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Sem captação, BOS fica sem córneas

15 de Agosto de 2020 às 00:01
Ana Claudia Martins [email protected]

Sem captação, BOS fica sem córneas Segundo o hospital, os transplantes de córnea estão suspensos por ordem governamental. Crédito da foto: Fábio Rogério (14/8/2020)

O Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) está praticamente sem córneas por conta da suspensão da captação e doações, em função da pandemia do coronavírus. A informação foi divulgada na manhã desta sexta-feira (14) pelo próprio BOS.

O Banco destaca ainda que os transplantes eletivos de córneas estão suspensos por determinação governamental, o que já aumentou significativamente a fila de espera pelo procedimento. “Em todo o Estado, o governo restringiu drasticamente, desde 23 de março deste ano, os protocolos para captação de órgãos e tecidos, o que fez com que as doações caíssem para perto de zero (2% na região atendida pelo BOS, em julho deste ano). No que se refere especificamente aos tecidos, que abrangem as córneas, somente podem ser captadas aquelas cujo doador tenha constatada morte encefálica”, informa o BOS.

Sem córneas para os transplantes, a projeção da fila no Estado, que antes da pandemia era de até 10 meses, já chega a quase cinco anos (55 meses). De 2.500 pessoas que estavam na fila, atualmente há 3.174.

Somente na região que envolve o BOS, o número de pessoas inscritas saltou de 478 para 747. As captações de córnea também estão praticamente paradas. “Antes do problema, a média de captações de córneas mensais era de 1.236 no Estado e 930 pelo BOS, sendo que, agora, está em 94 e apenas 20, respectivamente, no último mês de julho”, aponta o BOS.

Ainda conforme o Banco, a situação nunca antes foi enfrentada desde sua fundação há mais de 40 anos, e já há risco de faltar córnea para transplante de urgência.

O BOS afirma que aguarda a determinação do Sistema Estadual de Transplantes para a retomada das atividades de captação e transplante de córnea. Já o governo informa que por conta da pandemia, medidas de segurança e novos protocolos foram adotados. Os hospitais seguem os protocolos de triagem clínica dos potenciais doadores, realizando testes para Covid-19 antes de qualquer procedimento, prezando pela segurança dos profissionais de saúde e pacientes receptores. Conforme protocolo do SUS, pessoas com diagnóstico da doença com menos de 28 dias da regressão completa dos sintomas não podem ser doadores de órgãos.

Por orientação do Sistema Nacional de Transplantes, as captações de tecidos, como córneas, estão temporariamente suspensas durante a pandemia.

O superintendente do grupo BOS, Edil Vidal, lamenta a posição em que se encontra o País no setor de saúde ocular e afirma que já estava temendo a possibilidade extrema da necessidade de ter que importar córneas.

Situação prejudica pacientes

O BOS afirma que atualmente existem somente alguns tecidos disponíveis na unidade do BOS na capital, localizada no Hospital Municipal do Tatuapé. Ainda assim, as poucas córneas existentes estão sendo conservadas em meio não ideal (glicerina) para que durem mais tempo, já que estão com seus usos severamente restritos pelos órgãos de saúde.

Porém, da forma como estão sendo mantidas, elas perdem sua qualidade e características, tornando-se meramente “paliativas”. Isto significa que, se um paciente precisar receber uma dessas córneas disponíveis atualmente, certamente ele terá que passar por um novo transplante depois, para trocar por outra com condições perfeitas”, afirma o BOS.

Além disso, ainda há casos de pacientes que tiveram suas condições clínicas alteradas em função do tempo prolongado que permanecem na espera. “Além do risco cirúrgico maior, no sentido de ser uma cirurgia mais complexa, com mais pontos e tempo de olho aberto, esse paciente passa a ter um risco maior de rejeição”, afirma a oftalmologista, diretora médica e coordenadora da área de ensino em Oftalmologia do BOS, Adriana Forseto. (Ana Cláudia Martins)