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Uniso Ciência

Interfaces entre a educação e o mundo do trabalho geram amplas possibilidades de pesquisa

09 de Março de 2022 às 12:10
Professor Jefferson Carriello do Carmo, do Programa de Pós-Graduação em Educação
Professor Jefferson Carriello do Carmo, do Programa de Pós-Graduação em Educação (Crédito: Fernando Rezende)

Os dois primeiros decênios deste século compreendem um período de mudanças intensas: crises econômicas (bem como as sociais e, mais recentemente, as sanitárias), novas tecnologias de informação e comunicação (e, consequentemente, novas formas de se relacionar), novas relações de trabalho e produção... Tudo isso representa impactos na educação, exigindo mudanças, também, na maneira de conduzir o processo de ensino-aprendizagem. Nesses momentos, tomar decisões exige um ingrediente fundamental: criticidade.

Essa é uma necessidade que está discutida em reportagens como “Navegantes analógicos em mares digitais” (Revista Uniso Ciência – Edição 8) sobre as diferenças de geração entre os novos estudantes, nativos digitais, e os seus professores, normalmente mais velhos, não raro incapacitados para incorporar as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) em suas práticas educativas. Está evidenciada, também, na entrevista com o professor Aldo Vannucchi, fundador da Universidade de Sorocaba (Uniso) (publicada na edição 7 – Revista Uniso Ciência), em que, ao comentar sobre o futuro das universidades comunitárias no pós-pandemia, ele reforça a importância de uma educação pautada nas Humanidades, já que, mesmo automatizadas, até mesmo as indústrias “passarão a contratar filósofos, para trabalhar na programação de decisões não mecânicas, por exemplo.”

Segundo o professor doutor Jefferson Carriello do Carmo, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Uniso, questões como a Quarta Revolução Industrial (ou indústria 4.0) ou a chamada “uberização” do trabalho — este cenário em que os profissionais tendem à informalidade, sendo gerenciados por meio de aparatos automatizados — influenciam nossas relações políticas e nossas relações de produção.

“Presenciamos, nesta era digital, o advento de trabalhos organizados e impulsionados pelas TDICs. Em vez do fim do trabalho, estamos vivenciando uma nova configuração de trabalho e, consequentemente, o advento de um novo trabalhador”, ele diz.

Tais interfaces, entre a educação e o mundo do trabalho, geram amplas possibilidades de pesquisas interdisciplinares, as quais interessam tanto aqueles pesquisadores que são originalmente educadores por formação, quanto aqueles que chegam à Educação a partir do setor privado. Da indústria, por exemplo.

“Historicamente, no PPGE, a maior parte dos nossos estudantes de mestrado e doutorado é composta por professores ou gestores educacionais, tanto atuando na Educação Básica — que compreende a Educação Infantil e os Ensinos Fundamental e Médio — quanto no Ensino Superior, na própria Uniso ou em outras instituições da Região Metropolitana de Sorocaba e de todo o Brasil. Para esses profissionais, a pós-graduação é compreendida como um investimento na carreira, que lhes permite galgar posições e compensações mais elevadas. Mas existem também aqueles que vêm de muitas outras áreas do conhecimento e de diferentes campos de atuação profissional, encontrando na Educação respaldos teóricos e analíticos que lhes permitem compreender certos fenômenos sociais e atuar em outros campos além da pesquisa, como na gestão escolar e em certos departamentos de outros tipos de empresas”, diz Carriello.

Ainda que o foco de um programa stricto sensu como o PPGE seja a pesquisa, o coordenador explica que nem todos os estudantes necessariamente almejam uma carreira como professores pesquisadores. “Isso vale para quem atua na educação, mas especialmente para organizações em outras áreas do setor privado”, ele destaca. “Existe uma relação óbvia entre a educação e a área de gestão de pessoas — desde muito tempo atrás a área de Recursos Humanos contrata pedagogos para dar suporte a programas de treinamento, por exemplo —, mas o mesmo vale para outros departamentos, desde que seus profissionais também compreendam a importância de uma formação menos utilitarista e mais omnilateral. De modo geral, aqueles que conduzem um estudo de mestrado ou doutorado na área da Educação devem ter sensibilidade em relação às mudanças que acontecem ao nosso redor.”

É isso, conforme ele defende, que faz diferença em períodos de crises socioeconômicas e políticas, momentos que, para serem compreendidos, dependem não só de uma visão retrospectiva e panorâmica, mas de uma compreensão mais intensa e aprofundada da realidade. “Vê-se, por exemplo, as mudanças relacionadas à pandemia de Sars-CoV-2 e como elas exigiram de todos nós — na educação, no trabalho e em todas as outras áreas do conhecimento e das atividades humanas — ações concretas, voltadas ao bem-estar comum, e que estivessem pautadas na compreensão do fenômeno e de suas inúmeras implicações. A pandemia foi (e ainda é) exemplo de um evento que acelerou e intensificou os novos processos de trabalho e produção: trabalho remoto, trabalho por aplicativos, lives, ensino a distância... Tudo isso compreende sintomas de uma crescente dependência da era digital, uma vida alimentada e regida por algoritmos”, ele conclui.

Para saber mais: o Programa de Pós-Graduação em Educação da Uniso

O Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) é o mais tradicional da Uniso. Foi ele que, em 2002, deu início à era dos mestrados na universidade. Desde então, 349 dissertações de mestrado e 78 teses de doutorado já foram defendidas e aprovadas, normalmente tendo como área de concentração a educação escolar — aquela que acontece em ambientes formais de ensino e, portanto, é direcionada e conduzida por educadores.

Existe um rol muito grande de possibilidades compreendidas nessa área de concentração; os pesquisadores do Programa conduzem estudos sobre temáticas tão diversas quanto legislação e políticas educacionais, metodologias de ensino, a história da educação (especialmente o resgate histórico de instituições escolares da região de Sorocaba), a formação dos docentes no Brasil, o cotidiano do ambiente escolar, o desenvolvimento de competências midiáticas (a capacidade de fazer uma leitura crítica das mídias), a educação profissional e tecnológica, além das múltiplas interfaces com o mundo do trabalho.

Com um currículo voltado à ampla compreensão da educação e de seus processos de mudança (tão ágeis no mundo contemporâneo), o PPGE é multi e interdisciplinar, possibilitando aos seus estudantes um leque muito amplo de recortes possíveis (de teorias, de objetos de pesquisa, de metodologias), sempre no sentido de contribuir para uma educação voltada à cidadania e à manutenção de uma sociedade democrática.

Acesse o site do Programa para mais informações e processo seletivo: http://educacao.uniso.br/

Texto: Guilherme Profeta