MEC lança projeto para escola mais atrativa aos adolescentes
A cada 100 estudantes brasileiros que chegam aos anos finais do ensino fundamental (ou seja, do 6º ao 9º ano), menos de cinco sabem Língua Portuguesa e menos de três compreendem a Matemática. E se você que está lendo isso achou absurdo, prepare-se: nessa mesma fase escolar, os estudantes têm aulas com aproximadamente 12% a 17% de professores que não possuem formação em nível superior, e de 15,3% a 39,6% de docentes com formação diferente daquela que leciona. Os dados são do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017. Para tentar “aparar as arestas” e melhorar o nível de conhecimento dos estudantes, o Ministério da Educação (MEC) lança na próxima segunda-feira mais um programa, desta vez concentrado nas idades de 11 a 14 anos: Escola do Adolescente. Nessa data, as secretarias estaduais e municipais da Educação podem fazer a adesão, e a partir de terça é a vez das escolas públicas interessadas.
Conforme o MEC, das 65 mil instituições potenciais para atendimento pelo programa, 13 mil escolas vulneráveis -- aquelas que possuem mais de 50% dos estudantes beneficiários do programa Bolsa Família -- receberão, por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), recursos para ampliação da carga horária, no âmbito do Programa Novo Mais Educação.
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O programa vem com a proposta de preencher uma lacuna de ações junto a turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental 2. Para isso, fornecerá instrumentos e estratégias de escuta do adolescente, para tornar a escola mais próxima dessa fase, como pontua a secretária de Educação Básica do MEC, Kátia Smole. De acordo com Kátia, quando se tem uma aula diferenciada que gera engajamento, que faz os adolescentes pensarem a escola, que sai da aula tradicional do modelo de que o professor fala e o aluno escuta, ocorre uma mudança na percepção dos adolescentes sobre essa escola.
As ações focam, prioritariamente, na construção de metodologias de ensino mais atrativas aos adolescentes e que permitam um ensino de melhor qualidade. Por meio de uma plataforma digital, o Programa Escola do Adolescente vai oferecer formação e apoio técnico aos professores e gestores escolares. Ao promover a melhoria da aprendizagem, o MEC acredita ser possível combater a repetência e o abandono nos anos finais do ensino fundamental.
Aulas mais dinâmicas
A plataforma apoiará a gestão das secretarias e das escolas na elaboração e implementação de um plano de ação e na revisão curricular para uma escola mais conectada com o adolescente. Para facilitar, será fornecido um diagnóstico detalhado que considera a análise histórica de avanços e/ou retrocessos da escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), proficiência e fluxo escolar.
Para complementar, a plataforma fornecerá ainda instrumentos para realização de avaliações diagnósticas em Língua Portuguesa e Matemática dos estudantes dos anos finais. Também estarão disponíveis ferramentas de escuta da percepção que os estudantes têm sobre o ambiente escolar e uma área de compartilhamento de boas práticas.
Todo o processo será mediado e acompanhado por uma plataforma digital, em que as redes de ensino, no ambiente virtual de aprendizagem do MEC, poderão customizar os cursos e adequá-los ao diagnóstico e à expectativa da rede. Tais ações visam, juntamente com esses aspectos, apoiar a escola e os professores no desenvolvimento das dez competências gerais da Base Nacional Curricular Comum (BNCC).
Novo perfil
Na avaliação da pedagoga Fernanda Peixe, gestora do polo EAD da Universidade Anhembi Morumbi em Sorocaba e fundadora do grupo UP Educar, especializado em capacitação para educadores, esse programa será bem-vindo porque os professores de hoje precisam se enquadrar no novo perfil do aluno. “É possível usar mídias digitais dentro da sala de aula. Por mais simples que seja a escola, ela tem internet hoje. E os alunos, mesmo os mais carentes, muitas vezes não tem o que comer na casa, mas têm celular”, observa.
Nesse sentido, Fernanda acredita que é possível dinamizar as aulas com recursos tecnológicos. “O professor Marins disse em uma palestra que uma criança com 5 anos tem mais de 5 mil horas de televisão sendo que ele, em sua época de criança, só sabia jogar bolinha de gude e subir na jabuticabeira. Então a geração de hoje é outra, uma criança de 3 anos já conhece bem um celular, e já cresce pensando diferente”, ressalta Fernanda.
A educadora lembra que o professor não é mais o dono do conhecimento. “Se ele falar algo errado, o aluno consulta o Google e joga na cara que ele falhou. Então se a ideia é trazer esses professores para a linguagem dos jovens, o programa do MEC é muito bem-vindo.”
Fernanda enfatiza que muitos professores ainda continuam no seu “quadrado” porque mudança dá trabalho. “Aprimorar dá trabalho, estudar dá trabalho, mas a melhoria na Educação só vai acontecer quando o professor estiver disposto, porque preparar aula também dá trabalho, ao contrário do que acontece hoje e que muitos alunos reclamam, que é o tal do passar na lousa e mandar copiar, isso sim não dá trabalho, mas também não dá resultado.”
Mais informações sobre o Programa Escola do Adolescente podem ser obtidas no site http://portal.mec.gov.br.