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Uma arquitetura viável e com qualidade para todos

18 de Março de 2019 às 14:43

Uma arquitetura viável e com qualidade Giane Valverde, uma arquiteta que acredita na viabilidade da arquitetura popular. Crédito da foto: Emidio Marques (11/3/2019)

A arquitetura, sem dúvida, representa um dos marcos civilizatórios pelos quais a Humanidade passou. Lugares onde morar mais confortáveis, funcionais, limpos, iluminados - mais bonitos - tornaram a dura luta pela vida mais suportável. E, de maneira histórica, as benesses que o projeto arquitetônico poderia trazer à vida das pessoas se limitaram a tornar a vida dos poderosos mais agradável e segura. Os projetistas das imensas catedrais medievais, onde o poder divino se torna quase palpável; dos palácios e mansões com seus confortos, grandes espaços e altas muralhas, dificilmente chegavam às choupanas, aos barracos.

Mesmo hoje esse padrão parece se repetir. A imensa maioria da população continua, como nos séculos 18, 19 e 20, a riscar o desenho de sua moradia, se não mais com a ponta de um pau diretamente no chão, agora no papel ou com a ajuda de programas de computador.

Hoje, como ontem, a arquitetura ainda é uma grife acessível apenas, de maneira geral, às elites e classes médias altas. Mas, nem sempre.

“Sempre quis trabalhar para outra classe social. As pessoas dizem que arquiteto é caro. Nunca quis isso. Quando terminei a faculdade, é isso que fui buscar - levar qualidade de vida a qualquer pessoa. As pessoas têm que morar bem”.

Uma arquitetura viável e com qualidade O projeto prevê um sobrado com três quartos, área para carro, quintal e jardim. Crédito da foto: Giane Valverde

Giane Valverde, 40 anos, arquiteta, casada, dois filhos, é conhecida por projetar casas de condomínio - aquelas, com vidrões, espaços abertos, iluminadas e arejadas - em terrenos de vila, de 7,5 x 20 m, meros 150 m². Casas que caberiam facilmente nas salas de projetos de grife.

(E aqui não se entenda uma crítica aos arquitetos especializados nesses mega projetos. São competentes, alguns geniais. A crítica, se é que ela existe, vai para a dificuldade em transpor um fosso que parece separar arquitetura de qualidade de grupos sociais menos favorecidos)

“A casa própria é um sonho de todos. E, se você consegue ter a sua, quer viver bem nela, ter conforto. Os tipos de casa que eu faço, as pessoas dizem - ‘nossa, você faz casa de condomínio em bairro?’ Faço. A pessoa tem que ter a casa mais bonita da rua”.

Suas casas têm muitos vãos livres, poucas paredes, integração entre ambiente. Os projetos, apresentados em imagens renderizadas, traduzem bem o que a casa vai ser. Quase nunca são erguidos com rapidez - o dinheiro é uma barreira, e as diversas etapas da construção nem sempre acontecem sem intervalos. Não é a pequena construtora de Giane a contratada para erguer a casa mas, sim, o pedreiro conhecido, o pintor amigo.

Uma arquitetura viável e com qualidade Crédito da foto: Giane Valverde

Giane nasceu em Sorocaba, morou em São Paulo, e só foi fazer faculdade depois de casada e já com o primeiro filho, na Unip. “Desde criança sonhava em ser arquiteta, falava que queria fazer casas pré fabricadas, com custo baixo, para todas as famílias carentes, acabando assim com todas as favelas, para todas as pessoas terem direito à moradia, é isso é um sonho que tenho até hoje! Não é apenas um negócio. É mais que isso”.

Um sonho talvez inalcançável, esse de acabar com todas as favelas. Enquanto isso, a arquiteta que, além de casas, também projeta igrejas, faz o que pode - por exemplo, ter cerca de 50 projetos em diferentes fases de execução, em bairros como o Jardim Natália, o Jardim dos Pássaros e o Parque São Bento, quase todos em terrenos de 150 m².

Casa e Acabamento traz três projetos da arquiteta - e uma última frase sua: “Meus clientes têm orgulho de suas casas”.

“O que falei, ela conseguiu por no projeto”

Uma arquitetura viável e com qualidade A casa de Gilson já tem o portão e o térreo - agora, é erguer o resto do sobrado! Crédito da foto: Fábio Rogério

Gilson Aparecido Soares, 31 anos, operador de máquinas na Schaeffler Brasil Ltda., natural de Itaporanga, SP, morador de Sorocaba há 15 anos, é um homem que planeja seu futuro, tanto quanto isso é possível. Ele quer construir uma família. Casar, ter filhos. E quer isso com qualidade de vida para todos, quer morar bem.

O primeiro passo foi comprar um terreno, cerca de cinco anos atrás. 130 m², 6,5 x 20, no Jardim dos Pássaros, no Éden. Enquanto ia pagando, começou a pensar na casa que queria. “Comecei a fazer um projeto, e aí conheci a Giane; ela havia projetado a igreja da nossa paróquia, Sta. Maria dos Anjos. Expliquei a ela o que queria, algo simples, que não fosse caro”.

“O que falei para ela, ela conseguiu por no projeto. O terreno é pequeno, mas a casa tem espaço, com três quartos, é bonita, aproveitou bem o terreno. Já estou construíndo a parte de baixo, que tem um quarto. Vou morar ali, até conseguir construir a parte de cima, com outros dois quartos”.

E assim, aos poucos, Gilson constrói uma casa para a vida, para sua família. Que ainda não existe. “essa vai ser a última parte. Com a casa pronta fica mais fácil de pensar nisso, não é”, diz ele, tímido, rindo.

“Ficamos surpresos, a gente não esperava tudo isso”

Wallaci Ilva Souza, 33 anos, nasceu na Bahia, em Santa Cruz da Vitória, e mora em Sorocaba há 9 anos. Ele e Juliane Caroline, sua esposa, têm duas filhas, e moram na casa que compraram há seis anos. A casa fica num terreno de 5 x 25 m, 125 m². Pequena, com dois quartos, circulação apertada, já não atendia mais às necessidades, com as filhas crescendo. Além disso, precisava de uma reforma. mas eles queriam mesmo era transformá-la num sobrado.

Uma arquitetura viável e com qualidade Wallaci gostou tanto da sugestão de mobiliário da arquiteta que vai procurar seguí-la. Crédito da foto: Fábio Rigério

Através da indicação de um colega de trabalho de Wallaci, cujo irmão fora cliente de Giane, chegaram à arquiteta. “Explicamos a ela que, se fosse ficar caro construir o sobrado, faríamos apenas a reforma. E foi isso que aconteceu. Ela nos disse o valor, seria elevado para nós, e optamos apenas pela reforma”.

A reforma incluiria mudar a fachada, acrescentar um quarto e tornar a casa mais confortável.

Quando eles viram o projeto, “ficamos muito surpresos, a gente não esperava tudo aquilo. Gostamos demais, foi uma mudança enorme. Vamos aproveitar até a ideia da decoração que ela sugeriu”. Detalhe, Giane não se acha designer de interiores, nem gosta muito desse trabalho. “Mas ficou muito bonito”, diz Wallaci.

Agora, resta fazer a obra. “Vou atrás de financiamento”, diz Wallaci. “Temos uma poupança, mas não vamos mexer nela”.

“Preciso de espaço para guardar o caminhão”

Uma arquitetura viável e com qualidade A visão lateral permite perceber bem com o uso racional do terreno permitiu responder às demandas. Crédito da foto: Giane Valverde

Este é um projeto singular, não apenas pelas características arquitetônicas. Seu proprietário - que prefere não aparecer na reportagem - é um caminhoneiro, e tinha um pedido especial para a arquiteta: “meu caminhão não pode ficar na rua, preciso de um espaço para ele”. O terreno não é grande - são 150 m² - mas foi aproveitado de tal maneira que deu certo - a ferramenta de trabalho, que garante o sustento da família, agora pode ficar bem guardada. A casa, um sobrado, resguardará o casal e a filha em dois quartos, e ainda restou espaço para uma churrasqueira e algum espaço verde. (Antonio Geremias)

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