Gerenciamento de crise na pandemia auxiliou médias empresas a manter faturamento

Em contrapartida, mais de 600 mil empresas fecharam as portas no período de maior cenário pandêmico no Brasil

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A lucratividade desses empreendimentos cresceu, apesar da queda das receitas em 2021

Um levantamento recente feito pelo Centro de Estudos de Médias Empresas da Fundação Dom Cabral (FDC Médias Empresas) em parceria com a Atlas revelou que apesar da queda das receitas no ano passado, a lucratividade desses empreendimentos cresceu.

De acordo com os dados recolhidos no estudo, estima-se que a receita líquida das 97 empresas pesquisadas caiu em média 4,42% entre 2019-2020. Ainda assim, mantiveram o sustento ou conseguiram aumentar as margens de lucratividade. Além disso, todos os setores apresentaram crescimento de margens bruta, Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e líquida.

Gerenciar o período de crise foi fundamental para que parte das empresas não sofressem maiores danos com os impactos da pandemia de Covid-19. Medidas como possuir um plano emergencial, recolher recursos em instituições financeiras ou investir em capital humano para manter o funcionamento, foram adotadas em todo o país, o que pode ter amenizado os efeitos.

Gabriel Lira, co-fundador da agência Gruv, de Marketing, Comunicação e Design, em Brasília, é um dos líderes que mantiveram todo o quadro de funcionários durante o período pandêmico, apesar do cenário de incertezas.

Apesar do levantamento e de relatos como o de Lira, esse não é o cenário para a maioria das empresas. De acordo com informações divulgadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), aproximadamente 600 mil empresas encerraram suas atividades no intervalo de dois anos.

Entre abril e junho de 2019, o país contava com 4,369 milhões de empresas - o maior número registrado para o segundo trimestre na série histórica, desde 2012.

Devido aos impactos causados pela pandemia, a quantidade enfrentou um declínio em 2020, quando alcançou 3,788 milhões no segundo trimestre de 2021.

Para as pequenas e médias empresas que seguem atuando, o desafio ainda não está perto de terminar. Apesar do ritmo de vacinação e diminuição de restrições importantes para inibir o contágio do vírus e suas novas variantes, ainda existe a necessidade de se adaptar ao “novo normal”, bastante mencionado nos últimos meses. O gerenciamento nesse período segue fundamental para que as marcas se mantenham.

Ainda de acordo com Lira, na maioria de suas empresas foram implantadas novas ferramentas e métodos de trabalho, que provavelmente vão continuar nos próximos anos. Uma delas é a adoção definitiva de trabalho híbrido, no qual parte da rotina é feita em casa, enquanto a outra, em escritórios.

Essa não é a primeira vez que Lira enfrenta uma situação crítica e consegue driblar o cenário. Entre 2014 e 2015, durante a crise financeira que atingiu o Brasil após um boom econômico, o então sócio-proprietário da marca de tênis Muv, precisou de estratégias para manter a empresa funcionando após a demanda cair.

A Muv na ocasião comercializava sapatos e acessórios, e mesmo durante a crise, despertou a curiosidade de outras marcas para o trabalho de comunicação online, design e estratégias de marketing que eram realizados por ali.

“A Gruv nasceu dessa necessidade, aliás. Nosso modelo de trabalho sempre foi desafiar o normal, e isso começou lá atrás, antes mesmo da agência. A Muv chamava muito a atenção, as pessoas acreditavam que era uma marca estrangeira, pois antes da recessão, até personalidades da TV usaram nossas peças, como a Tatá Werneck. A partir daí entendemos que além de vendedores, éramos bons também em comunicação, design e desenvolvimento de marcas, o que sempre foi minha paixão. Então fizemos da necessidade, uma criação”.

O que é gerenciamento de crise?

O termo “crise” pode ser usado para definir uma ameaça considerável para as operações, como ocorreu durante o isolamento social, principalmente para ramos como prestação de serviços e entretenimento. A crise pode gerar consequências negativas e irreversíveis se não forem cuidadas de maneira adequada pela empresa. Uma crise tem potencial para desencadear três ameaças relacionadas:

  • Segurança pública;
  • Perda financeira;
  • Perda de reputação.

Existe um plano de gerenciamento de crise (Crisis Managament Plan – CMP) utilizado globalmente. Este é um documento que apresenta processos que uma empresa ou instituição usará para responder a uma situação que impactaria negativamente sua reputação, lucratividade, ou capacidade de operação. Os CMPs geralmente são utilizados por equipes específicas de continuidade de negócios, gerenciamento de emergências e avaliação de danos.

Uma situação crítica, como vem sendo a pandemia, necessariamente exige que diversas decisões sejam tomadas rapidamente para inibir que maiores danos sejam causados à organização e seu público. Crises potenciais podem ser definidas como:

  • Desastres naturais (furacões, terremotos, maremotos e vulcões);
  • Eventos climáticos graves (inundações, tempestades, nevascas e secas);
  • Riscos biológicos (doenças transmitidas por alimentos e pandemias);
  • Acidentes causados por influência humana (incêndios, explosões, desmoronamentos de estruturas e derramamentos de materiais perigosos);
  • Eventos intencionais causados por humanos (assaltos, violência);
  • Questões tecnológicas (interrupções e ataques cibernéticos).

O que incluir no plano de gerenciamento de crise

Para elaborar um CMP eficiente, a empresa deve seguir algumas etapas de preparação, desenvolvimento de processos, testes e treinamentos:

  • Identificar quais membros da equipe serão responsáveis pelo gerenciamento de crise.
  • Documentar quais critérios serão usados para apontar se uma crise ocorreu.
  • Estabelecer monitoramento para detectar sinais de alerta de qualquer possível situação crítica.
  • Especificar quem será o porta-voz em caso de uma crise.
  • Fornecer uma lista dos principais contatos de emergência.
  • Documentar quem precisará ser notificado e como essa notificação deve ser realizada.
  • Identificar um processo para avaliar o incidente, sua gravidade e como isso afetará o estabelecimento e os colaboradores. Identificar procedimentos para responder à situação crítica e definir locais de segurança para onde os funcionários podem se deslocar no caso de emergências.
  • Desenvolver uma estratégia para resposta em mídias sociais.
  • Fornecer um processo para testar a eficácia do plano e atualizá-lo regularmente.