crescimento é bastante acentuada, de 48%.
A chegada de mais modelos elétricos e híbridos ao mercado sinaliza uma tendência sem volta, tanto nos aspectos econômico e ambiental, como no de desenvolvimento tecnológico. No aspecto ambiental, os veículos híbridos podem ser incentivados a utilizar etanol em vez da gasolina. Mas, mesmo assim, o etanol causa poluição, pois sua produção necessita de caminhões, máquinas e tratores a diesel. Os problemas da autonomia das baterias e tempo de carregamento parecem que vêm sendo solucionados.
Há um fator, no entanto, que preocupa, e tem a ver com o panorama geopolítico. O domínio de empresas chinesas na tecnologia, fornecimento de componentes a outras montadoras e no baixo custo de produção -- que torna os modelos bastante competitivos em relação aos de montadoras tradicionais (de origem européia ou norte-americana) -- acende um alerta de ampla dependência da China. A pandemia de Covid-19 mostrou que a falta de componentes parou fábricas inteiras, por períodos prolongados, prejudicando diretamente a economia.