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Volta às aulas na rede estadual teve exclusão de alunos

28 de Abril de 2020 às 00:01

O ensino remoto acontece, além da TV, por meio de aplicativos e dois canais digitais. Crédito da foto: Divulgação / Agência Brasil / MCTIC

A volta às aulas na rede estadual de ensino aconteceu nesta segunda-feira (27), por meio de plataformas digitais, mas professores relatam dificuldades no acesso, instabilidade dos sistemas e exclusão dos alunos mais carentes. O ensino remoto acontece por meio dos aplicativos Centro de Mídias SP (CMSP) e dos canais digitais 2.2, da TV Univesp, e 2.3, da TV Educação.

A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou que a programação ocorre em ambas as plataformas por hora, de acordo com a série do estudante, sempre a partir das 7h30. “Há o CMSP específico para os anos finais do ensino fundamental e ensino médio e o CMSP direcionado à educação infantil e anos iniciais”, divulgou.

Nesta segunda-feira (27), ao meio-dia, o desenhista Mauricio de Sousa fez uma participação para contar sobre a criação da Turma da Mônica, com transmissão simultânea em todas as plataformas, porém, muitos alunos não puderam assistir.

Em Sorocaba, são 3.193 professores da rede estadual. Bruna Hernandes Pereira, 33, é coordenadora pedagógica na escola Reverendo Ovídio Antônio de Souza, no bairro Nova Esperança. “É uma região com muitas crianças em vulnerabilidade, sem acesso a celulares e computadores. Hoje uma das professoras me relatou que uma aluna ligou falando que não consegue assistir nem na televisão porque não tem sinal digital em casa”, contou.

Na próxima semana, Bruna disse que os materiais impressos fornecidos pela pasta estadual devem começar a ser distribuídos e esses serão os únicos meios de ensino para parte dos estudantes. “Quando for feita a retirada, já vamos tentar agendar o retorno para as correções, ou vamos tentar combinar de mandarem fotos, no caso daqueles que ao menos os pais possuem celulares”, disse a coordenadora. Cada escola terá autonomia para organizar a distribuição das apostilas.

Bruna teme que o abismo educacional já existente seja ainda mais ampliado neste momento, quando alguns alunos terão acesso a diversas ferramentas e acompanhamento dos pais, enquanto outros dependerão exclusivamente das soluções que professores conseguirem improvisar. “É impossível dizer que não haverá prejuízos à educação. Estou vendo professores se desdobrando e sofrendo para se adaptarem rapidamente a esses meios, que sequer chegarão para todos os alunos.”

Disciplinas de fora

Professora de três disciplinas em duas escolas estaduais de Sorocaba, Ângela Soares Lopes Esteves, 54, conta que tem interagido com os alunos exclusivamente através do Whatsapp.

Lecionando para estudantes do 6º do fundamental até o 3º do médio, ela conta que as disciplinas de Sociologia, Filosofia e Projeto de Vida ainda não foram contempladas pelo cronograma estadual. “Desde o início da quarentena eu venho acompanhando todos eles, mas tudo ainda parece um pouco incerto e desorganizado”, afirmou.

Ângela também aponta que o tempo de adaptação para os professores foi muito curto. “Alguns profissionais já se dão muito bem com as novas tecnologias, mas outros, principalmente os mais velhos, enfrentam bastante dificuldade e não conseguem se adequar em três dias. A intenção de propor uma maneira do ensino não parar é muito boa, mas faltou planejamento”, criticou. Os professores passaram pelo treinamento da pasta entre os dias 22 e 24 de abril.

Os horários desencontrados também foram apontados pelos educadores. Professora de Geografia, Silvana Aparecida Pereira, 47, contou que ontem assistiu as aulas de Matemática e gostou do que viu, porém a sequência das aulas foi diferente da informada previamente. “O cronograma também é divulgado por dia, então eu não sei com antecedência quando eu irei preparar aula, mas hoje (segunda-feira - 27) vi que a videoaula fluiu bem entre os alunos”, contou ela, que leciona há 27 anos.

Problemas

Na sexta-feira passada, em entrevista ao Cruzeiro do Sul, o subsecretário de articulação regional da Seduc, Henrique Pimentel, afirmou que por tratar-se de um sistema novo, erros poderiam surgir e seriam corrigidos. Ele afirmou também que alunos sem acesso às plataformas seriam alcançados por outros meios e que as apostilas que serão entregues são fundamentais para dar continuidade ao aprendizado.

Sobre a entrega dos materiais, ele reforça que as equipes gestoras das escolas devem ficar atentas a possíveis aglomerações que podem surgir no momento da retirada. “Cada sala deve ter no máximo dois funcionários da escola, devidamente protegidos por máscaras, para organizar a distribuição”, orientou.

Ainda sobre a desigualdade em relação ao alcance da educação remota, Pimentel afirmou que já está em preparação uma reestruturação para fortalecer o reforço e a recuperação quando as aulas presenciais forem normalizadas.

A Seduc divulgou os horários das atividades para os alunos de todas as etapas, seja pelo aplicativo ou pela TV.

As plataformas disponibilizaram, além da entrevista com Mauricio de Sousa, uma entrevista com o diretor de cinema Sérgio Rizzo. Os professores também podem assistir as videoaulas de outras disciplinas. Os aplicativos podem ser baixados no link https://centrodemidiasp.educacao.sp.gov.br. (Larissa Pessoa)