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As nuances da discussão do volta às aulas

07 de Agosto de 2020 às 00:01

As nuances da discussão do volta às aulas Desafio é promover a retomada das aulas e não ter alta no número de infecções. Crédito da foto: Sam Panthaky / AFP

Com o início do segundo semestre, a volta às aulas torna-se o centro da discussão da pandemia no Brasil e no mundo. A ciência tem dito que é possível retornar, desde que com segurança. Isso porque estudos preliminares mostram que as crianças se infectam menos e transmitem menos a doença. Os educadores enumeram as perdas: prejuízos à aprendizagem, à convivência social e até o risco de danos graves à saúde mental e à nutrição dos alunos. Mas incertezas quanto ao enfrentamento da pandemia, à dificuldade de crianças cumprirem regras sanitárias e o número de infectados no País fazem pais e professores se sentirem inseguros para voltarem às escolas.

O conselho municipal de São Paulo trabalha em uma resolução para que pais possam decidir se seus filhos retornam ou não. Escolas precisam agora pensar em como organizar a volta para quem estará e não estará presente. Pesquisa feita pelo Colégio Dante mostra que 40% dos pais não mandariam os filhos na primeira fase da abertura determinada pelo governo do Estado, prevista para setembro. No Porto Seguro, as salas de aula estão sendo adaptadas com câmeras e telões, para os que estiverem em casa. Mas essa não é uma realidade da maioria dos estabelecimentos de ensino.

“As crianças não vão respeitar o protocolo, ficar com máscaras, querem brincar com os amigos. Por mim, ele não volta este ano”, diz Fernanda Pacheco, de 41 anos, mãe de Theo, de 9, que estuda numa escola particular. “Não tive dilema algum, minha filha não volta com a situação que está a pandemia”, completa Katia Vieira, de 45 anos, também mãe de uma menina de 9 anos. Ela disse que comunicou a escola e espera que haja uma solução para sua filha continuar estudando remotamente.

Os últimos dados do Ministério da Saúde mostram que 585 crianças e adolescentes menores de 19 anos morreram por Covid-19 desde o início da pandemia no Brasil. O País passou de 96 mil mortos. Cerca de 5 mil foram hospitalizadas. Estudos de casos na China, Austrália, Finlândia, Irlanda e Espanha indicam que as crianças não transmitem coronavírus tanto quanto os adultos.

Um estudo, feito na Suécia, que nunca fechou escolas de educação infantil, indica que não houve maior infecção entre professores. Na Irlanda, seis crianças e adultos contaminados com Covid foram monitorados por 14 dias. Eles tiveram contatos em escolas com mil outras crianças e cem adultos. Ninguém foi infectado. Outra pesquisa publicada na revista científica Nature analisou crianças, jovens e adultos em cidades de culturas diferentes, como Milão e Bulawayo, no Zimbábue. Os resultados mostram que pessoas com menos de 20 anos são duas vezes mais resistentes ao vírus do que as com mais de 20.

A dificuldade ainda é saber o por quê. Para o presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Safadi, a melhor das hipóteses se refere ao fato de as crianças terem um receptor do vírus com menos expressão.

Mesmo reforçando que as evidências ainda são iniciais, Safadi acredita que, com proteção, é importante retornar. “Se houver baixa nos casos, a volta às escolas é menos penosa que a manutenção da interrupção”, diz o pediatra, que teme prejuízos à nutrição e à saúde mental dos alunos, casos de depressão e abusos em casa.

Exterior

Pouco mais de dez países já abriram suas escolas, entre eles França, Alemanha e Austrália, mas 1 bilhão de alunos no mundo (60% do total) ainda estão sem aulas, segundo a Unesco. A Europa voltou a ter aumento de casos, mas não se sabe se há relação com o retorno, já que escolas fecharam novamente para férias e restaurantes e praias estão abertos. Em Israel, escolas reabriram em maio e tiveram de adiantar férias porque o número de infectados cresceu. O tema também é polêmico nos EUA, onde Estados como Nova York e Flórida retomarão aulas presenciais, mas cidades como Los Angeles e San Diego continuarão com ensino remoto. (Renata Cafardo - Estadão Conteúdo)