Estudo brasileiro pode ajudar a compreender como envelhecemos

Por Cruzeiro do Sul

Segundo a pesquisa, a perda do viço da pele é causada pelos mesmos conglomerados de proteínas presentes na origem das doenças cerebrais degenerativas.

 

O elixir mais cobiçado pela indústria cosmética, capaz de deter o envelhecimento da pele, pode estar mais perto de se tornar real. Apesar de a ciência mostrar que é praticamente impossível deter a perda do viço e da espessura da pele, um estudo de pesquisadores brasileiros mostra que o segredo para compreender o envelhecimento pode estar no entendimento de doenças cerebrais degenerativas.

O trabalho, publicado esta semana na revista científica Neurobiolgy of Aging pelos neurocientistas Marilia Zaluar Guimarães e Stevens Rehen, da UFRJ e do Instituto D’Or de Pesquisa, revelou que a perda do viço da pele é causada pelos mesmos conglomerados anômalos de proteínas que fazem surgir doenças cerebrais degenerativas, como Parkinson. O estudo abre caminho inédito e muito promissor para a compreensão da doença e também para desvendar os segredos do envelhecimento.

Proteínas

“Reunimos evidências de que os aglomerados das mesmas proteínas que causam doenças neurodegenerativas estão presentes na pele”, contou Marília Zaluar Guimarães. “Descobrimos também que essas proteínas têm uma tendência maior a formar conglomerados anômalos nas áreas mais expostas ao sol.”

A doença de Parkinson surge quando determinadas proteínas se aglomeram de forma anômala, causando a morte de neurônios responsáveis pelo controle motor. Esses mesmos aglomerados na pele disparam inflamação e deflagram um mecanismo que reduz a proliferação de células, uma situação consistente com perda do viço e do envelhecimento.

“Usamos pele humana reconstituída em laboratório para entender o que acontece quando expostas a esses aglomerados de proteína”, explicou Marília Guimarães. “Quando colocávamos essas proteínas na pele, ela se tornava mais fina muito rapidamente.”

Os cientistas determinaram ainda que toda pessoa que sofre de Parkinson apresenta os conglomerados anômalos não só no cérebro, mas também na pele. Os sinais visíveis de envelhecimento, porém, não funcionam para o diagnóstico da doença, pois muitos podem ter essas proteínas na pele, mas não no cérebro.

“Outros estudos já tinham conseguido determinar que essas proteínas surgem inicialmente no intestino, provocando constipação”, contou a neurocientista. “Depois, são capturadas por células que as levam ao sistema nervoso central. E é de lá que elas vão, finalmente, para a pele. Ou seja, em tese, quando chegam à pele, elas já passaram pelo cérebro. Mas muitas investigações ainda estão em curso.”

Tentar entender os mecanismos que levam os aglomerados a causar o envelhecimento pode abrir oportunidades de intervenção -- sonho da indústria cosmética. Ao mesmo tempo, essa compreensão pode ajudar os cientistas a interromper, no cérebro, o processo que leva à doença de Parkinson. (Estadão Conteúdo)