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Professores se vêem em carreira desvalorizada

28 de Setembro de 2018 às 10:46

Professores se vêem em carreira desvalorizada Profissionais apontam necessidade urgente de mudanças no conjunto das políticas docentes. Crédito da foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

Impossível pensar na educação sem pensar nos professores. Uma pesquisa inédita feita com docentes de todo o Brasil sobre aspectos relacionados à atratividade da carreira, condições de trabalho e gestão escolar, revela que no País metade desses profissionais não recomenda a própria profissão, por considerá-la desvalorizada. Para reverter tal quadro, eles apontam como medidas mais importantes para a valorização da carreira, em primeiro lugar, a formação continuada (69%) e a escuta dos docentes para a formulação de políticas educacionais (67%), e em segundo lugar, a restauração da autoridade e do respeito à figura do professor (64%) e o aumento salarial (62%). Os dados são da pesquisa “Profissão docente”, iniciativa do Todos Pela Educação e do Itaú Social, realizada pelo Ibope Inteligência em parceria com a Conhecimento Social.

O levantamento entrevistou 2.160 professores da Educação Básica das redes públicas municipais e estaduais e da rede privada de todo o País. A amostra respeitou ainda a proporção de docentes em cada rede, etapa de ensino e região, segundo os dados do Censo Escolar da Educação Básica (MEC/Inep).

De acordo com a pesquisa, a maioria (78%) dos professores afirma ter escolhido a carreira principalmente por aspectos ligados à afinidade com a profissão. Entretanto, quando se olha os níveis de satisfação com a atividade docente, 33% dizem estar totalmente insatisfeitos -- e apenas 21%, totalmente satisfeitos.

Mudanças urgentes

Segundo Priscila Cruz, presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, o que os professores dizem por meio da pesquisa confirma a necessidade urgente de mudanças no conjunto das políticas docentes, desde as relacionadas ao ingresso na carreira, como formação inicial, até aquelas voltadas a quem já está na ativa, como a formação continuada, e os planos de remuneração e progressão na carreira, passando pela melhora nas condições de trabalho e pela ampliação do envolvimento dos professores nas decisões relacionadas às políticas educacionais. “Mais do que desafios, os resultados da pesquisa revelam oportunidades para a valorização docente que são factíveis e podem ser alcançadas em um período de curto e médio prazo, uma vez que a Educação seja, de fato, prioridade na gestão, e o professor seja entendido como ator central de um projeto de educação”, afirma Priscila.

Formação

Em relação à formação, observa-se um forte desejo de aprimoramento profissional dos docentes, uma vez que 77% deles têm cursos de especialização. Os cursos de formação inicial, todavia, parecem não contemplar todos os quesitos que consideram importantes para começar a dar aulas: somente 29% dos professores concordam que essa formação os preparou para os desafios do início da docência.

Nesse sentido, além de políticas voltadas a melhorar a formação inicial, a formação continuada é determinante para o aprimoramento da prática docente de quem já está dando aulas. Para Juliana Yade, especialista em Educação do Itaú Social, a formação continuada precisa articular a teoria e a prática, de modo que propicie o desenvolvimento profissional e ao mesmo tempo dialogue com os desafios do dia a dia do professor. “Quando isso acontece, o docente se sente mais valorizado e apoiado, ampliando as oportunidades de aprendizagem tanto para ele como para os estudantes. Esse processo impacta de forma significativa na melhora da educação.”

Segundo a pesquisa, os professores entendem que é papel da Secretaria de Educação oferecer oportunidades de formação continuada (76%), mas não concordam que os programas educacionais como um todo estão bem alinhados à realidade da escola (66%). Apontam ainda que falta um bom canal de comunicação entre a gestão e os docentes (64%), e que não há envolvimento dos professores nas decisões relacionadas a políticas públicas (72%). Também consideram aspectos ligados à carreira mal atendidos, como o apoio à questões de saúde e psicológicas (84%), e o salário (73%). A remuneração média no País, segundo os professores pesquisados, é de R$ 4.451,56 atualmente. A maioria dos docentes (71%) tem a principal renda da casa e 29% deles afirmam ter uma outra atividade como fonte de renda complementar.

Segundo a pesquisa, um em cada três professores têm contrato com carga horária de menos de 20 horas semanais, o que pode ter impacto na renda e também no cumprimento de 1/3 da carga horária prevista na Lei do Piso do Magistério para atividades extra-classe. De acordo com a pesquisa, 58% dos professores afirmam ter tempo remunerado fora da sala de aula. Contudo, somente cerca de 30% dos docentes dispõem de aproximadamente ou mais de 1/3 da sua carga horária para atividades como planejamento de aula. Veja o relatório completo sobre a pesquisa no link https://bit.ly/2MVoQhE.

Todos Pela Educação é um movimento da sociedade brasileira que tem como missão contribuir para que o País assegure Educação Básica Pública de qualidade a todas as crianças e jovens. (Fonte: Todos Pela Educação e Itaú Social)