Editorial
A ameaça que vem do México
Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) mostra que cartéis mexicanos de droga pretendem se estabelecer no País para ampliar seus lucros
O Estado brasileiro tem sofrido bastante para manter a segurança pública. Por muitos e muitos anos o crime organizado, através da formação de violentas facções, tomou posse de uma série de territórios. O problema extrapolou as comunidades mais pobres do Rio de Janeiro e avançou pelo litoral do Estado, por parte do litoral paulista e por muitas cidades do Nordeste.
Em algumas dessas áreas, o acesso é controlado pelos bandidos e só quem é autorizado pode entrar. Nesse feudo moderno, as leis do crime valem mais que a Constituição Federal. As regras estipuladas pelas lideranças têm força de sentença judicial e podem, em instantes, destruir uma vida.
Foi num desses locais, dominados pelas facções criminosas, que o baixista Rinaldo Oliveira Amaral, o Mingau, da banda Ultraje a Rigor, foi vítima de um disparo. O músico é proprietário de uma pousada em Paraty e ao chegar ao local para trabalhar, dirigindo uma caminhonete, foi confundido pelos bandidos e alvejado, sem piedade, sem questionamentos.
Mingau foi atingido em uma localidade conhecida como Ilha das Cobras. Segundo a própria polícia a área é conhecida como ponto de compra e venda de drogas ilícitas. As investigações foram conduzidas com agilidade e, na segunda-feira, 4, um dos autores do crime já tinha sido detido.
Mesmo com o caso praticamente elucidado, a vida de uma pessoa ainda corre sério risco. O músico permanece sedado e faz um tratamento para controlar a pressão do crânio. Os médicos evitam se comprometer com um prognóstico de sobrevida ou detalhar as sequelas que podem surgir no futuro. O momento é tão delicado que a luta, agora, é para garantir a sobrevivência de Rinaldo.
Esse não é um caso isolado. Em Guarujá, no litoral paulista, a polícia implementou, há pouco mais de um mês, a Operação Escudo. O objetivo é enfraquecer as facções criminosas que atuam na Baixada Santista. No último final de semana, o primeiro de setembro, dois homens ligados ao tráfico foram mortos em confrontos com a polícia. Eles estavam armados, transportando drogas e resistiram à abordagem. Desde o início da operação, já foram registradas 27 mortes, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Além de aumentar a proteção à comunidade, a Operação Escudo, em parceria com a Polícia Federal, tem apertado o cerco ao tráfico de drogas no porto de Santos, o maior do País. Nas últimas semanas, várias apreensões foram registradas. Droga que seria embarcada para a Europa e para a Ásia. A retirada de circulação dessa grande quantidade de mercadoria ilegal afeta diretamente as facções criminosas. Ao causar prejuízo financeiro para esses grupos, fica mais fácil combatê-los.
O Brasil precisa, urgentemente, combater o tráfico de drogas, antes que novos grupos invadam nosso território. Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) mostra que cartéis mexicanos de droga pretendem se estabelecer no País para ampliar seus lucros e sua influência. Segundo a Abin, o cartel de Sinaloa, um dos mais violentos do mundo, estaria buscando estender seus tentáculos para o Brasil. O grupo já teria, inclusive, fechado parcerias com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Um outro interessado em aportar no País seria o cartel Jalisco Nueva Generación. Um grupo que além de traficar drogas aposta também na lavagem de dinheiro em paraísos fiscais.
O documento da Abin destaca ainda que os narcotraficantes mexicanos enxergam no País um “importante mercado de consumo e rota de tráfico de drogas” com destino à Europa. Em uma série de conversas, a embaixada brasileira no México já teria confirmado “conexões concretas” entre os cartéis de Sinaloa e de Jalisco Nueva Generación com o PCC. Os primeiros contatos com as organizações mexicanas teriam sido conduzidos por Gilberto Aparecido dos Santos, um dos braços direitos de Marco Willians Camacho, o Marcola, chefe histórico do PCC.
É importante, nesse momento, que as autoridades brasileiras fiquem de olho nessas relações. Se a entrada desses criminosos não for barrada, com urgência, muitas pessoas vão acabar como vítimas desses bandidos cruéis. Retomar o controle de todas as áreas dominadas pelo tráfico é de suma importância para o País. Nenhum território pode ser regido por leis próprias, a Constituição Federal deve triunfar sobre todos os contraventores. Só assim o Brasil será realmente livre e justo.
Até lá, só nos resta a indignação diante de casos como o do baixista Rinaldo Oliveira Amaral, atingido por uma bala disparada, sem motivo algum, por um traficante de facção criminosa.