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‘Setembro Amarelo’ reforça a importância da prática da empatia

18 de Setembro de 2020 às 00:01
Jéssica Nascimento [email protected]

‘Setembro Amarelo’ reforça a importância da prática da empatia Alcebíades Alvarenga, do Centro de Valorização da Vida (CVV) é a favor de conversar sobre o tema. Crédito da foto: Emidio Marques / Arquivo JCS (12/12/2019)

Todos os anos, o suicídio aparece entre as 20 principais causas de morte no mundo, para pessoas de todas as idades. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), só ele é responsável por mais de 800 mil mortes, o que equivale a um suicídio a cada 40 segundos. No Brasil, são registrados cerca de 12 mil casos por ano. Conforme o Ministério da Saúde, mais de 96% desse total estão relacionados a transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar e abuso de certas substâncias.

Para prevenir e reduzir esses números, desde 2014 a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente a campanha Setembro Amarelo. Para a médica psiquiatra Cristiane Picarelli, professora do curso de medicina da PUC-Sorocaba, o Setembro Amarelo vem justamente para desmitificar o suicídio, romper estigmas e promover a conscientização sobre a necessidade de buscar ajuda para aqueles que apresentam comportamento suicida, o que inclui pensamentos, planejamentos e tentativas.

Agora, os números podem se elevar ainda mais, aponta a médica ao alertar que há estudos associando o aumento de casos à pandemia do novo coronavírus. Isso porque, segundo ela, a pandemia agrava os fatores de risco, como isolamento, solidão, desamparo, perdas financeiras, desemprego, luto, violência doméstica, depressão, abuso de álcool e outras substâncias. “Quase todos os suicídios ocorrem devido a um transtorno mental, nem sempre diagnosticado e/ou tratado. Se existe tratamento para os transtornos mentais, então estamos falando sobre algo muitas vezes possível de prevenir”, destaca.

‘Setembro Amarelo’ reforça a importância da prática da empatia A psiquiatra Cristiane Picarelli fala da importância do rompimento de estigmas. Crédito da foto: Divulgação

Uma das formas de prevenção, aponta Cristiane, é estar atento aos sinais de alerta. “Isso inclui verbalizar sobre ideação suicida, isolar-se, sentir-se um fardo para os outros, sensação de vazio, desesperança, dor insuportável, mudanças de comportamento, uso de substâncias e tomar precauções para cometer suicídio”. Mais do que uma campanha de conscientização, a médica aponta que o setembro amarelo destaca a necessidade de praticar empatia pelo próximo. “Não se deve julgar ou criticar a pessoa com ideação suicida. Ouvir a pessoa com tempo, cuidado, respeito, atenção e orientá-la a buscar ajuda especializada pode fazer uma diferença enorme nessa situação”.

Porém, Cristiane destaca que ainda existe um certo preconceito em falar sobre temas relacionados à saúde mental. “Falar sobre suicídio pode gerar vergonha no indivíduo que expressa a ideação e hostilidade naqueles que o ouvem. Isso é resultado do estigma gerado por séculos em relação ao portador de transtorno mental”, frisa. Segundo a médica, o suicídio é um tema que deve ser discutido todos os meses do ano, não apenas em setembro.

Atendimento voluntário

É o que faz o Centro de Valorização da Vida (CVV) ao atender voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. De acordo com o coordenador de divulgação do CVV de Sorocaba, Alcebíades Alvarenga, os telefonemas aumentaram nos últimos meses devido a pandemia. “Para se ter ideia, até agosto deste ano recebemos 60 mil ligações. Em 2019, o posto de Sorocaba recebeu ao todo 66 mil contatos. Se continuarmos nesse ritmo, projetamos realizar 90 mil atendimentos em 2020”, frisa.

Ao longo do mês, o CVV de Sorocaba tem realizado várias atividades online para conscientizar sobre o tema, incluindo palestras e rodas de conversa. Segundo Alvarenga, o Setembro Amarelo é um meio de despertar nas pessoas a necessidade de conversar sobre o suicídio. “Um estudo realizado pela Unicamp aponta que 17% dos brasileiros já pensaram em tirar a própria vida. Desse total, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. Isso quer dizer que em uma sala com 30 pessoas, cinco delas já pensaram sobre o suicídio”, alerta.

De acordo com Alvarenga, nesses casos é muito importante conversar com a pessoas e disponibilizar algum serviço de apoio emocional, principalmente quando apresentarem os sinais de alerta. “O suicídio é um ato de desespero. A pessoa que busca esse caminho está procurando uma saída. E a maioria das vezes isso pode ser resolvido em uma conversa, ouvindo a pessoa com respeito e compreensão, sem julgamento. Conforme a pessoa vai desabafando, ela vai se reorganizando. Isso pode salvar vidas”, finaliza. (Jéssica Nascimento)

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