Com canos de PVC decorados com fitas adesivas coloridas, as palavras percorrem um caminho da boca até o ouvido capaz de transportar as crianças para um mundo de fantasia. O chamado sussurrofone é um instrumento utilizado pela Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Lauro Alves Lima, no Jardim Serrano, em Votorantim, e por meio dele a criançada tem ficado craque na leitura, compreendido melhor os textos e deixado de lado aquela vergonha que bate na hora de ler para todo mundo ouvir.
Já alfabetizados, os alunos da 4ª série do ensino fundamental estavam enfrentando dificuldades para interpretar os textos, principalmente porque liam muito devagar e se sentiam inseguros — e, vamos falar a verdade, quem nunca se sentiu assim? Quando aprendemos algo novo, essa insegurança é norma. O legal é que lá na Lauro Alves, uma ideia simples ajudou a resolver o problema. Com os canos encaixadas em formato de telefone, Gustavo de Oliveira Fernandes, 10 anos, garante que depois de um mês usando o sussurrofone já melhorou a leitura. “Antes eu me atropelava falando e não sabia ler muito bem”, conta. Isabelly do Nascimento Andrade, da mesma idade, diz que aprendeu a ler e escrever aos seis anos, mas confessa que ainda ficava tímida quando precisava ler em voz alta nas atividades em sala de aula. “Com o sussurrofone a gente ganha confiança porque consegue entender o que está lendo.” Antes de começar a atividade na escola, ela relembra que gaguejava bastante e ficava nervosa ao falar em público. Agora, isso tudo já passou.
A timidez também era o principal empecilho para a boa leitura da Ludmila Costa Ribeiro dos Santos, 10 anos. “Eu tinha muito medo de rirem de mim enquanto fazia alguma leitura”, relembra a menina, que hoje já não se intimida com a leitura. O fato de se ouvir com clareza enquanto lê despertou ainda mais interesse pelos livros e os romances são seus prediletos. Micael Lohan Oliveira Silva, 9 anos, também conta que além da segurança para ler, agora consegue dar fluidez às frases. “Antes eu me perdia, mas agora já consigo ler sozinho e entendo bem o que está escrito.”
Após a experiência com o sussorrofone Kerolyn Gabriele Robeiro Santos, 10 anos, e Jean Henrique Fonseca, 9 anos, passaram a ler ainda mais gibis. “Eu sempre gostei da Turma da Mônica, mas demorava muito para conseguir compreender as histórias”, conta Kerolyn. As frases longas eram sua maior dificuldade, mas com o equipamento, feito com uma material tão simples como os canos, ela alcança uma boa frequência de leitura. O fato de poder ler em voz baixa, quase sussurrando e ainda assim conseguir se ouvir com clareza, destaca Jean Henrique, é o que mais lhe agrada. “Lendo baixinho eu ganho confiança para ler na frente de todo mundo também.”
Barato e eficiente
A diretora da escola, Flávia Regina Vieira, conta que o projeto do sussurrofone foi inspirado em um igual, que foi feito numa escola do Piauí. “Os alunos percebem seus problemas de fala, como a troca do p e b, entre outros pontos positivos e quando se escutam conseguem melhorar a fluência”, destaca. A primeira turma da unidade a testar o sussurrofone foi justamente a do 4º ano, com a professora Maria Isabel Nieri. A evolução dos alunos foi tão grande que o projeto foi expandido para todas as salas e hoje os 264 alunos fazem atividades com o instrumento.
Alunos do 1º ao 5º ano utilizam o sussurrofone e cada um tem o seu instrumento, que fica guardado em caixas decoradas por cada turma. O projeto é de baixo custo e segundo a coordenadora pedagógica Rosângela Sanctis, todos os alunos adoram as atividades com o equipamento. “Primeiro eles se interessam por se tratar de um objeto novo, que se parece mais um brinquedo”, comemora.
A diretora da escola conta que o engenheiro Valdir Pelegrine, da Secretaria da Educação de Votorantim, ajudou a produzir o sussurrofones para todos. “Este é um exemplo do quanto as coisas simples funcionam, ainda mais com a ajuda dos colegas.” E aí, que tal levar essa ideia para a sua escola?