Estrelas comestíveis
Crianças, me digam uma coisa: será que estrelas são comestíveis? Será que dá para pegá-las com a ponta dos dedos, como quem colhe uma fruta bem madura no pé?”
Foi assim que começamos a nossa leitura. E, enquanto a pergunta brilhava no ar, nossos olhos mergulharam no jardim colorido criado por André Neves. Um lugar onde Magnólia, Jacinto e Rosa brincam como pequenas flores vivas, subindo em árvores com coragem, voando nos balanços como quem tenta tocar o universo com o pé descalço. Ao lado delas, Abel, o cachorro curioso e encantado, acompanha cada descoberta, como se não quisesse perder nenhum pedaço dessa dança luminosa das infâncias.
As ilustrações, expressivas e profundamente poéticas, envolveram as crianças de imediato. Durante a leitura, elas ficaram absolutamente concentradas na beleza das imagens, apontando detalhes minúsculos, inventando hipóteses, narrando o que viam e o que imaginavam. Havia um silêncio atento, desses que só acontecem quando o livro abre uma porta para um outro mundo.
E, claro, a pergunta inicial ficou pairando até o final... estrelas são comestíveis? São fáceis de alcançar? A resposta surgiu nas páginas como um sorriso: as estrelas, ali, eram carambolas fatiadas, iluminando o céu da história com um brilho de fruta madura.
A publicação me lembrou muito Manu e Mila (2016), também de André Neves, por essa mesma combinação rara de poesia visual, sutileza narrativa e a capacidade de transformar o cotidiano em encanto. Um convite para olhar o mundo com mais sonho, mais cor e mais infância. Lançamento da Brinque Book.
Vanessa Marconato Negrão é professora e sócia efetiva da Academia Sorocabana de Letras