Gláucia Blazeck, uma história de amor pelas crianças

Por Manuel Garcia

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Crédito da foto: Divulgação

A guarujaense Gláucia dos Santos Cabral Blazeck é reconhecida pela sua atuação junto ao Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil, o Gpaci, hospital de referência no atendimento ao câncer infantil para 48 cidades da região de Sorocaba.

Viúva do ex-delegado geral da Polícia Civil do Estado de São Paulo Luiz Maurício Blazeck, que morreu em 2015 por complicações de um quadro de diverticulite, Gláucia é mãe de Maurício e Guilherme e dedica a sua vida para levar um pouco de amor e alegria aos pequenos pacientes que passam por este momento tão difícil que é o tratamento do câncer.

Conheça Gláucia Blazeck, a nossa personagem da semana.

Onde você nasceu? Como foi sua infância?

Eu nasci em São Paulo, mas vivi minha vida toda no Guarujá. Minha infância foi muito boa, moramos numa rua em que a minha avó tinha sete casas, uma do lado da outra, onde moravam todos os filhos dela.

Daí eu acabei crescendo com a minha família toda, meus primos, meus tios, vivíamos brincando, fazendo festas. Foi uma fase muito boa na minha vida e tenho familiares que até hoje que moram lá. Desde criança sempre amei o mar, vivia na praia.

Eu era bem moreninha do sol, quando adolescente cheguei até a pegar algumas ondas no surfe. Minha mãe era costureira e tinha uma boa clientela ali no litoral. Lembro dos turistas que vinham até ela para ajustar ou fazer alguma roupa, principalmente na época de alta temporada.

Meu pai trabalhou no serviço de balsa e chegou a ser delegado de Vicente de Carvalho. Daí tenho uma relação com a polícia desde criança.

Você sempre teve o sonho de ser professora?

Sim, lembro que quando brincava com as amigas de escolinha eu sempre queria ser a professora. Sempre achei bonito quem educa. Quando fui crescendo, ficando mais adolescente, sempre gostei das gerações mais novas do que eu.

Daí começou um carinho muito grande por crianças. Eu comecei a estudar magistério em Santos, parei, voltei, foi muito difícil: tinha que pegar a balsa todo dia e, quando não dava, tinha que ir pela estrada, era muito cansativo.

Resolvi cursar pedagogia no Guarujá mesmo. Trabalhei na prefeitura, como professora de pré-escola, e foi muito boa está fase na minha vida. Parei de dar aula quando estava prestes a ter meu filho.

Como você conheceu o seu marido, Maurício Blazeck?

Foi uma história muito legal. Em 1986 eu fui tirar o meu RG e, quando estava na delegacia, ele chegou e perguntou o que eu queria. Falei que já tinha sido atendida, que tinha ido apenas tirar a minha identidade.

Passou uma semana e ele apareceu na minha porta com o meu documento na mão; fiquei muito surpresa, só daí que fui saber que ele era o delegado e tinha acabado de passar no concurso da polícia, sendo na época um dos delegados mais novos do Brasil.

Começamos a conversar sempre e ele começou a fazer academia comigo e eu passei a mostrar para ele as belezas do Guarujá. Não nos desgrudamos mais, nos casamos em 1990, foi um casamento lindo. Em 1993 tive meu primeiro filho.

No dia de seu casamento com o saudoso delegado Maurício Blazeck. Crédito da foto: Divulgação

E como você acabou vindo para Sorocaba?

O Maurício foi transferido primeiro para São Paulo e eu continuei no Guarujá. Foi uma fase muito dura, pois ele tinha que subir e descer a serra todo dia. Às vezes tinha até aquela operação comboio por conta da neblina, isto me preocupava muito, pois tinha medo de algum acidente.

Sempre tive o sonho de morar no interior. A família do Maurício é de Sorocaba e eu sempre vinha até a cidade e ficava encantada com a paz.

Em 1998 surgiu uma oportunidade de ele vir trabalhar em Sorocaba, não pensei duas vezes: pegamos as nossas coisas e viemos todos. Aprendi a amar muito esta cidade, não sei viver mais em outro lugar.

Adoro as praias do Guarujá, porém só me vejo passando férias lá. Sorocaba me acolheu de uma maneira tão gostosa que aqui é minha casa.

Como o Gpaci entrou na sua vida?

O Maurício foi chamado para ser do conselho do Gpaci. Ele sempre chegava em casa e me contava do hospital. Se dedicava muito pelas crianças e ficava feliz em ajudar na parte burocrática e pedir verbas para os governantes.

Fui, aos poucos, conhecendo o hospital, me encantando com as crianças. Lembro que o primeiro evento que eu realmente participei pelo Gpaci foi em um McDia Feliz no Shopping Iguatemi Esplanada, comecei a limpar as mesas e receber as pessoas.

Passei este dia todo em pé fazendo isto, quando cheguei em casa, estava cansada, mas, ao mesmo tempo, me sentia muito feliz e realizada. Passei a frequentar mais o hospital.

Ia no começo uma vez na semana, até que fui aumentando as minhas idas e o Carlos me chamou para assumir a parte de eventos. Me apaixonei muito pelo lugar, adoro conhecer as crianças, as famílias e poder agregar algo na vida destas pessoas.

O hospital precisa de tanta ajuda, é uma luta diária. O Gpaci, além de um hospital, é referência de atendimento em 48 cidades. Fazemos pesquisas e diagnósticos precoces e, principalmente, buscamos a prevenção da doença.

Como é lidar com esta doença tão difícil que é o câncer?

Não é fácil, principalmente quando, infelizmente, perdemos alguma criança no meio da batalha. Quando uma criança recebe um diagnóstico de câncer não é só ela que está doente, a família toda recebe esta notícia e adoece junto.

O Gpaci é importante na vida destas famílias. Damos um apoio não só médico à criança, damos um apoio para ela, para a família, damos uma coisa que é muito importante e que se chama “amor”.

Hoje tenho como voluntários ex-pacientes, familiares e até mães que, infelizmente, perderam seu filho para a doença. Todos os voluntários sabem da importância que o hospital tem para nossa cidade. O Gpaci é uma grande família, que dá carinho e amor a todos que chegam.

Como é encontrar ex-pacientes na rua?

Tenho pacientes que as vezes me chamam nas redes sociais e vejo que estão enormes. Às vezes, vejo alguns no shopping já com filhos. Adoro quando vêm falar comigo, me sinto muito feliz em poder ver o quanto eles estão bem e que o Gpaci marcou a vida deles.

Qualquer pessoas pode ser voluntário?

Sim, mas a pessoa tem que estar disposta a fazer com carinho, com amor, ter comprometimento. Deixar as vaidades de lado e ver que tem algo maior ali, que é ajudar alguém. O melhor salário do voluntário é o sorriso, é o abraço.

E saber que seu tempo ali mudou a vida de alguém. Vejo as crianças no Gpaci que ficam felizes com coisas tão simples... o sorriso delas é meu maior pagamento.

Seu marido foi durante um tempo delegado-geral da Polícia Civil do Estado. Como foi este período?

Fui um período muito gratificante para ele, pois sempre quis chegar neste posto. Conversamos muito e eu o apoiei muito nisso. Tínhamos que andar com segurança, não por sermos especiais, mas sim por ele estar sempre recebendo ameaças.

Quando ele faleceu, eu recebi um carinho tão grande de todos e vi o quanto meu marido era especial e ajudou muita gente. Meu marido foi pai, parceiro, amigo, confidente e um homem que dedicou sua vida para trazer mais segurança a todos.

Fomos uma dupla que deu certo, planejamos ficar juntos até ficarmos velhinhos, lembro que no ano em que ele morreu iríamos fazer bodas de prata e o Chá das Mesas do Gpaci ia ser no dia do nosso aniversario.

Eu montei a minha mesa toda em homenagem a ele, com uma decoração branca, com bem-casados, lembrando uma festa de bodas.

Gláucia no tempo de criança no litoral paulista. Crédito da foto: Divulgação

Entre os eventos do Gpaci, o Chá das Mesas que acontece sempre no Natal é um dos mais concorridos e comentados da cidade. Como surgiu este evento?

O Chá das Mesas surgiu da ideia da Regina Siqueira, em Santos, que realizava eventos beneficentes dentro do quartel, pois seu marido é militar.

Ele começou a convidar as esposas dos militares para fazer chás em prol de uma entidade lá do litoral e daí começou a dar certo. O primeiro ano em que fizemos em Sorocaba foi muito difícil, foram muitas ligações, pois era algo novo, e as pessoas ainda não tinha entendido a ideia.

Mas acabou dando certo, o evento é realizado no Ipanema Club que agora já está pequeno pelo tanto de pessoas que querem participar. Todo ano, quando abrimos o mapa das mesas, conseguimos de forma rápida vender todas.

Cada patronesse monta a seu espaço e fica um mais lindo que o outro. Todas as mesas são montadas com carinho e amor muito grande pela causa, que é o Gpaci.

Graças a Deus, Sorocaba é muito solidária e o hospital conquistou uma credibilidade muito grande. O conceito do Chá das Mesas é como se você estivesse convidando suas amigas para tomar um chá na sua casa. Por isto que as louças, toalhas e todas os acessórios são levados pelas patronesses.

Como foi 2020 para o Gpaci?

Foi um ano muito difícil. Quando temos uma crise financeira, as pessoas começam a cortar coisas e uma das primeiras é a doação. Na parte financeira foi muito difícil. Também foi muito difícil não poder contar com a verba dos eventos.

Tivemos alguns funcionários que trabalham em outros hospitais que, infelizmente, pegaram a Covid-19, então sofremos com a diminuição do quadro de funcionários.

Mas Deus sempre foi muito bom e nossa cidade é muito solidaria, conseguimos vencer e o hospital conseguiu crescer.

Estamos fazendo mais um andar e conseguimos concluir a fase física do setor de transplante de medula óssea e, quando acabarmos uma parte burocrática, vamos poder fazer transplantes no hospital.

E isto vai ser uma conquista muito grande para nossa cidade. Agradeço muito a todos que acreditam no hospital e que colaboram de uma maneira o outra pelo sorriso das nossas crianças.