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Vida no circo

A brincadeira que virou profissão

03 de Agosto de 2024 às 22:00
Vinicius Camargo [email protected]
Sexta geração de artistas, a trupe treina todos os dias, de uma hora e meia a duas horas
Sexta geração de artistas, a trupe treina todos os dias, de uma hora e meia a duas horas (Crédito: ARTHUR BRANÇAM MANOEL)

Há 8 anos, quando o Cruzeirinho visitou o circo Top Irmãos Mello, Kawan Victor Portugal Mello, então com 6 anos, já se arriscava como palhaço, mas o seu sonho era ser bombeiro. Aos 8, Raul Miguel Portugal Mello acreditava ser possível ganhar dinheiro no picadeiro, no futuro. Porém, ficava dividido entre o desejo de trabalhar como artista circense ou policial. Yorrana Portugal Mello, também com 8 anos, começava a se apresentar com bambolês. No entanto, quando crescesse, queria atuar como veterinária. Em 2024, as dúvidas de 2016 não existem mais, e os três irmãos decidiram, sem qualquer arrependimento, continuar no circo. Com isso, a brincadeira virou profissão.

Quase nada mudou na vida do trio nos últimos oito anos, além, é claro, da altura e da aparência. Eles seguem viajando, em média, para 12 cidades por ano e mudando de escola todas as vezes. Uma novidade, segundo Kawan, é que a casa deles, antes uma carreta, agora, é um trailer mais espaçoso. Ah, tem mais uma mudança importante. Em 2016, o garoto achava o número do palhaço o mais fácil e o globo da morte, o mais difícil, embora fosse o seu preferido. Hoje, aos 14 anos, ele é um dos motociclistas do globo e se apresenta com um monociclo.

Sexta geração da família no circo, o jovem preferiu seguir o mesmo caminho após perceber a sua vocação e a paixão por encantar o público. “É uma coisa que já está no sangue, corre na veia”, diz. O menino de 8 anos se aprimorou — e segue se aperfeiçoando — para se tornar o atual artista. A ideia de deixar o circo nem passa pela cabeça dele, apesar dos desafios. A satisfação de fazer o que ama e ter como retorno a alegria das pessoas compensam qualquer dificuldade. “A vida no circo é feliz”, garante.

Trabalho sério

Essa felicidade é compartilhada por Raul. Assim como o irmão, o adolescente sempre sonhou em participar do globo da morte. Inclusive, oito anos atrás, se aventurava de bicicleta dentro do enorme círculo de ferro. Ele não sabia, mas aquela brincadeira era como um ensaio para o futuro, já que, mais tarde, realizaria o desejo de deixar as pessoas vidradas com as suas acrobacias em uma moto. Além dessa apresentação atraente, ele faz todo mundo rir como palhaço. E até a interpretação desse personagem divertido e descontraído demanda muito comprometimento e dedicação, duas coisas ainda não exigidas dele quando criança. “Antes, a gente brincava; agora, é trabalho sério”, comenta.

Por falar em ensaio, a rotina é puxada. A trupe treina todos os dias, de uma hora e meia a duas horas. Os espetáculos acontecem quatro vezes por semana, podendo chegar a quatro sessões por dia. Raul admite sentir cansaço às vezes, mas pega energia de uma fonte especial para entregar o seu melhor em cada show. “Só de subir no palco e ver o povo ali, já dá um gás”, conta.

Público é essencial

Como se percebe pelas falas dos meninos, os espectadores são essenciais para motivá-los a continuar. Porém, de acordo com Yorrana, quando finalmente chegou a sua vez de brilhar, de verdade, com coreografias usando bambolês e acrobacias em tecidos, a plateia diminuiu. “Hoje em dia, a cultura do circo está meio que acabando, porque tem muita coisa fora o circo, como cinema, e o pessoal já não conhece mais tanto”, acredita. Mas, como ela, seus irmãos se empenharam muito para virarem artistas circenses, a trupe faz de tudo para eles e todos os outros membros do elenco serem prestigiados como merecem.

Uma das principais estratégias é investir bastante em ações de marketing para divulgar o circo logo na chegada à cidade, principalmente, nas redes sociais. Segundo a Yorrana, esse trabalho dá resultado, pois o picadeiro enche quase sempre. A jovem não se importa de fazer esse esforço a mais, porque ele garante a manutenção da tradição do circo e, consequentemente, a oportunidade de ela continuar fascinando muitas pessoas por todo o Brasil. “Eu não me vejo fora do circo, é uma profissão que quero seguir para sempre. Eu quero ser artista, eu peguei amor”, pondera.

Prós e contras

A vida no circo tem lados bons e desafios. Para Kawan, Raul e Yorrana, conhecer muitas novas cidades, culturas e pessoas é a parte mais incrível. Já montar a estrutura, por causa do peso do material, é desafiador. Deixar os amigos feitos nos lugares por onde os três passam também é difícil. Mas, aplicativos de troca de mensagens, como o WhatsApp, ajudam a manter o contato e a amenizar um pouco da saudade. Como mudam de escola frequentemente, eles também usam a internet para esclarecer dúvidas e não ficarem perdidos nas matérias.

 

 

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