Sorocaba tem atraído espécies de pássaros que há 20 anos não eram vistas na cidade. Visitar os locais onde as aves se aglomeram, como os parques e filões de mata atlântica, percorrer as margens do rio Sorocaba e se deparar com bandos ou revoadas de pássaros, é uma surpresa que faz bem aos sentidos. As cenas vão muito além da beleza dos voos e de cenários para selfies. A presença das aves é um bom indicador da importância das árvores frutíferas e de como o meio ambiente tem capacidade contínua de renovação.
O músico, ornitólogo e observador de aves Marcos Antônio Leonetti, 72 anos, informa que Sorocaba tem 284 espécies de aves, sendo 100 delas na área urbana e pelo menos 71 no Parque das Águas. Ele lembra que há 20 anos não se avistava em Sorocaba — ou era muito raro — o periquitico-maracanã (maritaca), a avoante (ou pomba-de-bando) e a asa branca. Esta última, também chamada de pombão, inspirou o rei do baião, Luiz Gonzaga, a criar a canção com o título que dá nome ao pássaro e que se tornou um clássico da MPB. Há 20 anos esses pássaros não eram encontrados em Sorocaba ou eram raros. E agora são vistos com frequência, entre muitas outras espécies.
Segundo Leonetti, entre os pássaros mais comuns da cidade estão o bem-te-vi, algumas espécies de sanhaços, papagaio verdadeiro, periquitão-maracanã, periquito-verde, tuim, canário-da-terra, curruíra. A presença deles e o crescimento do número e variedade de espécies se devem a vários fatores, na avaliação de Leonetti. Entre eles, enumera mudanças de comportamento que levaram garotos a substituírem o estilingue e a espingarda de pressão, instrumentos antigos usados na caça ao passarinho, pelo celular.
“Por um lado é bom: a pessoa ficou muito apegada à tecnologia e deixa de sair mais pra rua”, compara Leonetti. Outro fator de atração são os alimentos, encontrados nas árvores frutíferas e nos insetos, e os parques, fechados e abertos. “Sorocaba é a cidade do interior que mais áreas verdes tem, mais de 20 parques, e parques abertos, como o do Campolim”, diz Leonetti. Segundo ele, a presença de pássaros é indicador de cidade arborizada. “E Sorocaba não peca nisso.”
Migração
Entre outros fatores, há os desmatamentos, que provocam migração de aves. Leonetti conta que toda vez que uma empresa loteia uma área, a intervenção da terraplenagem, a especulação imobiliária e crescimento da construção civil, tudo isso transforma o ambiente que antes tinha características rurais e as aves se adaptam migrando para áreas urbanas que contenham filões de vegetação.
Nesse contexto entra a importância da função dos parques e dos filões de mata atlântica ainda preservados, como o existente na área do Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros“. “Já cheguei a catalogar no parque do Campolim mais de 60 espécies de aves.”, informa Leonetti. Na década de 1990, quando o parque foi criado, não havia essa quantidade. Toda catalogação das aves requer quatro a cinco idas de visita em cada parque.
A função das árvores frutíferas é fundamental para atrair os pássaros. Leonetti informa que somente a figueira brava atrai mais de 20 espécies. E a magnólia atrai mais de 15 espécies. Entre as árvores que exercem essa atração ele conta, além da figueira brava e da magnólia, a embaúba, chifreira, arrueira pimenteira, amoreira, ameixeira e a magnólia. O beija-flor, por exemplo, gosta de se empoleirar na gravilha-anã e nos malvaviscos (arbustos), nos ipiscos e nos ipês.
Nem toda árvore atrai pássaros. Leonetti descreve: “Não adianta plantar bananeira ou mangueira. “É fruta, mas qual ave consegue furar a casca da banana para poder ser alimentar? A mangueira atrai na hora em que está florindo, mas a fruta em si não tem muito atrativo. É o caso da laranja também. O que atrai são essas frutas miúdas tipo ameixa, pitanga, magnólia, porque é o alimento delas.”
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