Aviãozinho de papel: brincadeira de criança ou projeto de engenharia?

Sem cortes e sem cola: de uma folha de sulfite e algumas dobraduras nasce um brinquedo secular

Por Jéssica Nascimento

Felipe Portari, de 18 anos, atingiu 27,5 metros, uma das maiores distâncias da competição.

Sem cortes, sem cola e sem adesivos, basta uma folha de sulfite, algumas dobraduras e tcharã: nasce um aviãozinho de papel. A fabricação desse brinquedo, que marca a infância de gerações, não é tão simples quanto parece, principalmente se o objetivo for alcançar o voo mais longo ou então o maior tempo no ar antes da dobradura cair no chão. Você sabia que a fabricação de um avião de papel envolve várias técnicas e áreas do conhecimento, como matemática e física? Existe até campeonato mundial dos aviõezinhos. Brincadeira de criança? Longe disso. Até os adultos dão asas à imaginação na tentativa de confeccionar um avião perfeito para vencer as competições.

Clássicos, planadores, estáveis, com asas maiores, menores, mais largas ou mais finas. Existem dezenas de modelos na internet de como fazer um bom aviãozinho de papel. Mas uma coisa todos eles têm em comum: conceitos de aerodinâmica -- ciência que estuda os fenômenos que acompanham qualquer movimento relacionado com um corpo e o ar que o circunda. Construir um avião de papel não é tão simples como parece, né? Com base nesses conhecimentos é possível confeccionar uma dobradura que possa voar mais longe ou planar por mais tempo no ar. É o que destaca o professor Paulo Sérgio Santos, coordenador do Laboratório de Inovação e Competição Estudantil do Centro Universitário Facens.

O grande segredo, de acordo com o professor, é fazer asas bem longas e dobraduras bem firmes. “O avião não pode ficar mole. Na hora de arremessar, ele precisa estar bem firme. É preciso prestar atenção nessas partes para o avião ir mais longe e mais alto”, destaca. Isso porque, explica Santos, dependendo da dobradura o arrasto e a força de sustentação do avião no ar aumentam. “Esses conceitos básicos de engenharia ajudam na hora de montar os aviões para competição”. Sim! Dobrar aviõezinhos de papel vai muito além de uma brincadeira de criança: existe até um torneio mundial para isso, o Red Bull Paper Wings, que chega à sexta edição neste ano.

E olha que legal: Sorocaba foi sede de uma das etapas classificatórias da competição em território paulista. Em três categorias - maior tempo de voo, maior distância e acrobacias - o torneio desafia universitários de todo o mundo. Na cidade, a disputa aconteceu no Centro Universitário Facens e reuniu dezenas de pilotos, como são chamados os participantes. Antes do início da disputa, a quadra poliesportiva da faculdade ficou diferente. No chão, marcações de distância. No alto, aviões voando por todo lado. A empolgação dos pilotos era tanta que até a equipe do Cruzeirinho foi atingida por um aviãozinho de papel nas fases de teste. Mas não se preocupem que não foi nada grave, todos passam bem (risos).

Entre os inscritos, estão os integrantes do grupo Falcons, uma equipe de competição da Facens voltada à área aerodinâmica. É o caso do estudante de engenharia mecatrônica Gabriel Pereira, de 20 anos, que todo ano participa do desenvolvimento de uma aeronave diferente. Gabriel explicou que a construção de um avião, inclusive os de papel, depende do objetivo. “As asas devem ser maiores que o corpo. O modelo precisa ser aerodinâmico. E para lançar, é sempre importante deixar o avião reto ou inclinado para baixo”.

Foi seguindo todas essas técnicas que o estudante de análises de desenvolvimento de sistemas Felipe Portari, de 18 anos, conseguiu atingir uma das maiores distâncias da competição na cidade: 27,5 metros. Até Felipe ficou impressionado com sua conquista. “Eu não imaginava que iria tão longe”. Por outro lado, o jovem diz que qualquer pessoa consegue construir um bom aviãozinho de papel. “O importante são as dobraduras e a simetria. E tem que fazer com carinho e vontade”, afirma.

Matriculado no curso de engenharia mecatrônica, José Matheus Beneton, de 17 anos, foi um dos pilotos da competição. José levou até um modelo de avião que fez em casa para reproduzir usando as folhas de papel que recebeu da competição. “Tem que pensar na aerodinâmica, fazer as dobraduras certinho para o avião ficar equilibrado”, conta ao dizer que seu aviãozinho atingiu 12,4 metros de distância. Para a estudante de engenharia química Kaliny Camargo, de 20 anos, o importante é competir. “Não é fácil. Mas a dinâmica é bem legal. Me fez lembrar da infância”.

Competição em casa

Você já fez um aviãozinho de papel? Que tal colocar em prática todas essas técnicas? Dá até para simular uma competição entre os amigos. Basta fazer uma marcação no chão para delimitar o espaço de lançamento e traçar uma linha reta com uma plaquinha para marcar a distância, colocando uma plaquinha a cada cinco metros, até chegar aos 30 metros, como ocorre no Red Bull Paper Wings. Depois, é só lançar o avião e considerar o primeiro ponto onde ele cair no chão para medir a distância percorrida pelo aviãozinho. Dica: para medir, use uma fita métrica ou uma trena.

Construa em casa o modelo campeão

E que tal fazer o modelo de avião de papel usado pelo americano John Collins, que foi recordista em distância em 2012? A dobradura do americano atingiu 69 metros. Incrível, né? Para fazer uma réplica do modelo, você só vai precisar de uma folha de papel e seguir o passo a passo abaixo:

1 - Faça dois triângulos para criar vincos.
2 - Desdobre e observe os vincos.
3 - Faça um triângulo comprido no vinco.
4 - Repita do outro lado, simetricamente.
5 - Vire o bico para trás.
6 - Faça mais dois triângulos.
7 - Dobre a lingueta por cima.
8 - Feche o avião.
9 - Dobre a asa até cobrir o canto.