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Uniso recebe palestra sobre o LHC, o maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo

04 de Dezembro de 2017 às 13:40

Prof. Marcelo Munhoz, da USP, é um dos brasileiros que integram projeto no LHC - Cléo Nunes/ AgênciaJor - Uniso

De que são feitas todas as coisas que compõem o universo? Desde a Grécia antiga, nós avançamos consideravelmente nessa busca existencial e, especialmente na fronteira entre a Suíça e a França, nos laboratórios do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), ainda há muita gente preocupada em trazer novas luzes a essa questão.

“Hoje, para tentar responder essa pergunta, nós usamos aceleradores de partículas, que são equipamentos com capacidade de acelerar diferentes tipos de partículas e provocar a colisão entre elas. A ideia é quebrar os constituintes da matéria e reconstruir o quebra-cabeça”, explica o professor doutor Marcelo Gameiro Munhoz, da Universidade de São Paulo (USP), em visita à Uniso para uma palestra interdisciplinar que reuniu em setembro alunos dos cursos de Jornalismo, Física, Filosofia, Biologia e das Engenharias.

Ele, que é sorocabano, é um dos brasileiros à frente do projeto ALICE (da sigla em inglês, Experimento do Grande Colisor de Íons), uma colaboração de mais de 1.600 pesquisadores de 41 países e 159 instituições. Sua última empreitada foi o envolvimento na produção do chip eletrônico SAMPA, um projeto milionário desenvolvido por pesquisadores da USP que deverá, a partir de 2020, ajudar a fotografar as colisões executadas nos laboratórios do famigerado LHC, ou Grande Colisor de Hádrons, o maior e mais poderoso acelerador de partículas em operação em todo o mundo, inaugurado em 2008 com um custo estimado em cerca de sete bilhões de dólares.

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Os dados sobre o LHC são impressionantes por si mesmos: com uma estrutura física subterrânea de 27 km, é um imenso conjunto de túneis em formato anelar, onde feixes de partículas são acelerados a altíssimas velocidades, chocando-se entre si e provocando a liberação de altas energias. São 600 milhões de colisões por segundo, captadas por 150 milhões de sensores. Para se ter uma ideia, os prótons chegam bem perto da velocidade da luz, dando 11.245 voltas por segundo no acelerador — se fossem naves espaciais, nessa velocidade chegariam a Netuno em apenas 10 horas!

Por meio dos experimentos conduzidos no LHC, muitas questões existenciais para as quais ainda não se tem respostas podem ser estudadas: questões como a origem da massa e das partículas e a própria origem do universo em si. Quem sabe, até mesmo descobertas que contradigam as leis da Física, que hoje tomamos como verdades: “É um chute, mas é possível”, considera o professor. “É possível que nenhuma teoria consiga explicar o resultado de uma determinada experiência no LHC, indicando um caminho completamente novo. É assim, por meio da curiosidade, que funciona a ciência.”

Não são raros os exemplos de avanços tecnológicos que nasceram da busca por saciar essa curiosidade, muitos dos quais nós usamos diariamente. “O conhecimento básico é essencial, mas ele tem, também, a característica de criar uma demanda por tecnologia”, completa Marcelo. Às vezes, a busca por mais conhecimento pode nos levar a criações inusitadas, o que justifica, de certa forma, o custo social de experimentos colossais como os que se dão no LHC. A própria WWW (World Wide Web — ou simplesmente o que chamamos de internet) foi desenvolvida em 1989 por Tim Berners-Lee, pesquisador do Cern, para facilitar a comunicação entre cientistas em todo o mundo, e aplicações na área médica também são inúmeras.

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GRANDES DESAFIOS

O primeiro grande desafio para esse tipo de ciência básica é a percepção do grande público. “Eu costumo dizer que a ciência sem divulgação é como uma obra de arte trancada numa sala; não faz o menor sentido!”, diz Marcelo. “Felizmente, contrariando o senso comum, existe um interesse crescente dos brasileiros por esse assunto.”

O segundo é de ordem política e financeira. Participar de uma empreitada tão ambiciosa como o LHC tem, obviamente, um custo de manutenção e operação, que é compartilhado entre todos que participam dos experimentos. “O custo do laboratório e do acelerador em si — que é muito maior do que a operação dos experimentos — é mantido integralmente pela comunidade europeia. Portanto, participar desse projeto a um custo relativamente mais baixo é um grande negócio para o país. Mas, infelizmente, o Brasil já está inadimplente com o Cern em 2017, uma vez que não houve verba disponibilizada pelo governo federal para custear as taxas de participação. E, a menos que haja algum recurso de emendas parlamentares, o mesmo deve se repetir em 2018”, lamenta o professor. Uma comitiva de cientistas da Renafae (Rede Nacional de Física de Altas Energia), da qual Marcelo fez parte, esteve em Brasília em meados de setembro com o objetivo de tentar recompor esses recursos, mas, até o fechamento desta edição, pouquíssimos deputados firmaram um compromisso explícito em contribuir.

Reportagem dos alunos de Jornalismo: André Fidalgo Martins, Antony Isidoro, Isabel Rosado, Renata Mora e Yiraisa Nami Ozawa, com supervisão de Guilherme Profeta